Sobre o pacto de obras com Adão, a Confissão de Fé de Westminster ensina:
“O primeiro pacto feito com o homem era um pacto de obras, no qual a vida foi prometida a Adão, e nele, à sua posteridade sob a condição de perfeita obediência pessoal.” (Confissão de Fé de Westminster, 7:1-2)
E também:
“Deus deu a Adão uma lei como um pacto de obras pelo qual Deus o obrigou, bem como toda sua posteridade, a uma obediência pessoal, inteira, exata e perpétua; prometeu-lhe a vida sob a condição dele cumprir com a lei e o ameaçou com a morte no caso dele violá-la; e dotou-o com o poder e capacidade de guardá-la.” (Confissão de Fé de Westminster, 19:1)
João Calvino ensinou essencialmente o mesmo:
1. Deus fez um pacto com Adão e deu a árvore da vida como sacramento desse pacto:
“O nome de ‘sacramento’, como já expusemos, abrange todos os signos em geral que Deus deu aos homens, para tornar-nos mais certos e seguros sobre a verdade de suas promessas. Às vezes, quis mostrá-los em coisas naturais; às vezes, exibiu-os em milagres.
São exemplos do primeiro tipo: quando deu a Adão e Eva a árvore da vida como penhor da imortalidade, para que a possuíssem com segurança enquanto comessem de seu fruto (Gn 2, 9.17; 3,3). E quando pôs o arco no céu, como prova para Noé e sua posteridade de que dali em diante não destruiria a terra com um dilúvio (Gn 9, 13). Adão e Noé consideraram estas coisas sacramentos. Não que a árvore lhes desse a imortalidade que por si mesma não poderia lhes dar, nem que o arco fosse capaz de conter as águas (pois é somente a repercussão dos raios solares nas nuvens opostas), mas porque traziam uma marca, esculpida pela Palavra de Deus, que lhes servia como autenticação e selo de seus pactos. Evidentemente, antes a árvore era árvore, e o arco, arco. Mas, quando foram marcados pela Palavra de Deus, uma nova forma lhes foi inserida, para que começassem a ser o que antes não eram. E, a fim de que ninguém pense que se diz isso em vão, o arco nos é dado ainda hoje em dia como testemunho daquele pacto que Deus fez com Noé; e, sempre que o contemplamos, lemos nele aquela promessa de Deus, de que a terra jamais será destruída por um dilúvio.” (Institutas da Religião Cristã, 4:14:18)
2. A humanidade, desde Adão, teve a lei de Deus naturalmente escrita em seu coração, que é essencialmente equivalente à lei moral que Deus posteriormente revelou a Moisés:
“Comecemos, pois, pela lei moral. Dita lei contém dois pontos principais, dos quais se ordena honrar simplesmente a Deus com fé pura e com piedade. O outro se ordena abraçar aos homens com sincera afeição; esta é a verdadeira e eterna regra da justiça, prescrita aos homens de todas as nações e tempos que queiram conformar sua vida à vontade de Deus… A lei de Deus a que chamamos lei moral outra coisa não é senão o testemunho da lei natural e da consciência que o Senhor imprimiu no coração dos homens.” (Institutas da Religião Cristã, 4:20:16)
“Ora, tudo quanto se deve aprender das duas tábuas, de certo modo no-los dita e ensina aquela lei interior que anteriormente se disse estar inscrita e como que gravada no coração de todos… Por isso, porquanto era necessário, tanto a nosso embotamento quanto a nossa contumácia, proveu-nos o Senhor a lei escrita para que não só atestasse com certeza maior o que era demasiadamente obscuro na lei natural, mas também, sacudido o torpor, a mente e a memória nos ferissem com mais intensa vividez.” (Institutas da Religião Cristã, 2:8:1)
“Em terceiro lugar, deve considerar-se o que significa a divisão da lei divina em duas tábuas, das quais todos os de espírito saudável proclamarão ter sido feita várias vezes solene menção, não sem causa, nem temerariamente. E à mão nos está a razão por que não nos deixa permanecer incertos acerca desta matéria. Pois Deus assim dividiu sua lei em duas partes, nas quais se contém toda a justiça, que tenha aplicado a primeira aos deveres da religião, que dizem respeito peculiarmente ao culto de sua divina majestade; a outra, aos deveres do amor, que têm a ver com os homens… Na primeira tábua Deus nos instrui em relação à piedade e aos deveres próprios da religião, mediante os quais sua majestade deve ser cultuada; na segunda tábua prescreve como, em razão do temor de seu nome, nos devamos conduzir na sociedade dos homens.” (Institutas da Religião Cristã, 2:8:11)
3. Nesse pacto, que tinha a árvore da vida como sacramento, Deus prometeu a vida a Adão (e, nele, à sua posteridade) sob condição de obediência à sua lei:
“Porque não foi um delito leve, mas um grave crime, o que Deus tão severamente castigou, é preciso que consideremos a respeito da queda de Adão qual é a espécie de pecado que lança a horrível vingança de Deus sobre todo o gênero humano. É pueril que tenha sido recebido por estar relacionado com a impertinência da gula, como se consistisse na abstinência de um único fruto a suma e a principal de todas as virtudes, dado que, onde quer que afluíssem tais frutos, eram todos delícias muito desejáveis, bem como, na feliz fecundidade daquela terra, não se disporia para a suntuosidade apenas de abundância, mas também de variedade. Portanto, cumpre olhar mais ao alto, uma vez que a proibição sob a árvore do bem e do mal foi um exame da obediência, para que Adão provasse estar livremente submetido à autoridade de Deus. O próprio nome, ‘árvore do bem e do mal’, mostra que o fim desse preceito era que, feliz por sua sorte, o homem não se permitisse lançar ao mais alto por má cupidez. Ora, o fim da promessa pela qual é um dever ter-se esperança na vida eterna por quanto tempo se coma da árvore da vida, e, por outro lado, do anúncio de uma terrível morte assim que se prove da árvore do bem e do mal, era provar e exercitar sua fé. Donde não ser difícil evocar por quais modos Adão teria provocado sobre si a ira de Deus.” (Institutas da Religião Cristã, 2:1:4)
4. Adão, tendo sido criado reto, tinha o poder e capacidade de guardar a lei de Deus.
“Portanto, Deus proveu a alma do homem com a mente, mediante a qual pudesse distinguir o bem do mal, o justo do injusto, e, assistindo-a a luz da razão, percebesse o que se deve seguir ou evitar… A esta mente Deus associa a vontade, em cuja alçada está a escolha. Nestes preclaros dotes exceleu a primeira condição do homem, de sorte que a razão, a inteligência, a prudência, o julgamento não só lhes bastaram para a direção da vida terrena, mas ainda por meio destes elementos, os homens pudessem transcender até Deus e à felicidade eterna. Então proveu que se acrescentasse a escolha, que dirigisse os apetites e regulasse a todos os movimentos orgânicos, e assim a vontade fosse inteiramente consentânea à ação moderadora da razão. Nesta integridade, o homem usufruía de livre-arbítrio, mercê do qual, caso quisesse, poderia alcançar a vida eterna… Com efeito, Adão recebera o poder, se quisesse; não teve, entretanto, o querer, por meio do qual pudesse, porque a perseverança acompanharia este querer. Todavia, não tem escusas quem recebeu tanto que, por seu próprio arbítrio, a si engendrasse a ruína.” (Institutas da Religião Cristã, 1:14:8)