“E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria”. (1 Coríntios 13:2)

Em 1 Coríntios 12, Paulo fala sobre o corpo de Cristo e sobre os dons do Espírito. Em 1 Coríntios 13, ele fala sobre o amor. Em 1 Coríntios 14, ele fala sobre o exercício dos dons espirituais no culto público. Qual é a relação entre as três coisas – os dons do Espírito, o amor e o culto público?

Em primeiro lugar, é importante entender que todos os atos de culto a Deus dependem das operações do Espírito Santo para acontecer. Sem a obra do Espírito Santo, não haveria Bíblia para ser lida e pregada. Sobre as Escrituras inspiradas, Pedro explicou que os autores foram “inspirados pelo Espírito Santo” (1 Pedro 1:19-21; cf. Marcos 12:36; Atos 1:16, 3:18, 28:25; Hebreus 3:7, 9:8, 10:15). Sem a obra do Espírito Santo, não poderia haver pregação ou ensino (Romanos 12:7; 1 Coríntios 12:28). Sem a obra do Espírito Santo, não poderia haver genuína oração: “O Espírito ajuda as nossas fraquezas; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis” (Romanos 8:26). Como explica o Catecismo Maior de Westminster: “Não sabendo nós o que havemos de pedir, como convém, o Espírito nos assiste em nossa fraqueza, habilitando-nos a saber por quem, pelo quê, e como devemos orar; operando e despertando em nossos corações (embora não em todas as pessoas, nem em todos os tempos, na mesma medida) aquelas apreensões, afetos e graças que são necessários para o bom cumprimento desse dever” (CMW, P. 182). Sem a obra do Espírito Santo, não pode haver genuíno canto de adoração a Deus: “E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito; falando entre vós em salmos, e hinos, e cânticos espirituais; cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração” (Efésios 5:18-19). Além disso, para que alguém entregasse uma “revelação” (1 Coríntios 14:26), era necessário o dom de “profecia” (1 Coríntios 12:28; Romanos 12:6) e para que houvesse “língua” (1 Coríntios 14:26), era necessário ter o dom de “línguas” (1 Coríntios 12:28, 30). Todos os atos de culto a Deus, sem exceção, dependem das operações da obra do Espírito Santo para acontecer.

As operações do Espírito Santo são necessárias porque o homem nasce em pecado, totalmente depravado em todos os aspectos do seu ser. Por causa da pecaminosidade humana, ele não é capaz de produzir nada que seja espiritualmente bom, exceto aquilo que o próprio Espírito gera nele. Por isso, Paulo chama os nossos pecados de “obra da carne” (Gálatas 5:19), mas chama as nossas virtudes de “fruto do Espírito” (Gálatas 5:22). Ou seja, não é possível que o homem tenha as virtudes espirituais mencionadas em Gálatas 5:22 sem que essas virtudes sejam produzidas nele pelo Espírito de Deus. Os dons do Espírito – especialmente o dom do apostolado, o dom de profecia e o dom de ensino (1 Coríntios 12:28) – são instrumentos utilizados pelo Espírito para produzir o fruto do Espírito em nós.

Exemplo 1: se Deus deseja que Carlos cresça em “amor” (Gálatas 5:22), uma das maneiras que ele pode fazer isso é levando o pastor de Carlos a expor o texto de Mateus 12:28-34, onde Jesus fala sobre a importância do amor a Deus e do amor ao próximo. Nesse caso, para gerar mais amor no coração de Carlos, há pelo menos quatro operações do Espírito Santo especialmente envolvidas: há o dom do apostolado (que foi o instrumento utilizado pelo Espírito para que o Evangelho de Mateus fosse escrito), há o dom de mestre (que foi o instrumento utilizado pelo Espírito para que a passagem de Mateus fosse pregada com fidelidade pelo pastor), há a operação do Espírito iluminando a mente de Carlos, abrindo seus olhos para que ele ele compreenda o texto de Mateus que foi lido e pregado, e há a operação do Espírito nas orações, fazendo com que os irmãos orassem pela pregação, pelo pregador e pelos ouvintes, pedindo a Deus que a pregação do pastor fosse eficaz e poderosa.

Exemplo 2: se Deus deseja que Carlos se arrependa de um pecado específico, uma das maneiras que ele pode fazer isso é levando a igreja a cantar o salmo 51 no culto, um salmo que fala de arrependimento e perdão. Nesse caso, Carlos pode estar sendo conduzido ao arrependimento através da oração de sua esposa (uma operação do Espírito conforme Romanos 8:26) e texto bíblico que o Espírito está utilizando para conduzi-lo ao arrependimento – o Salmo 51 – foi dado pelo Espírito à Igreja através do dom de profecia (Salmo 51:1; cf. Atos 2:29-30).

O homem não é capaz de produzir nada que seja espiritualmente bom, exceto aquilo que o próprio Espírito gera nele. E os três principais dons que o Espírito utiliza para frutificar em nós é o apostolado, a profecia e o ensino (1 Coríntios 12:28). Através dos apóstolos e dos profetas, o Espírito escreveu a Bíblia. Através dos mestres, o Espírito explica a Bíblia.

Essa é a chave para entender a relação entre os dons do Espírito, o amor e o culto público. O objetivo do culto público é produzir edificação espiritual: “Faça-se tudo para edificação” (1 Coríntios 14:26). Se as operações do Espírito são necessárias para produzir edificação espiritual no homem, é um pecado contra o amor ao próximo quando uma igreja promove atos de culto que não estão fundamentados nas operações e nos dons do Espírito. Se não são fundamentados nas operações e nos dons do Espírito, não podem produzir edificação espiritual. E se não podem produzir edificação espiritual, meu próximo está sendo privado das armas espirituais que ele precisa para crescer, se santificar e lutar contra demônios (cf. 1 Coríntios 14:17; Efésios 6:11-20). Se em uma determinada igreja, a Escritura não é pregada com clareza e profundidade pelo pastor, o meu próximo está sendo privado do principal meio de salvação, santificação e perseverança, que é ensino da Escritura inspirada. Isso é prejudicar o meu próximo. Isso é falta de amor. O amor se manifesta na ordem do culto público. O amor “não busca os seus interesses” (1 Coríntios 13:5). Uma igreja que ama é uma igreja que preza pela pureza dos meios utilizados pelo Espírito para edificar.