Princípios de Interpretação para Solucionar Supostas Contradições Bíblicas (II): Considerações sobre a Passagem de Tempo

Quando narramos um conjunto de acontecimentos, frequentemente narramos o que aconteceu sem dizer quanto tempo passou entre um acontecimento e outro. Além disso, frequntemente deixamos de mencionar a existência de outros acontecimentos que ocorreram entre um acontecimento e outro.

Para entendermos melhor, considere o seguinte exemplo:

Ao chegar em uma determinada festa, eu conversei, primeiro, com João, segundo, com Maria, terceiro, com Carla e, por último, com Fábio.

Agora, vamos supor que, no dia seguinte, você me pergunta: “Como foi a festa?” É possível que eu responda: “A festa foi boa. Eu conversei com João. Depois, conversei também com Carla”. Minha resposta (narrativa) contradiz o que realmente aconteceu? Não, pois eu não disse que conversei somente com João e com Carla. O fato de eu mencionar que conversei com os dois não significa que eu conversei somente com os dois. Além disso, eu não disse que conversei com Carla imediatamente depois de conversar com João. Eu disse que foi depois. Mas “depois” pode signficar meia hora depois, uma hora depois, duas horas depois, etc. Eu não determinei quanto tempo depois. Além disso, eu não disse que entre uma conversa e outra, entre a conversa com João e com Carla, eu não conversei com outras pessoas.

Vamos considerar outro exemplo. Considere as duas narrativas:

a – “Convidei João para a festa, mas ele disse que não poderia ir”.

b – “Enviei uma mensagem no WhatsApp para João convidando ele para a festa. Ele não respondeu minha mensagem. Eu liguei para ele, mas ele não atendeu. Depois de uma semana, ele respondeu a mensagem dizendo que não poderia ir”.

As duas narrativas se contradizem? Não. Elas dizem exatamente a mesma coisa? Também não. A narrativa (b) dá mais detalhes do que a narrativa (a), mas os detalhes adicionais não contradizem as informações contidas na narrativa (a). Além disso, é importante perceber que a narrativa (a) diz somente que o convite foi feito e que João não aceitou o convite, mas não diz quanto tempo passou entre uma coisa e outra. A narrativa (b) diz que existiu uma semana entre uma coisa e outra e que, entre os dois acontecimentos, existiu uma ligação. É possível que o leitor, ao ler a narrativa (a), fique com a impressão de que o convite e a resposta aconteceu no mesmo instante, mas isso não é algo que a própria narrativa diz.

Nenhuma narrativa é um relato exaustivo de tudo o que aconteceu, mas é uma seleção dos elementos que julgamos relevantes e importantes o suficiente para serem mencionados.

Repetindo: Quando narramos um conjunto de acontecimentos, frequentemente narramos o que aconteceu sem dizer quanto tempo passou entre um acontecimento e outro. Além disso, frequntemente deixamos de mencionar a existência de outros acontecimentos que ocorreram entre um acontecimento e outro. Não há contradição quando nossas palavras não excluem a possibilidade de outros acontecimentos ou quando não excluem intervalos de tempo entre uma coisa e outra.

 

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