A ideia de que a Igreja é o corpo de Cristo não tem origem no Novo Testamento. Tem origem no Velho Testamento. O Velho Testamento já ensinava que a Igreja (que no Velho Testamento era formada primariamente por israelitas) é o corpo de Cristo.
A ALIANÇA ENTRE JESUS E ISRAEL
O Velho Testamento ensina que não existe outro deus além do SENHOR que libertou o povo de Israel da escravidão do Egito. Mas o Velho Testamento também ensina que o Deus único subsiste em três pessoas distintas – o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Ou seja, o Velho Testamento ensina o dogma da Trindade Santíssima. Além disso, o Velho Testamento enfatiza que tanto a aliança abraâmica quanto a aliança mosaica foram estabelecidas como alianças entre o povo de Israel e a pessoa do Filho de Deus:
ÊXODO 3
(1) E apascentava Moisés o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote em Midiã; e levou o rebanho atrás do deserto, e chegou ao monte de Deus, a Horebe.
(2) E apareceu-lhe o Anjo do SENHOR em uma chama de fogo do meio duma sarça; e olhou, e eis que a sarça ardia no fogo, e a sarça não se consumia.
(3) E Moisés disse: Agora me virarei para là, e verei esta grande visão, porque a sarça não se queima.
(4) E vendo o SENHOR que se virava para ver, bradou Deus a ele do meio da sarça, e disse: Moisés, Moisés. Respondeu ele: Eis-me aqui.
(5) E disse: Não te chegues para cá; tira os sapatos de teus pés; porque o lugar em que tu estás é terra santa.
(6) Disse mais: Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó. E Moisés encobriu o seu rosto, porque temeu olhar para Deus.
(7) E disse o SENHOR: Tenho visto atentamente a aflição do meu povo, que está no Egito, e tenho ouvido o seu clamor por causa dos seus exatores, porque conheci as suas dores.
(8) Portanto desci para livrá-lo da mão dos egípcios, e para fazê-lo subir daquela terra, a uma terra boa e larga, a uma terra que mana leite e mel; ao lugar do cananeu, e do heteu, e do amorreu, e do perizeu, e do heveu, e do jebuseu.
Como já demonstramos em outro artigo, o Anjo do Senhor era o Filho de Deus, a segunda pessoa da Santíssima Trindade. Quando ele diz, “Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó”, ele está se referindo à aliança de Gênesis 17:
GÊNESIS 17
(1) Sendo, pois, Abrão da idade de noventa e nove anos, apareceu o SENHOR a Abrão, e disse-lhe: Eu sou o Deus Todo-Poderoso, anda em minha presença e sê perfeito.
(2) E porei a minha aliança entre mim e ti, e te multiplicarei grandissimamente.
(3) Então caiu Abrão sobre o seu rosto, e falou Deus com ele, dizendo:
(4) Quanto a mim, eis a minha aliança contigo: serás o pai de muitas nações;
(5) E não se chamará mais o teu nome Abrão, mas Abraão será o teu nome; porque por pai de muitas nações te tenho posto;
(6) E te farei frutificar grandissimamente, e de ti farei nações, e reis sairão de ti;
(7) E estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua descendência depois de ti em suas gerações, por aliança perpétua, para te ser a ti por Deus, e à tua descendência depois de ti.
Se o “Anjo do SENHOR” (Êxodo 3:2) era o “o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó” (Êxodo 3:6), então foi ele quem estabeleceu sua aliança com Abraão: “E estabelecerei a minha aliança… para te ser a ti por Deus, e à tua descendência depois de ti” (Gênesis 17:7). Isso é confirmado pelo que lemos sobre o voto de Jacó:
GÊNESIS 28
(10) Partiu, pois, Jacó de Berseba, e foi a Harã;
(11) E chegou a um lugar onde passou a noite, porque já o sol era posto; e tomou uma das pedras daquele lugar, e a pôs por seu travesseiro, e deitou-se naquele lugar.
(12) E sonhou: e eis uma escada posta na terra, cujo topo tocava nos céus; e eis que os anjos de Deus subiam e desciam por ela;
(13) E eis que o SENHOR estava em cima dela, e disse: Eu sou o SENHOR Deus de Abraão teu pai, e o Deus de Isaque; esta terra, em que estás deitado, darei a ti e à tua descendência;
(14) E a tua descendência será como o pó da terra, e estender-se-á ao ocidente, e ao oriente, e ao norte, e ao sul, e em ti e na tua descendência serão benditas todas as famílias da terra;
(15) E eis que estou contigo, e te guardarei por onde quer que fores, e te farei tornar a esta terra; porque não te deixarei, até que haja cumprido o que te tenho falado.
(16) Acordando, pois, Jacó do seu sono, disse: Na verdade o SENHOR está neste lugar; e eu não o sabia.
(17) E temeu, e disse: Quão terrível é este lugar! Este não é outro lugar senão a casa de Deus; e esta é a porta dos céus.
(18) Então levantou-se Jacó pela manhã de madrugada, e tomou a pedra que tinha posto por seu travesseiro, e a pôs por coluna, e derramou azeite em cima dela.
(19) E chamou o nome daquele lugar Betel; o nome porém daquela cidade antes era Luz.
(20) E Jacó fez um voto, dizendo: Se Deus for comigo, e me guardar nesta viagem que faço, e me der pão para comer, e vestes para vestir;
(21) E eu em paz tornar à casa de meu pai, o SENHOR me será por Deus;
(22) E esta pedra que tenho posto por coluna será casa de Deus; e de tudo quanto me deres, certamente te darei o dízimo.
Posteriormente, Jacó descreveu esse acontecimento da seguinte maneira:
GÊNESIS 31
(4) Então mandou Jacó chamar a Raquel e a Lia ao campo, para junto do seu rebanho,
(5) E disse-lhes: Vejo que o rosto de vosso pai não é para comigo como anteriormente; porém o Deus de meu pai tem estado comigo;
(6) E vós mesmas sabeis que com todo o meu esforço tenho servido a vosso pai;
(7) Mas vosso pai me enganou e mudou o salário dez vezes; porém Deus não lhe permitiu que me fizesse mal.
(8) Quando ele dizia assim: Os salpicados serão o teu salário; então todos os rebanhos davam salpicados. E quando ele dizia assim: Os listrados serão o teu salário, então todos os rebanhos davam listrados.
(9) Assim Deus tirou o gado de vosso pai, e deu-o a mim.
(10) E sucedeu que, ao tempo em que o rebanho concebia, eu levantei os meus olhos e vi em sonhos, e eis que os bodes, que cobriam as ovelhas, eram listrados, salpicados e malhados.
(11) E disse-me o Anjo de Deus em sonhos: Jacó! E eu disse: Eis-me aqui.
(12) E disse ele: Levanta agora os teus olhos e vê todos os bodes que cobrem o rebanho, que são listrados, salpicados e malhados; porque tenho visto tudo o que Labão te fez.
(13) Eu sou o Deus de Betel, onde tens ungido uma coluna, onde me fizeste um voto; levanta-te agora, sai-te desta terra e torna-te à terra da tua parentela.
Aqui vemos que o “Deus de Betel” (v. 13), que era o “Deus de meu pai” (v. 5) – o Deus de Isaque e do próprio Jacó (Gênesis 28:21) – era o “Anjo” (v. 11), que é a pessoa do Filho, a segunda pessoa da Santíssima Trindade.
Então, em Êxodo 3, é a pessoa do Filho que se apresenta como aquele que estabeleceu a aliança com Abraão e também como o Salvador de Israel: “E disse o SENHOR: Tenho visto atentamente a aflição do meu povo, que está no Egito, e tenho ouvido o seu clamor por causa dos seus exatores, porque conheci as suas dores. Portanto desci para livrá-lo da mão dos egípcios, e para fazê-lo subir daquela terra, a uma terra boa e larga, a uma terra que mana leite e mel; ao lugar do cananeu, e do heteu, e do amorreu, e do perizeu, e do heveu, e do jebuseu” (Êxodo 3:7-8). É importante observar que quando ele diz “meu povo“, ele também está se referindo à aliança de Gênesis 17:7. Israel era seu povo por causa da promessa de Gênesis 17:7: “E estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua descendência depois de ti em suas gerações, por aliança perpétua, para te ser a ti por Deus, e à tua descendência depois de ti”. Além disso, se ele se apresenta como o Salvador de Israel – aquele que livraria Israel da mão dos egípcios – então devemos entender que as palavras do decálogo são primariamente as palavras do Filho:
ÊXODO 20
(1) Então falou Deus todas estas palavras, dizendo:
(2) Eu sou o SENHOR teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão.
(3) Não terás outros deuses diante de mim.
Quando ele diz, “Eu sou o Senhor teu Deus” (v. 2), ele está se referindo diretamente à promessa de Gênesis 17:7, que é o mesmo que ele menciona em Êxodo 3. E quando ele diz, “que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão”, ele está dizendo que ele cumpriu a promessa que ele tinha feito: “Portanto desci para livrá-lo da mão dos egípcios” (Êxodo 3:8). Como lemos também no livro de Juízes:
JUÍZES 2
(1) E subiu o Anjo do SENHOR de Gilgal a Boquim, e disse: Do Egito vos fiz subir, e vos trouxe à terra que a vossos pais tinha jurado e disse: Nunca invalidarei a minha aliança convosco.
Aqui o Anjo do SENHOR chama a aliança entre Deus e Israel de “minha aliança convosco”. Novamente, isso prova que tanto a aliança abraâmica quanto a aliança mosaica foram estabelecidas como alianças entre o povo de Israel e a pessoa do Filho, a segunda pessoa da Santíssima Trindade – Jesus Cristo antes da encarnação. Evidentemente, a aliança entre Deus e seu povo envolve as três pessoas da Santíssima Trindade. O ponto é que esses textos enfatizam especificamente a pessoa do Filho.
A ALIANÇA COMO UM CASAMENTO
Os profetas comparam essa aliança entre o SENHOR e Israel com uma relação de casamento:
EZEQUIEL 16
(1) E veio a mim outra vez a palavra do SENHOR, dizendo:
(2) Filho do homem, faze conhecer a Jerusalém as suas abominações.
(3) E dize: Assim diz o Senhor DEUS a Jerusalém: A tua origem e o teu nascimento procedem da terra dos cananeus. Teu pai era amorreu, e tua mãe heteia.
(4) E, quanto ao teu nascimento, no dia em que nasceste não te foi cortado o umbigo, nem foste lavada com água para te limpar; nem tampouco foste esfregada com sal, nem envolta em faixas.
(5) Não se apiedou de ti olho algum, para te fazer alguma coisa disto, compadecendo-se de ti; antes foste lançada em pleno campo, pelo nojo da tua pessoa, no dia em que nasceste.
(6) E, passando eu junto de ti, vi-te a revolver-te no teu sangue, e disse-te: Ainda que estejas no teu sangue, vive; sim, disse-te: Ainda que estejas no teu sangue, vive.
(7) Eu te fiz multiplicar como o renovo do campo, e cresceste, e te engrandeceste, e chegaste à grande formosura; avultaram os seios, e cresceu o teu cabelo; mas estavas nua e descoberta.
(8) E, passando eu junto de ti, vi-te, e eis que o teu tempo era tempo de amores; e estendi sobre ti a aba do meu manto, e cobri a tua nudez; e dei-te juramento, e entrei em aliança contigo, diz o Senhor DEUS, e tu ficaste sendo minha.
JEREMIAS 2
(1) E veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo:
(2) Vai, e clama aos ouvidos de Jerusalém, dizendo: Assim diz o SENHOR: Lembro-me de ti, da piedade da tua mocidade, e do amor do teu noivado, quando me seguias no deserto, numa terra que não se semeava.
(3) Então Israel era santidade para o SENHOR, e as primícias da sua novidade; todos os que o devoravam eram tidos por culpados; o mal vinha sobre eles, diz o SENHOR.
(4) Ouvi a palavra do SENHOR, ó casa de Jacó, e todas as famílias da casa de Israel;
(5) Assim diz o SENHOR: Que injustiça acharam vossos pais em mim, para se afastarem de mim, indo após a vaidade, e tornando-se levianos?
(6) E não disseram: Onde está o SENHOR, que nos fez subir da terra do Egito, que nos guiou através do deserto, por uma terra árida, e de covas, por uma terra de sequidão e sombra de morte, por uma terra pela qual ninguém transitava, e na qual não morava homem algum?
Quando Jeremias fala sobre Israel seguindo o SENHOR no deserto, ele parece estar se referindo ao seguinte:
“E o SENHOR ia adiante deles, de dia numa coluna de nuvem para os guiar pelo caminho, e de noite numa coluna de fogo para os iluminar, para que caminhassem de dia e de noite. Nunca tirou de diante do povo a coluna de nuvem, de dia, nem a coluna de fogo, de noite”. (Êxodo 13:21-22)
“E eis que endurecerei o coração dos egípcios, e estes entrarão atrás deles; e eu serei glorificado em Faraó e em todo o seu exército, nos seus carros e nos seus cavaleiros, E os egípcios saberão que eu sou o SENHOR, quando for glorificado em Faraó, nos seus carros e nos seus cavaleiros. E o Anjo de Deus, que ia diante do exército de Israel, se retirou, e ia atrás deles; também a coluna de nuvem se retirou de diante deles, e se pós atrás deles. E ia entre o campo dos egípcios e o campo de Israel; e a nuvem era trevas para aqueles, e para estes clareava a noite; de maneira que em toda a noite não se aproximou um do outro. Então Moisés estendeu a sua mão sobre o mar, e o SENHOR fez retirar o mar por um forte vento oriental toda aquela noite; e o mar tornou-se em seco, e as águas foram partidas. E os filhos de Israel entraram pelo meio do mar em seco; e as águas foram-lhes como muro à sua direita e à sua esquerda”. (Êxodo 14:17-22)
Em Êxodo 13:21-22 lemos que “o SENHOR ia adiante deles, de dia numa coluna de nuvem para os guiar pelo caminho”, mas no capítulo seguinte lemos que era “o Anjo de Deus, que ia diante do exército de Israel”. Ou seja, o Anjo de Deus era o próprio SENHOR, a mesma pessoa que já havia se revelado a Moisés como sendo o Deus de Abraão, Isaque e Jacó (Êxodo 3:1-6). Isso demonstra que o noivo (Jeremias 2:2) de Israel era Jesus. Há outra evidência disso no livro de Jeremias:
JEREMIAS 31
(31) Eis que dias vêm, diz o SENHOR, em que farei uma aliança nova com a casa de Israel e com a casa de Judá.
(32) Não conforme a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; porque eles invalidaram a minha aliança apesar de eu os haver desposado, diz o SENHOR.
Aqui o SENHOR diz que ele seria o autor da nova aliança: “farei uma aliança nova“. Logo em seguida, ele diz que também foi o autor da aliança mosaica – “a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito” (v. 32) – e diz que foi o noivo de Israel – “apesar de eu os haver desposado, diz o SENHOR”.
O CASAMENTO E O CORPO
Muitos não se dão conta, mas a comparação da Igreja com um corpo é baseada na comparação da Igreja com uma mulher:
EFÉSIOS 5
(22) Vós, mulheres, sujeitai-vos a vossos maridos, como ao Senhor;
(23) Porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja, sendo ele próprio o salvador do corpo.
(24) De sorte que, assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a seus maridos.
(25) Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela,
(26) Para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra,
(27) Para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível.
(28) Assim devem os maridos amar as suas próprias mulheres, como a seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo.
(29) Porque nunca ninguém odiou a sua própria carne; antes a alimenta e sustenta, como também o Senhor à igreja;
(30) Porque somos membros do seu corpo, da sua carne, e dos seus ossos.
(31) Por isso deixará o homem seu pai e sua mãe, e se unirá a sua mulher; e serão dois numa carne.
(32) Grande é este mistério; digo-o, porém, a respeito de Cristo e da igreja.
(33) Assim também vós, cada um em particular, ame a sua própria mulher como a si mesmo, e a mulher reverencie o marido.
Aqui Paulo deixa claro que a Igreja é chamada de corpo de Cristo porque a Igreja é a mulher de Cristo. A comparação com o corpo é baseada no que é dito sobre a relação do casamento em Gênesis 2:23-25. Isso significa que a ideia de que a Igreja é o corpo de Cristo não tem origem no Novo Testamento ou em Paulo. Tem origem nas passagens do Velho Testamento que ensinam que a aliança entre Israel e o Anjo do SENHOR (Deus) era uma aliança de casamento.