O Que os Padrões de Westminster Ensinam Sobre Escatologia? (parte 1)

Historicamente, os Padrões de Westminster são o padrão confessional do presbiterianismo. Ou seja, são os documentos que apresentam oficialmente o que o presbiterianismo professa em relação às Escrituras. São conhecidos como Padrões de Westminster porque foram produzidos pela Assembleia de Westminster na Inglaterra. Dentre os documentos que a Assembleia de Westminster produziu, os mais famosos são a Confissão de Fé, o Catecismo Maior e o Breve Catecismo. Mas eles também produziram outros importantes documentos complementares: o Diretório de Culto Público, o Diretório de Culto Familiar e a Forma de Governo da Igreja. Esses documentos são as principais fontes que devemos consultar para determinar os posicionamentos dos Padrões de Westminster sobre qualquer assunto, incluindo a Escatologia.

OS PADRÕES DE WESTMINSTER SÃO INCOMPATÍVEIS COM TODAS AS VERTENTES DE PRÉ-MILENISMO

O pré-milenismo é a corrente escatológica mais difundida entre as igrejas brasileiras em nossos dias. Defende que a maioria das profecias do Apocalipse se cumprirá um pouco antes do fim do mundo e baseia-se numa leitura literal de Apocalipse 20. Costumam defender também que no decorrer da história até a Segunda Vinda, há um aumento progressivo de pecado, sofrimento, desastres naturais, guerras e perseguições aos fiéis, até que, por fim, a personificação de toda a iniquidade se manifestará na pessoa do Anticristo. Depois que ele tiver consumado o domínio da iniquidade no mundo, acontecerá a Segunda Vinda de Cristo em triunfo para estabelecer um reino de mil anos na terra. Os santos mortos ressuscitarão com os corpos glorificados, mas não os ímpios. O reino será inaugurado pela prisão de Satanás de maneira que ele não possa mais exercer qualquer influencia sobre a terra. Jerusalém será restaurada e servirá de sede para um Império mundial de Cristo. Será um período de grande justiça, paz e prosperidade em todo o mundo. Todavia, não será um mundo absolutamente perfeito. Ainda haverá pecadores. Mas será uma minoria e todo pecado será rapidamente reprimido por Cristo. Defendem também que depois dos mil anos, Satanás será solto por um breve tempo e tentará incitar pessoas do mundo inteiro a se rebelar contra Cristo e guerrear contra Jerusalém. É somente ai que acontecerá o Juízo Final pelo qual os fiéis entrarão no Novo Céu e Nova Terra enquanto os ímpios serão entregues a condenação eterna assim como o Diabo e os demais demônios.

O pré-milenismo é incompatível com os Padrões de Westminster por diversas razões:

1 – A Confissão de Fé, no capítulo 32, seção 1, ensina que, depois da morte, “as almas dos justos, sendo então aperfeiçoadas na santidade, são recebidas no mais alto dos céus onde vêm a face de Deus em luz e glória, esperando a plena redenção dos seus corpos; e as almas dos ímpios são lançadas no inferno, onde ficarão, em tormentos e em trevas espessas, reservadas para o juízo do grande dia final”. As seções 2 e 3 acrescenta que “no último dia, os que estiverem vivos não morrerão, mas serão mudados; todos os mortos serão ressuscitados… Os corpos dos injustos serão pelo poder de Cristo ressuscitados para a desonra, os corpos dos justos serão pelo seu Espírito ressuscitados para a honra e para serem semelhantes ao próprio corpo glorioso dele”. Isso contradiz o pré-milenismo, pois ensina que todos os mortos – justos ou ímpios – ressuscitarão no mesmo dia (seção 2), que será o dia do juízo final (seção 1), enquanto o pré-milenismo ensina que haverá um intervalo de mil anos entre a ressurreição dos justos e a ressurreição dos ímpios e que a ressurreição dos justos acontecerá mil anos antes do juízo final.

2 – A Confissão de Fé de Westminster ensina, no capítulo 33, que o juízo final, chamado de tribunal de Cristo, acontecerá na segunda vinda de Cristo, que é quando todos os homens – justos e ímpios – e também todos os demônios serão julgados. A seção 1 diz: “Deus já determinou um dia em que, segundo a justiça, há de julgar o mundo por Jesus Cristo, a quem foram pelo Pai entregues o poder e o juízo. Nesse dia não somente serão julgados os anjos apóstatas, mas também todas as pessoas que tiverem vivido sobre a terra comparecerão ante o tribunal de Cristo, a fim de darem conta dos seus pensamentos, palavras e obras, e receberem o galardão segundo o que tiverem feito, bom ou mau, estando no corpo”. A seção 2 reafirma que o juízo final, em que todos – homens e demônios – será na ocasião da segunda vinda de Cristo, pois a Confissão cita diretamente as palavras de 2 Tessaloniscenses, aplicando-as ao juízo final que tinha sido mencionado na seção anterior: “O fim que Deus tem em vista, determinando esse dia, é manifestar a sua glória – a glória da sua misericórdia na salvação dos eleitos e a glória da sua justiça na condenação dos réprobos, que são injustos e desobedientes. Os justos irão então para a vida eterna e receberão aquela plenitude de gozo e alegria procedente da presença do Senhor; mas os ímpios, que não conhecem a Deus nem obedecem ao Evangelho de Jesus Cristo, serão lançados nos eternos tormentos e punidos com a destruição eterna proveniente da presença do Senhor e da glória do seu poder”. A referência bíblica para essse trecho é 2 Tessaloniscenses:

“Sempre devemos, irmãos, dar graças a Deus por vós, como é justo, porque a vossa fé cresce muitíssimo e o amor de cada um de vós aumenta de uns para com os outros, De maneira que nós mesmos nos gloriamos de vós nas igrejas de Deus por causa da vossa paciência e fé, e em todas as vossas perseguições e aflições que suportais; Prova clara do justo juízo de Deus, para que sejais havidos por dignos do reino de Deus, pelo qual também padeceis; Se de fato é justo diante de Deus que dê em paga tribulação aos que vos atribulam, E a vós, que sois atribulados, descanso conosco, quando se manifestar o Senhor Jesus desde o céu com os anjos do seu poder, Como labareda de fogo, tomando vingança dos que não conhecem a Deus e dos que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo; Os quais, por castigo, padecerão eterna perdição, ante a face do Senhor e a glória do seu poder, Quando vier para ser glorificado nos seus santos, e para se fazer admirável naquele dia em todos os que crêem (porquanto o nosso testemunho foi crido entre vós)”. (2 Tessaloniscenses 1:3-10)

O pré-milenismo é, portanto, incompatível com o capítulo 33 da Confissão de Fé de Westminster, pois o pré-milenismo ensina que o juízo final acontecerá mil anos depois da segunda vinda Cristo e nega que todos os homens e anjos serão julgados na mesma ocasião.

3 – O Catecismo Maior ensina o mesmo sobre a segunda vinda de Cristo, sobre a ressurreição e sobre o juízo final:

“Devemos crer que no último dia haverá uma ressurreição geral dos mortos, dos justos e dos injustos; então os que se acharem vivos serão mudados em um momento, e os mesmos corpos dos mortos, que têm jazido na sepultura, estando então novamente unidos às suas almas para sempre, serão ressuscitados pelo poder de Cristo… Imediatamente depois da ressurreição se seguirá o juízo geral e final dos anjos e dos homens, o dia e a hora do qual homem nenhum sabe, para que todos vigiem, orem e estejam sempre prontos para a vinda do Senhor. No dia do juízo os ímpios serão postos à mão esquerda de Cristo, e sob clara evidência e plena convicção das suas próprias consciências terão pronunciada contra si a terrível, porem justa, sentença de condenação; então serão excluídos da presença favorável de Deus e da gloriosa comunhão com Cristo, com e seus santos, e com todos os santos anjos e lançados no inferno, para serem punidos com tormentos indizíveis, do corpo e da alma, com o diabo e seus anjos para sempre. No dia do juízo, os justos, sendo arrebatados para encontrar a Cristo nas nuvens, serão postas à sua destra e ali, abertamente, reconhecidos e justificados, se unirão com ele para julgar os réprobos, anjos e homens; e serão recebidos no céu, onde serão plenamente e para sempre libertados de todo o pecado e miséria, cheios de gozos inefáveis, feitos perfeitamente santos e felizes, no corpo e na alma, na companhia de inumeráveis santos e anjos, mas especialmente na imediata visão e fruição de Deus o Pai, de nosso Senhor Jesus Cristo e do Espírito Santo, por toda a eternidade. É esta a perfeita e plena comunhão de que os membros da Igreja invisível gozarão com Cristo em glória, na ressurreição e no dia do juízo“. (Catecismo Maior de Westminster, P. 87-90)

Claramente, essas perguntas do Catecismo Maior ensinam que a segunda vinda de Cristo, a ressurreição geral de justos e ímpios, o arrebatamento dos justos para encontrar a Cristo nas nuvens e a condenação de todos os demônios ao inferno acontece na mesma ocasião, sem um intervalo de mil anos entre algumas coisas e outras. As perguntas 87-90 do Catecismo Maior são inteiramente incompatíveis com todas as vertentes de pré-milenismo.

4 – A Forma de Governo da Igreja, outro importante documento produzido pela Assembleia de Westminster, ensina no Prefácio que Jesus Cristo já está reinando sobre o trono de Davi:

“Jesus Cristo, sobre cujos os ombros está o governo. O seu nome é Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai Eterno, Príncipe da Paz (Is 9:6,7), nele, governo e paz não terão fim em crescimento. Ele assenta-se no trono de Davi, e sobre seu reino ordena e estabelece juízo e justiça, desde agora e para sempre. Todo poder foi dado a Ele no céu e na terra, pelo Pai, que ergueu-O de entre os mortos, colocou-O a Sua destra, muito mais alto que todo principado, poder, potência, domínio, e, todo nome que se nomeia, não só neste mundo, mas também no que está por vir…”

Isso é incompatível com todas as vertentes de pré-milenismo que defendem que Jesus Cristo ainda não assenta-se no trono de Davi ou que seu reino sobre a terra só será inaugurado no futuro.

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