“Portanto, vos quero fazer compreender que ninguém que fala pelo Espírito de Deus diz: Jesus é anátema, e ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo. Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos”. (1 Coríntios 12:3-6)
Aqui o apóstolo Paulo ensinou aos Coríntios que uma das principais obras que o Espírito Santo opera no homem é produzir nele uma confissão de fé. “Ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo“. Ou seja, além de fazer com que as verdades sobre Jesus Cristo cheguem ao homem, o Espírito Santo opera na mente do homem para que ele creia nessas verdades em seu coração e confesse-as com sua boca. Essas são as duas partes de uma genuína confissão de fé – crer com o coração e confessar com a boca (cf. Romanos 10:9).
A ênfase de Paulo na confissão com a boca mostra que a verdadeira fé não é um mero sentimento subjetivo. O conteúdo da verdadeira fé pode ser verbalizado, isto é, definido objetivamente com palavras. Ou seja, o que o Espírito produz no homem é, primeiro, um entendimento em sua mente de quem Jesus realmente é, segundo, verdadeira confiança na pessoa dele e, terceiro, uma certa capacidade de articular verbalmente aquilo que foi interiormente compreendido e crido.
A confissão básica que o Espírito Santo produz no coração e na boca é “dizer que Jesus é o Senhor“. Como essa confissão é produzida pelo Espírito de Deus, o sentido da palavra “Senhor” é mesmo que encontramos em outras porções das Escrituras inspiradas pelo mesmo Espírito. Confessar que Jesus Cristo é o Senhor não é confessar uma palavra vazia, mas é confessar especificamente o que a Bíblia ensina sobre o significado de ser o Senhor.
COMO O ESPÍRITO SANTO PRODUZ UMA CONFISSÃO DE FÉ?
O apóstolo Paulo não somente ensinou que o Espírito Santo é aquele que produz uma confissão de fé em nós. Ele explicou também quais são os meios que o Espírito de Deus usa para produzir essa confissão. Os meios principais são a Palavra de Deus e os pregadores:
ROMANOS 10
(9) A saber: Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo.
(10) Visto que com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação.
(11) Porque a Escritura diz: Todo aquele que nele crer não será confundido.
(12) Porquanto não há diferença entre judeu e grego; porque um mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam.
(13) Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.
(14) Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem não ouviram? e como ouvirão, se não há quem pregue?
(15) E como pregarão, se não forem enviados? como está escrito: Quão formosos os pés dos que anunciam o evangelho de paz; dos que trazem alegres novas de boas coisas.
(16) Mas nem todos têm obedecido ao evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem creu na nossa pregação?
(17) De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela Palavra de Deus.
Para produzir uma confissão de fé no homem, o Espírito Santo, primeiro, inspirou a Palavra de Deus e, segundo, enviou pregadores para anunciar a Palavra que ele mesmo inspirou. É importante observar que não é através de qualquer mensagem que a fé vem. É especificamente pela proclamação da Palavra de Deus.
É importante saber quais são os instrumentos que o Espírito Santo usa para trabalhar porque, embora o Espírito de Deus seja invisível, podemos reconhecer sua presença especial através dos instrumentos que ele usa para trabalhar. Se a proclamação da Palavra de Deus é o instrumento que ele usa para produzir uma confissão de fé nos homens, devemos concluir que onde a Palavra de Deus é exaltada, ali o Espírito está trabalhando, e onde a Palavra de Deus é desprezada, ali o Espírito não está trabalhando. Embora o Espírito de Cristo seja invisível em sua essência, os efeitos de suas obras são visíveis e manifestos.
AS OBRAS DA CARNE SÃO MANIFESTAS
O Espírito Santo é necessário para produzir no homem uma genuína confissão de fé porque o homem, em seu estado caído, só é capaz de produzir heresias sobre Jesus. O homem não é, em si mesmo, capaz de corretamente confessar Jesus. Heresias são obras da carne:
GÁLATAS 5
(19) Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: adultério, prostituição, impureza, lascívia,
(20) Idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias,
(21) Invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus.
Assim como a genuína confissão de fé tem duas partes, que é a fé no coração e a confissão com a boca, a heresia também tem duas partes – a deturpação da verdade no coração e a confissão da mentira com a boca. Ou seja, toda heresia, antes de ser verbalizada, procede de um coração que trabalhou interiormente para deturpar as verdades de Deus. “Porque do interior do coração dos homens saem os maus pensamentos” (Marcos 7:21).
Além disso, a Bíblia ensina que essas heresias, obras da natureza pecaminosa do homem, são promovidas e incentivas por demônios:
1 Timóteo 4
(1) Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios;
(2) Pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência;
Nessa passagem vemos que, embora Paulo fale de heresias que tem origem entre os demônios, ele não isenta o homem de sua responsabilidade por dar ouvidos a esses espíritos enganadores. Isso aponta para a fraqueza da natureza humana caída. Ao mesmo tempo, a origem dessas heresias na atividade de demônios mostra que o homem não é responsável sozinho pela formulação e propagação de heresias. Devemos entender que lutar contra heresias é também lutar uma guerra espiritual contra forças demoníacas. Não se trata de um mero debate sobre opiniões puramente humanas. O apóstolo João ensinou o mesmo:
1 João 4
(1) Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo.
(2) Nisto conhecereis o Espírito de Deus: Todo o espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus;
(3) E todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus…
Aqui o apóstolo João ensina o mesmo que o apóstolo Paulo. Uma genuína confissão sobre Jesus é obra do Espírito de Deus e uma heresia sobre Jesus é obra da carne e de demônios.
O LEITE E O ALIMENTO SÓLIDO
O Espírito produz uma confissão de fé no homem desde o princípio de sua conversão. Todavia, essa confissão de fé é inicialmente pequena e precisa crescer e amadurecer com o tempo. O Espírito Santo, já no início da conversão do homem, opera em sua mente para que ele compreenda e creia em seu coração em algumas verdades da Palavra de Deus, mas não em todas. É sobre isso que lemos na Epístola aos Hebreus:
HEBREUS 5
(5) Assim também Cristo não se glorificou a si mesmo, para se fazer sumo sacerdote, mas aquele que lhe disse: Tu és meu Filho, Hoje te gerei.
(6) Como também diz, noutro lugar: Tu és sacerdote eternamente, Segundo a ordem de Melquisedeque.
(7) O qual, nos dias da sua carne, oferecendo, com grande clamor e lágrimas, orações e súplicas ao que o podia livrar da morte, foi ouvido quanto ao que temia.
(8) Ainda que era Filho, aprendeu a obediência, por aquilo que padeceu.
(9) E, sendo ele consumado, veio a ser a causa da eterna salvação para todos os que lhe obedecem;
(10) Chamado por Deus sumo sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque.
(11) Do qual muito temos que dizer, de difícil interpretação; porquanto vos fizestes negligentes para ouvir.
(12) Porque, devendo já ser mestres pelo tempo, ainda necessitais de que se vos torne a ensinar quais sejam os primeiros rudimentos das palavras de Deus; e vos haveis feito tais que necessitais de leite, e não de sólido mantimento.
(13) Porque qualquer que ainda se alimenta de leite não está experimentado na palavra da justiça, porque é menino.
(14) Mas o mantimento sólido é para os maduros, os quais, em razão do costume, têm os sentidos exercitados para discernir tanto o bem como o mal.
Aqui o apóstolo fala sobre alguém chamado Melquisedeque. Jesus Cristo, diz ele, é um sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque. O que isso significa? Quem é Melquisedeque e que tipo de sacerdócio é esse? Se Cristo é sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque, aprender mais sobre ele significaria aprender mais sobre Jesus.
Nesse contexto, o apóstolo faz uma reclamação. Segundo ele, ele queria ensinar mais verdades sobre a pessoa de Jesus com base no que a Bíblia ensina sobre Melquisedeque, mas os leitores teriam dificuldades para entender. Por que eles teriam dificuldades? Porque eles tinham sido negligentes. Muito tempo já tinha passado, mas eles não amadureceram. “Porque, devendo já ser mestres pelo tempo, ainda necessitais de que se vos torne a ensinar quais sejam os primeiros rudimentos das palavras de Deus; e vos haveis feito tais que necessitais de leite(v. 12). Aqui vemos que há um conjunto de doutrinas que ele chama de “primeiros rudimentos” e “leite” e, consequentemente, que há um conjunto de doutrinas que não é mais leite e sim “alimento sólido”. É importante perceber que a reclamação dele não é simplesmente contra o fato de que existem pessoas precisam dos primeiros rudimentos. A reclamação dele é contra aqueles que continuam precisando dos primeiros rudimentos quando já deveriam ter amadurecido, mas não amadureceram.
Se há um conjunto de doutrinas que são os primeiros rudimentos, devemos concluir que a confissão de fé que o Espírito Santo produz no início da conversão do homem é pequena e, portanto, precisa crescer e amadurecer com o tempo. “Primeiros rudimentos” significa princípios básicos. Inicialmente, o Espírito Santo produz uma confissão de fé que contém somente os aspectos mais básicos das doutrinas cristãs, como os rudimentos da doutrina de Deus como o Criador (Atos 17:24), da Divindade de Cristo (João 20:28), do arrependimento e da fé (Hebreus 6:1), do batismo, da ressurreição dos mortos, do juízo final (Hebreus 6:2), etc. Progressivamente, o Espírito opera no homem para que sua confissão de fé se torne mais extensa e mais profunda. Por exemplo, no instante em que alguém se converte, o Espírito produz nela a confissão de que Jesus Cristo é o Senhor (1 Coríntios 12:3). Embora essa confissão já inclua um certo entendimento sobre quem é Jesus e sobre o que significa dizer que ele é o Senhor, esse entendimento vai se tornando maior e mais profundo com o passar do tempo, à medida que o Espírito vai aperfeiçoando no homem a sua confissão de fé.
A UNIDADE DA FÉ
Como a genuína confissão de fé é produzida no homem pelo Espírito Santo e como o “Espírito é o mesmo” (1 Coríntios 14:2), não pode haver divergência entre os artigos de fé que o Espírito Santo leva cada homem a confessar. Se o Espírito Santo produz em João a confissão de que Jesus Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, ele não pode simultaneamente produzir em Carlos a confissão de que Jesus Cristo é verdadeiro Deus, mas não é verdadeiro homem (1 João 4:3) ou que ele é verdadeiro homem, mas não é verdadeiro Deus (1 Coríntios 12:3; João 20:28). Onde há contradição entre um artigo de fé e outro, há somente duas possibilidades. Ou um deles foi produzido pelo Espírito de Deus e o outro não, ou nenhum dos dois foi. “Há um só Espírito” (Efésios 4:4) e, portanto, “há uma só fé” (Efésios 4:5).
Além disso, como a confissão de fé é inicialmente pequena e precisa crescer e amadurecer com o tempo, é possível que uma pessoa confesse uma forma mais madura de um artigo de fé do que outra pessoa sem que as duas confissões estejam em contradição. Por exemplo, se duas pessoas confessam que Jesus Cristo é o Senhor, é possível que uma delas tenham uma compreensão mais profunda do que significa chamar Jesus de Senhor. Nesse caso, todo o conteúdo da confissão menos desenvolvida faz parte da confissão que é mais desenvolvida.
E como o Espírito Santo trabalha para conduzir a Igreja ao amadurecimento (cf. Efésios 4:13), devemos concluir que o Espírito Santo continuamente trabalha para que a Igreja confesse os mesmos artigos de fé. Se a confissão de fé não é obra humana, mas obra do Espírito de Deus (1 Coríntios 12:3), então o resultado do crescimento no Espírito é a unidade da fé entre os membros da Igreja. Como está escrito:
“Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos uma mesma coisa, e que não haja entre vós dissensões; antes sejais unidos em um mesmo pensamento e em um mesmo parecer“. (1 Coríntios 1:10)
Quanto mais dissensões há entre os irmãos sobre os dogmas da fé, mais se torna manifesto que há muita carne e pouco Espírito. A divergência doutrinária é um fruto da carne e a unidade doutrinária é fruto do Espírito. Isso não significa que toda unidade é boa. A unidade que devemos buscar é a unidade que gira em torno da confissão produzida no homem pelo Espírito.
DOCUMENTOS CONFESSIONAIS
Se o Espírito Santo leva o homem a confessar os mesmos artigos de fé e se esses artigos de fé podem ser verbalizados, isto é, definidos objetivamente com palavras, então a Igreja precisa ser capaz de registrar sua confissão de fé por escrito. Subestimar a importância de documentos confessionais é afirmar que a fé do homem é um mero produto da percepção individual de cada um, é negar que a fé seja um produto da operação do Espírito de Deus no homem. Se a fé que eu tenho não é somente a minha fé, se o Espírito progressivamente opera a mesma fé em todo o corpo, segue-se necessariamente que a Igreja será capaz de registrar por escrito qual é a sua fé.
Então se eu abro a minha boca para afirmar que Jesus Cristo é “verdadeiro Deus e verdadeiro homem, constando de alma racional e de corpo; consubstancial ao Pai, segundo a Divindade”, só há duas possibilidades. Se é uma declaração verdadeira, é obra do Espírito Santo. Se é uma declaração falsa, é obra da carne. Não é possível que seja uma declaração verdadeira sobre Cristo sem que seja obra do Espírito de Cristo. “Portanto, vos quero fazer compreender que ninguém que fala pelo Espírito de Deus diz: Jesus é anátema, e ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo” (1 Coríntios 12:3). Uma legítima confissão sobre Cristo é o resultado das operações do Espírito de Cristo.
Muitos cristãos são rápidos para defender a infalibilidade e a inerrância das Sagradas Escrituras. É bom que defendam. As Sagradas Escrituras são infalíveis e inerrantes porque foram inspiradas pelo Espírito de Deus. Contudo, o mesmo Espírito que foi necessário para inspirar a Escritura é necessário para que as verdades da Escritura sejam compreendidas. Crer que no Espírito inspirou a Escritura sem crer em sua eficácia para guiar os membros da Igreja na verdadeira fé é crer na obra do Espírito somente pela metade. São dois tipos de obras do Espírito Santo, é verdade. A Bíblia Sagrada é o produto da inspiração e a confissão de fé é o produto da iluminação. Mas não deixam de ser verdadeiras obras de Deus. Por isso, documentos confessionais produzidos pela Igreja ao longo dos séculos, na medida em que genuinamente confessam Jesus, devem ser recebidos como verdadeiras obras do Espírito de Deus. São obras do Espírito Santo através dos mestres que, ao longo da história, ele enviou para nos ensinar sua Palavra (Romanos 10:15).