A Trindade Santíssima no Velho Testamento

“Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses diante de mim”. (Êxodo 20:2-3)

“Na unidade da Divindade há três pessoas de uma mesma substância, poder e eternidade – Deus o Pai, Deus o Filho e Deus o Espírito Santo”. (Confissão de Fé de Westminster, 2:3)

O Antigo Testamento claramente ensina que não existe outro deus além do SENHOR que libertou o povo de Israel da escravidão do Egito e por isso que não devemos adorar e servir a nenhum outro:

Não haverá entre ti deus alheio, nem te prostrarás ante um deus estranho. Eu sou o SENHOR teu Deus, que te tirei da terra do Egito”. (Salmo 81.10)

“Eu anunciei, e eu salvei, e eu o fiz ouvir, e deus estranho não houve entre vós, pois vós sois as minhas testemunhas, diz o SENHOR; eu sou Deus”. (Isaías 43.12)

“Assim diz o SENHOR, Rei de Israel, e seu Redentor, o SENHOR dos Exércitos: Eu sou o primeiro, e eu sou o último, e fora de mim não há Deus”. (Isaías 44.6)

“E quem proclamará como eu, e anunciará isto, e o porá em ordem perante mim, desde que ordenei um povo eterno? E anuncie-lhes as coisas vindouras, e as que ainda hão de vir. Não vos assombreis, nem temais; porventura desde então não vo-lo fiz ouvir, e não vo-lo anunciei? Porque vós sois as minhas testemunhas. Porventura há outro Deus fora de mim? Não, não há outra Rocha que eu conheça”. (Isaías 44.7-8)

Isso é o mesmo que o Novo Testamento ensina:

“Deus é um só”. (Romanos 3.30)

“Crês tu que Deus é um só? Fazes bem”. (Tiago 2.19)

Mas, além de ensinar que há um único Deus, o Antigo Testamento ensina também que nesta Divindade única subsistem três pessoas – o SENHOR, o Anjo do SENHOR e o Espírito Santo. A pessoa do Anjo do SENHOR é Aquele que no Novo Testamento apresenta como Jesus Cristo, o Messias.

A palavra que traduzimos como “anjo” no Antigo Testamento é a palavra malak (מלאך) no hebraico. Significa literalmente “mensageiro” e não é usada na Bíblia somente para identificar as criaturas celestes, como querubins e serafins, que normalmente chamamos de anjos:

“Então veio um mensageiro (malak) a Saul, dizendo: Apressa-te, e vem, porque os filisteus com ímpeto entraram na terra”. (I Samuel 23:27)

“Então Ageu, o mensageiro (malak) do SENHOR, falou ao povo conforme a mensagem do SENHOR, dizendo: Eu sou convosco, diz o SENHOR”. (Ageu 1:13)

“Minha aliança com ele foi de vida e de paz, e eu lhas dei para que temesse; então temeu-me, e assombrou-se por causa do meu nome. A Lei da verdade esteve na sua boca, e a iniqüidade não se achou nos seus lábios; andou comigo em paz e em retidão, e da iniqüidade converteu a muitos. Porque os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento, e da sua boca devem os homens buscar a Lei porque ele é o mensageiro (malak) do SENHOR dos Exércitos”. (Malaquias 2:5-7)

Em I Samuel 23:27, foi um mensageiro enviado para avisar sobre a chegada dos filisteus. Em Ageu 1:13, o mensageiro de Deus é o próprio profeta Ageu. Malaquias 2:7, os mensageiros são os sacerdotes levitas. Ou seja, nas três passagens a malak refere-se a mensageiros humanos. Todavia, como veremos a seguir, em outras passagens, não se refere a criaturas de Deus, mas ao próprio Deus:

“E apascentava Moisés o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote em Midiã; e levou o rebanho atrás do deserto e veio ao monte de Deus, a Horebe. E apareceu-lhe o Anjo (malak) do SENHOR em uma chama de fogo, no meio de uma sarça; e olhou, e eis que a sarça ardia no fogo, e a sarça não se consumia. E Moisés disse: Agora me virarei para lá e verei esta grande visão, porque a sarça se não queima. E, vendo o SENHOR que se virava para lá a ver, bradou Deus a ele do meio da sarça e disse: Moisés! Moisés! E ele disse: Eis-me aqui. E disse: Não te chegues para cá; tira os teus sapatos de teus pés; porque o lugar em que tu estás é terra santa. Disse mais: Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó. E Moisés encobriu o seu rosto, porque temeu olhar para Deus”. (Êxodo 3.1-6)

Aqui há duas coisas muito importantes. Primeiro, o Anjo (malak) do SENHOR se apresenta como sendo o próprio Deus de Abraão, Isaque e Jacó. Mas ao mesmo tempo em que se identifica como sendo o próprio Deus, existe alguma distinção pessoal, pois Ele é o Anjo (malak) do SENHOR, isto é, o Mensageiro do SENHOR. Em outras palavras, Ele é o próprio SENHOR e ao mesmo tempo é o Mensageiro do SENHOR. Como será demonstrado no decorrer deste estudo, o Antigo Testamento consistentemente apresenta o Anjo do SENHOR desta forma, como uma pessoa que é o próprio Deus, o SENHOR, e que, ao mesmo tempo, é pessoalmente distinto do SENHOR. Êxodo 3.1-6 não é a primeira vez que O encontramos na Bíblia. No livro de Gênesis também lemos sobre Ele:

“E o Anjo (malak: mensageiro) do SENHOR a achou junto a uma fonte de água no deserto, junto à fonte no caminho de Sur. E disse: Agar, serva de Sarai, de onde vens e para onde vais? E ela disse: Venho fugida da face de Sarai, minha senhora. Então, lhe disse o Anjo do SENHOR: Torna-te para tua senhora e humilha-te debaixo de suas mãos. Disse-lhe mais o Anjo do SENHOR: Multiplicarei sobremaneira a tua semente, que não será contada, por numerosa que será. Disse-lhe também o Anjo do SENHOR: Eis que concebeste, e terás um filho, e chamarás o seu nome Ismael, porquanto o SENHOR ouviu a tua aflição. E ele será homem bravo; e a sua mão será contra todos, e a mão de todos, contra ele; e habitará diante da face de todos os seus irmãos. E ela chamou o nome do SENHOR, que com ela falava: Tu és Deus da vista…”(Genesis 16:7-13)

Aqui vemos que, ao mesmo tempo em que o Anjo do SENHOR se refere ao SENHOR na terceira pessoa (“portanto o SENHOR ouviu a tua aflição”), algo que indica distinção de pessoas, o v. 13 O identifica como sendo o próprio SENHOR e Deus: “E ela chamou o nome do SENHOR, que com ela falava: Tu és Deus da vista”.

Em Gênesis 20.2, Deus ordena que Abraão sacrifique Isaque:

“E aconteceu, depois destas coisas, que provou Deus a Abraão e disse-lhe: Abraão! E ele disse: Eis-me aqui. E disse: Toma agora o teu filho, o teu único filho, Isaque, a quem amas, e vai-te à terra de Moriá; e oferece-o ali em holocausto sobre uma das montanhas, que eu te direi”. (Genesis 22.1-2)

Mas no momento do holocausto, é dito:

“Mas o Anjo do SENHOR lhe bradou desde os céus e disse: Abraão, Abraão! E ele disse: Eis-me aqui. Então, disse: Não estendas a tua mão sobre o moço e não lhe faças nada; porquanto agora sei que temes a Deus e não me negaste o teu filho, o teu único… Então, o Anjo do SENHOR bradou a Abraão pela segunda vez desde os céus e disse: Por mim mesmo, jurei, diz o SENHOR, porquanto fizeste esta ação e não me negaste o teu filho, o teu único, que deveras eu te abençoarei e grandissimamente multiplicarei a tua semente como as estrelas dos céus e como a areia que está na praia do mar; e a tua semente possuirá a porta dos seus inimigos”.(Genesis 22.11-12,15-17)

Novamente, ao mesmo tempo em que o Anjo do Senhor se refere a Deus na terceira pessoa (“agora sei que temes a Deus”, “diz o SENHOR”), Ele se identifica como sendo o próprio Deus que havia ordenado o sacrifício e a quem o sacrifício seria feito (“não me negaste o teu filho” (v. 12). Ainda no livro de Gênesis, lemos sobre a luta de Jacó:

“Jacó, porém, ficou só; e lutava com ele um homem até o romper do dia. Quando este viu que não prevalecia contra ele, tocou-lhe a juntura da coxa, e se deslocou a juntura da coxa de Jacó, enquanto lutava com ele. Disse o homem: Deixa-me ir, porque já vem rompendo o dia. Jacó, porém, respondeu: Não te deixarei ir, se me não abençoares… Dize-me, peço-te, o teu nome. Respondeu o homem: Por que perguntas pelo meu nome? E ali o abençoou. Pelo que Jacó chamou ao lugar Peniel, dizendo: Porque tenho visto Deus face a face, e a minha vida foi preservada”. (Gênesis 32:24-30)

Em Oséias lemos o seguinte sobre essa luta:

“O SENHOR também com Judá tem contenda, e castigará Jacó segundo os seus caminhos; segundo as suas obras o recompensará. No ventre pegou do calcanhar de seu irmão, e na sua força lutou com Deus. Lutou com o Anjo (malak), e prevaleceu; chorou, e lhe suplicou; em Betel o achou, e ali falou conosco, Sim, o SENHOR, o Deus dos Exércitos; o SENHOR é o seu memorial”.(Oséias 12:2-5)

Por que aqui é dito que Jacó lutou com Deus e logo em seguida que ele lutou com o Anjo? Porque ele lutou com o Anjo do SENHOR, que é o próprio SENHOR. Por isso, em Gênesis 32:30, Jacó diz: “Porque tenho visto Deus face a face, e a minha vida foi preservada”. No livro de Gênesis lemos sobre como Ele apareceu a Jacó em sonho e explicitamente se identificou como sendo Deus:

“E sucedeu que, ao tempo em que o rebanho concebia, eu levantei os meus olhos e vi em sonhos, e eis que os bodes, que cobriam as ovelhas, eram listrados, salpicados e malhados. E disse-me o Anjo de Deus em sonhos: Jacó! E eu disse: Eis-me aqui. E disse ele: Levanta agora os teus olhos e vê todos os bodes que cobrem o rebanho, que são listrados, salpicados e malhados; porque tenho visto tudo o que Labão te fez. Eu sou o Deus de Betel, onde tens ungido uma coluna, onde me fizeste um voto; levanta-te agora, sai-te desta terra e torna-te à terra da tua parentela”. (Gênesis 31:10-13)

Claramente, o Anjo de Deus se identificou, no sonho de Jacó, como sendo o “Deus de Betel”, da mesma forma como, em Êxodo 3.1-6, Ele havia dito ser o Deus de Abraão, Isaque e Jacó.

No livro de Juízes, novamente encontramos o Anjo do Senhor se identificando com Aquele que tinha libertado os israelitas da escravidão do Egito:

“E subiu o Anjo do SENHOR de Gilgal a Boquim, e disse: Do Egito vos fiz subir, e vos trouxe à terra que a vossos pais tinha jurado e disse: Nunca invalidarei a minha aliança convosco. E, quanto a vós, não fareis acordo com os moradores desta terra, antes derrubareis os seus altares; mas vós não obedecestes à minha voz. Por que fizestes isso? Assim também eu disse: Não os expulsarei de diante de vós; antes estarão como espinhos nas vossas ilhargas, e os seus deuses vos serão por laço. E sucedeu que, falando o Anjo do SENHOR estas palavras a todos os filhos de Israel, o povo levantou a sua voz e chorou”. (Juízes 2:1-4)

Aqui o Anjo do SENHOR se identifica como aquele que libertou o povo da escravidão do Egito (“Do Egito vos fiz subir”) e também diz que a aliança foi feita com Ele sob juramento (“vos trouxe à terra que a vossos pais tinha jurado e disse: Nunca invalidarei a minha aliança convosco”). No Êxodo, lemos sobre como o Anjo do SENHOR fez isso:

“E o SENHOR ia adiante deles, de dia numa coluna de nuvem para os guiar pelo caminho, e de noite numa coluna de fogo para os iluminar, para que caminhassem de dia e de noite. Nunca tirou de diante do povo a coluna de nuvem, de dia, nem a coluna de fogo, de noite”. (Êxodo 13:21-22)

“E eis que endurecerei o coração dos egípcios, e estes entrarão atrás deles; e eu serei glorificado em Faraó e em todo o seu exército, nos seus carros e nos seus cavaleiros, E os egípcios saberão que eu sou o SENHOR, quando for glorificado em Faraó, nos seus carros e nos seus cavaleiros. E o Anjo de Deus, que ia diante do exército de Israel, se retirou, e ia atrás deles; também a coluna de nuvem se retirou de diante deles, e se pós atrás deles. E ia entre o campo dos egípcios e o campo de Israel; e a nuvem era trevas para aqueles, e para estes clareava a noite; de maneira que em toda a noite não se aproximou um do outro. Então Moisés estendeu a sua mão sobre o mar, e o SENHOR fez retirar o mar por um forte vento oriental toda aquela noite; e o mar tornou-se em seco, e as águas foram partidas. E os filhos de Israel entraram pelo meio do mar em seco; e as águas foram-lhes como muro à sua direita e à sua esquerda”. (Êxodo 14:17-22)

Então, em Êxodo 13:21-22 lemos que “o SENHOR ia adiante deles, de dia numa coluna de nuvem para os guiar pelo caminho, e de noite numa coluna de fogo para os iluminar”, mas no capítulo seguinte lemos que era “o Anjo de Deus, que ia diante do exército de Israel”. Ou seja, o Anjo de Deus era o próprio SENHOR que já havia se revelado a Moisés como sendo o Deus de Abraão, Isaque e Jacó (Êxodo 3:1-6). O SENHOR e o Anjo do SENHOR são um único Deus, pois, como o Antigo Testamento repetidamente ensina, há um único Deus. Ao mesmo tempo são consistentemente tratados como pessoas distintas. O Anjo do SENHOR é um mensageiro enviado da parte do SENHOR.

Além disso, o Antigo Testamento também fala continuamente no Espírito do SENHOR:

“No princípio criou Deus os céus e a terra. E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas”. (Gênesis 1:1-2)

“Então disse o SENHOR: Não contenderá o meu Espírito para sempre com o homem; porque ele também é carne; porém os seus dias serão cento e vinte anos”. (Gênesis 6:3)

“Depois falou o SENHOR a Moisés, dizendo: Eis que eu tenho chamado por nome a Bezalel, o filho de Uri, filho de Hur, da tribo de Judá, E o enchi do Espírito de Deus, de sabedoria, e de entendimento, e de ciência, em todo o lavor, Para elaborar projetos, e trabalhar em ouro, em prata, e em cobre, E em lapidar pedras para engastar, e em entalhes de madeira, para trabalhar em todo o lavor”. (Êxodo 31:1-5)

Há uma passagem de Isaías que é especialmente significante:

“As benignidades do SENHOR mencionarei, e os muitos louvores do SENHOR, conforme tudo quanto o SENHOR nos concedeu; e grande bondade para com a casa de Israel, que usou com eles segundo as suas misericórdias, e segundo a multidão das suas benignidades. Porque dizia: Certamente eles são meu povo, filhos que não mentirão; assim ele se fez o seu Salvador. Em toda a angústia deles ele foi angustiado, e o Anjo da sua presença os salvou; pelo seu amor, e pela sua compaixão ele os remiu; e os tomou, e os conduziu todos os dias da antiguidade. Mas eles foram rebeldes, e contristaram o seu Espírito Santo; por isso se lhes tornou em inimigo, e ele mesmo pelejou contra eles”. (Isaías 63:7-10)

Essa passagem é realmente surpreendente. No contexto, ele está narrando o que Deus fez pelo povo de Israel no deserto. A passagem menciona o nome do SENHOR exatamente três vezes: “As benignidades do SENHOR mencionarei, e os muitos louvores do SENHOR, conforme tudo quanto o SENHOR nos concedeu” (v. 7). Em seguida, a passagem refere-se à cada uma das pessoas da Santíssima Trindade. Primeiro, Deus se identifica como o Pai: “Certamente eles são meu povo, filhos que não mentirão” (v. 8). Alguns versos, o mesmo conceito é reafirmado: “Mas tu és nosso Pai, ainda que Abraão não nos conhece, e Israel não nos reconhece; tu, ó SENHOR, és nosso Pai; nosso Redentor desde a antiguidade é o teu nome”. (Is 63:16) Segundo, o texto refere-se ao Anjo do Senhor. O Anjo do SENHOR, como já foi demonstrado na narrativa do Êxodo da qual Isaías está falando, é o próprio Deus. Aqui ele é identificado como o Salvador:  “… e o Anjo da sua presença os salvou; pelo seu amor, e pela sua compaixão ele os remiu”. A Divindade do Anjo é reafirmada também pelo fato do Isaías dizer que não há outro Salvador exceto o próprio Deus:

“Vós sois as minhas testemunhas, diz o SENHOR, e meu servo, a quem escolhi; para que o saibais, e me creiais, e entendais que eu sou o mesmo, e que antes de mim deus nenhum se formou, e depois de mim nenhum haverá. Eu, eu sou o SENHOR, e fora de mim não há Salvador. Eu anunciei, e eu salvei, e eu o fiz ouvir, e deus estranho não houve entre vós, pois vós sois as minhas testemunhas, diz o SENHOR; eu sou Deus”. (Isaías 43:10-12)

“Congregai-vos, e vinde; chegai-vos juntos, os que escapastes das nações; nada sabem os que conduzem em procissão as suas imagens de escultura, feitas de madeira, e rogam a um deus que não pode salvar. Anunciai, e chegai-vos, e tomai conselho todos juntos; quem fez ouvir isto desde a antiguidade? Quem desde então o anunciou? Porventura não sou eu, o SENHOR? Pois não há outro Deus senão eu; Deus justo e Salvador não há além de mim”. (Isaías 45:20-21)

E depois de identificar o Anjo do SENHOR como o Salvador, Isaías 63 fala do Espírito Santo: “Mas eles foram rebeldes, e contristaram o seu Espírito Santo; por isso se lhes tornou em inimigo, e ele mesmo pelejou contra eles” (Is 63:10). Isaías, então, na mesma passagem, refere-se às três pessoas da Santíssima Trindade – o Pai, o Anjo do Senhor e o Espírito Santo. O Antigo Testamento, de Gênesis a Malaquias, consistentemente apresenta o Deus único assim. Além destas três pessoas, nenhum outro, é jamais apresentado como sendo o SENHOR Deus no Antigo Testamento. Sendo assim, a ideia que o Antigo Testamento apresenta Deus como sendo uma única pessoa ou que isso foi introduzido somente pelo Novo Testamento é inteiramente falsa.

A última vez que ouvimos falar do Anjo do SENHOR no Antigo Testamento é no livro de Malaquias:

“Eis que eu envio o meu mensageiro (malak), que preparará o caminho diante de mim; e de repente virá ao seu templo o Senhor, a quem vós buscais; e o Anjo da Aliança (malak), a quem vós desejais, eis que ele vem, diz o SENHOR dos Exércitos. Mas quem suportará o dia da sua vinda? E quem subsistirá, quando ele aparecer? Porque ele será como o fogo do ourives e como o sabão dos lavandeiros”. (Malaquias 3:1-2)

Aqui o profeta fala de dois mensageiros. A palavra para se referir aos dois é a mesma no hebraico – malak. Nos dois casos, a palavra pode ser traduzida como anjo, que significa mensageiro. O primeiro mensageiro é identificado como alguém que prepara o caminho para o SENHOR – “Eis que eu envio o meu mensageiro (malak), que preparará o caminho diante de mim” (v. 1). No Novo Testamento, somos informados que esse mensageiro (malak) foi João Batista:

“Princípio do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus; Como está escrito nos profetas: Eis que eu envio o meu anjo ante a tua face, o qual preparará o teu caminho diante de ti. Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, Endireitai as suas veredas. Apareceu João batizando no deserto, e pregando o batismo de arrependimento, para remissão dos pecados”. (Marcos 1:1-4)

“E, partindo eles, começou Jesus a dizer às turbas, a respeito de João: Que fostes ver no deserto? uma cana agitada pelo vento? Sim, que fostes ver? um homem ricamente vestido? Os que trajam ricamente estão nas casas dos reis. Mas, então que fostes ver? um profeta? Sim, vos digo eu, e muito mais do que profeta; Porque é este de quem está escrito: Eis que diante da tua face envio o meu anjo, que preparará diante de ti o teu caminho”. (Mateus 11:7-10)

Isso, por si só, demonstra a Divindade de Jesus Cristo. Em Malaquias, Deus diz que o mensageiro, que é João Batista, prepararia o caminho para Ele. No Novo Testamento, encontramos João Batista preparando o caminho para Jesus. Isso demonstra que Jesus é Deus. Mas Malaquias falou ainda de um segundo mensageiro: “… e de repente virá ao seu templo o Senhor, a quem vós buscais; e o Anjo da Aliança (malak), a quem vós desejais, eis que ele vem, diz o SENHOR dos Exércitos” (Malaquias 3:1). Nestes versos, “o Senhor” (Adonai) e o Anjo da Aliança são a mesma pessoa. Ou seja, o Anjo da Aliança, que o Antigo Testamento consistentemente identifica como sendo Deus, não é outro se não Jesus Cristo, o Messias prometido!

Por isso, assim como o Antigo Testamento reconhece que há um único Deus – o Pai, o Anjo do Senhor e o Espírito Santo ­- o Novo Testamento também ensina que há um único Deus – o Pai, o Filho (que é o Anjo do SENHOR encarnado) e o Espírito Santo. Os dois Testamentos ensinam, não somente que há um só Deus, mas ensinam também que este Deus único não existe como uma única pessoa. A ideia de que existe o verdadeiro Deus é uma única pessoa é pagã. Não é o Deus do Antigo Testamento e nem do Novo Testamento. Os judeus que rejeitam este fato e dizem que Deus é uma única pessoa devem ser reconhecidos como quem rejeitou a fé dos patriarcas e dos antigos profetas. O testemunho bíblico dos antigos patriarcas e profetas, como foi demonstrado, é claro que eles não só criam em um único Deus, mas criam que Ele existe como mais de uma pessoa.

Além destas três pessoas – o Pai, o Anjo/Filho e o Espírito Santo, nenhum outro é jamais identificado ou adorado nas Escrituras como o verdadeiro Deus! A este Deus – uno e trino – seja dado toda a glória!

Como escreveu João Calvino:

Não vejo com que sutilezas possam os judeus evitar o fato de que, com tanta freqüência, na Escritura o Senhor se apresenta na pessoa de um Anjo. Diz-se haver aparecido um Anjo aos santos patriarcas. O mesmo atribui a si o nome do Deus Eterno. Se alguém objeta, dizendo que isto se diz com respeito à função que o anjo desempenhava, a dificuldade de modo algum fica assim resolvida. Pois um servo não iria arrebatar de Deus sua honra, permitindo que lhe fosse oferecido um sacrifício. Com efeito, negando-se a haver de comer pão, o Anjo ordena que o sacrifício fosse oferecido ao Senhor [Juízes 13:16]. A seguir [Juízes 13:20], prova, pelo próprio fato, que ele é realmente o Senhor. Desse modo, Manoá e a esposa concluem, desta evidência, que haviam visto não simplesmente um anjo, mas a Deus. Daí esta exclamação: ‘Haveremos de morrer, porque vimos a Deus’ [Juízes 13:22]. Quando, porém, a esposa responde: ‘Se o Senhor nos quisesse matar, não teria recebido de nossa mão o sacrifício’ [Juízes 13:23], confessa com certeza que aquele que antes disse ser um ajo era realmente Deus. Além disso, agrega que a própria resposta do Anjo dirime toda dúvida: ‘Por que perguntas por meu nome, que é maravilhoso?’ [Juízes 13:18].

Tanto mais abominável foi a impiedade de Serveto, quando asseverou que Deus jamais se manifestara a Abraão e aos demais patriarcas; ao contrário, em seu lugar fora adorado um anjo. Reta e sabiamente, porém, os doutores ortodoxos da Igreja interpretaram que esse Anjo era Príncipe, a Palavra de Deus, que já então, em um como que prelúdio, começou a exercer o ofício de Mediador. Ora, se bem que ele ainda não havia se revestido da carne, contudo desceu como um, por assim dizer, intermediário, para que se achegasse mais intimamente aos fiéis. Portanto, esta comunicação mais íntima lhe valeu o nome de Anjo, enquanto retinha o que lhe era peculiar: ser ele o Deus da glória inefável.

O mesmo entende Oséias que, após recontar a luta que Jacó sustentou com o Anjo, diz: ‘O Senhor é o Deus dos Exércitos; o Senhor, seu nome é um memorial perpétuo’ (Oséias 12:5). Serveto rosna novamente, dizendo que Deus havia tomado a pessoa de um anjo. Como se, afinal, o Profeta não estivesse a confirmar o que fora dito por Moisés (Gênesis 32:29, 30): ‘Por que perguntas por meu nome?’ E a confissão do santo Patriarca, quando diz: ‘Vi a Deus face a face’ (Gênesis 32:29, 30), suficientemente declara que não se tratava de um anjo criado, mas Aquele em quem residia a plena Deidade. Daqui também essa afirmação de Paulo (1 Coríntios 10:4), de que Cristo fora o guia do povo no deserto, visto que, embora ainda não fosse vindo o tempo de sua humilhação, contudo aquela Palavra eterna propôs uma prefiguração de seu ofício, a que fora destinado. Ora, se porventura for examinado, sem contenda, o primeiro capítulo de Zacarias, e o segundo, o Anjo que envia outro anjo (Zacarias 2:3) é o mesmo imediatamente cognominado o Deus dos Exércitos, e lhe é atribuído poder supremo.

Deixo de considerar inúmeros testemunhos nos quais, com plena segurança, se nos arrima a fé, a despeito de que os judeus não se deixam mover de modo algum. Quando, pois, se diz em Isaías 25:9: ‘Eis, este é o nosso Deus, este é o Senhor: nele esperaremos e ele nos preservará’, é evidente aos que são dotados de olhos que a referência é a Deus, que se levanta de novo para a salvação de seu povo. E essas expressões enfáticas, duplamente repetidas, não permitem aplicar-se isto a outro senão a Cristo.

Ainda mais clara e taxativa é a passagem de Malaquias 3.1 em que promete que o Dominador, que era então buscado, haveria de vir a seu templo. Sem dúvida que somente ao Deus supremo foi sagrado o templo, o que, no entanto, o Profeta reivindica para Cristo. Do quê se segue que Cristo é o mesmo Deus que foi sempre adorado entre os judeus. (Institutas da Religião Cristã, 1:13:10)

 

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