Durante a maior parte da história de Israel no Velho Testamento, desde a saída do Egito, o SENHOR era adorado pelos israelitas através de imagens. No Êxodo, lemos que, enquanto Moisés estava no monte recebendo revelações do SENHOR sobre como Arão seria o líder da adoração em Israel (Êxodo 28:1), Arão estava ao pé do monte fazendo uma imagem do SENHOR e corrompendo seu culto:
ÊXODO 32
(1) Mas vendo o povo que Moisés tardava em descer do monte, acercou-se de Arão, e disse-lhe: Levanta-te, faze-nos deuses, que vão adiante de nós; porque quanto a este Moisés, o homem que nos tirou da terra do Egito, não sabemos o que lhe sucedeu.
(2) E Arão lhes disse: Arrancai os pendentes de ouro, que estão nas orelhas de vossas mulheres, e de vossos filhos, e de vossas filhas, e trazei-mos.
(3) Então todo o povo arrancou os pendentes de ouro, que estavam nas suas orelhas, e os trouxeram a Arão.
(4) E ele os tomou das suas mãos, e trabalhou o ouro com um buril, e fez dele um bezerro de fundição. Então disseram: Este é teu deus, ó Israel, que te tirou da terra do Egito.
(5) E Arão, vendo isto, edificou um altar diante dele; e apregoou Arão, e disse: Amanhã será festa ao SENHOR.
A intenção de Arão não era fazer uma imagem para representar uma falsa divindade. A intenção de Arão, o braço direito de Moisés, era fazer uma imagem para adorar o verdadeiro Deus, o SENHOR: “E Arão, vendo isto, edificou um altar diante dele; e apregoou Arão, e disse: Amanhã será festa ao SENHOR” (v. 5). Ou seja, Arão não quebrou o primeiro mandamento, mas somente o segundo. “O segundo mandamento exige que recebamos, observemos e guardemos puros e inteiros todo o culto e ordenanças religiosas que Deus instituiu na sua Palavra” e “proíbe o adorar a Deus por meio de imagens, ou de qualquer outra maneira não prescrita na sua Palavra” (Breve Catecismo de Westminster, P. 50-51).
O que leva muitos a erroneamente crer que o bezerro de ouro foi construído para ser uma imagem de uma falsa divindade é o que lemos no verso 1: “Mas vendo o povo que Moisés tardava em descer do monte, acercou-se de Arão, e disse-lhe: Levanta-te, faze-nos deuses, que vão adiante de nós”. Contudo, a palavra “deuses”, no plural, não é necessariamente utilizada na Bíblia para se referir a mais de uma divindade. Com frequência, a palavra é utilizada para se referir não ao próprio ser divino (que o idólatra acreditava que existia), mas para se referir às suas imagems. Exemplos:
GÊNESIS 31
(30) E agora se querias ir embora, porquanto tinhas saudades de voltar à casa de teu pai, por que furtaste os meus deuses?
(31) Então respondeu Jacó, e disse a Labão: Porque temia; pois que dizia comigo, se porventura não me arrebatarias as tuas filhas.
(32) Com quem Achares os teus deuses, esse não viva; reconhece diante de nossos irmãos o que é teu do que está comigo, e toma-o para ti. Pois Jacó não sabia que Raquel os tinha furtado.
(33) Então entrou Labão na tenda de Jacó, e na tenda de Lia, e na tenda de ambas as servas, e não os achou; e saindo da tenda de Lia, entrou na tenda de Raquel.
(34) Mas tinha tomado Raquel os ídolos e os tinha posto na albarda de um camelo, e assentara-se sobre eles; e apalpou Labão toda a tenda, e não os achou.
(35) E ela disse a seu pai: Não se acenda a ira aos olhos de meu senhor, que não posso levantar-me diante da tua face; porquanto tenho o costume das mulheres. E ele procurou, mas não achou os ídolos.
(36) Então irou-se Jacó e contendeu com Labão; e respondeu Jacó, e disse a Labão: Qual é a minha transgressão? Qual é o meu pecado, que tão furiosamente me tens perseguido?
GÊNESIS 35
(1) Depois disse Deus a Jacó: Levanta-te, sobe a Betel, e habita ali; e faze ali um altar ao Deus que te apareceu, quando fugiste da face de Esaú teu irmão.
(2) Então disse Jacó à sua família, e a todos os que com ele estavam: Tirai os deuses estranhos, que há no meio de vós, e purificai-vos, e mudai as vossas vestes.
(3) E levantemo-nos, e subamos a Betel; e ali farei um altar ao Deus que me respondeu no dia da minha angústia, e que foi comigo no caminho que tenho andado.
(4) Então deram a Jacó todos os deuses estranhos, que tinham em suas mãos, e as arrecadas que estavam em suas orelhas; e Jacó os escondeu debaixo do carvalho que está junto a Siquém.
Nessas passagens, os “deuses” eram as imagens, pois esses deuses poderiam ser segurados nas mãos, furtados, escondidos, enterrados e achados. Isso não significa que eles criam que o deus era a própria imagem. Eles criam que o deus era um ser real, um ser que de fato existia em algum lugar do universo, e que ele era representado por aquelas imagens. Como eles eram representados por aquelas imagens, suas imagens eram chamadas de “deuses” e também pelo nome do deus que estava sendo representado. A palavra “deuses”, no plural, poderia indicar que havia mais de uma imagem. Não indicava que necessariamente havia mais de um ser divino sendo adorado. Por exemplo, se houvesse duas imagens de Moloque, as duas imagens seriam chamadas de “deuses”, mesmo que as duas fossem da mesma divindade. Ou a imagem poderia ser chamada pelo nome da própria divindade. “Também deixei ficar em Israel sete mil: todos os joelhos que não se dobraram a Baal, e toda a boca que não o beijou.” Aqui o beijo em Baal era na imagem de Baal. Por isso, Moisés escreveu: “Não te farás deuses de fundição” (Êxodo 34:17). Não é possível que alguém literalmente crie um novo deus. Os “deuses de fundição” eram as imagens de alguma divindade.
Em tempos modernos, os católicos romanos se expressam de maneira parecida. Às vezes, a imagem de um santo é chamado de “santo” e até pelo nome do santo. Por exemplo, veja o que diz uma matéria do site da prefeitura de Arapiraca, Alagoas:
“‘Somos um povo abençoado e muito devoto. A gente se apega, reza e pede que os dias prosperem. E desde que Manoel trouxe Nossa Senhora do Bom Conselho pra cá, é notório o quanto progredimos e avançamos, pois em apenas 94 anos de emancipação vejam o quanto a nossa cidade cresceu. Então viva a nossa padroeira e viva ao povo arapiraquense’, apontou o prefeito.”
E em uma matéria da prefeitura de Franco da Rocha – SP:
“A festa na Paróquia Bom Jesus da Paradinha teve início no dia 14 de agosto e terminou no último domingo. Essa festa acontece anualmente e, nesta edição, contou com a presença do carro de boi, que trouxe o santo homenageado até a igreja.”
Isso não significa que católicos romanos creem que o santo é literalmente a própria imagem. Eles creem que o santo é uma pessoa real que morreu e foi para o céu. Eles chamam de “santos” porque essas imagens que representam os santos. O prefeito de Arapiraca não crê que a imagem de Nossa Senhora é a própria Nossa Senhora. Ele crê que representa Nossa Senhora. Pela mesma razão, nos tempos bíblicos, as imagens que representavam divindadades eram chamadas de “deuses” e pelo nome do deus.
Então, quando os israelitas dizem no Êxodo: “Levanta-te, faze-nos deuses“, o que eles estavam pedindo é que Arão fizesse imagens, não que ele literalmente criasse uma nova divindade. O uso dessa palavra, por si só, não prova que eles queriam que fazer imagens de falsos deuses. Esses “deuses” poderiam ser mais de uma imagem da mesma divindade. Poderiam ser mais de uma imagem do SENHOR. É o que vemos acontecer no livro de Juízes:
JUÍZES 17
(1) E havia um homem da montanha de Efraim, cujo nome era Mica.
(2) O qual disse à sua mãe: As mil e cem moedas de prata que te foram tiradas, por cuja causa lançaste maldições, e de que também me falaste, eis que esse dinheiro está comigo; eu o tomei. Então lhe disse sua mãe: Bendito do SENHOR seja meu filho.
(3) Assim restituiu as mil e cem moedas de prata à sua mãe; porém sua mãe disse: Inteiramente tenho dedicado este dinheiro da minha mão ao SENHOR, para meu filho fazer uma imagem de escultura e uma de fundição; de sorte que agora to tornarei a dar.
(4) Porém ele restituiu aquele dinheiro à sua mãe; e sua mãe tomou duzentas moedas de prata, e as deu ao ourives, o qual fez delas uma imagem de escultura e uma de fundição, que ficaram em casa de Mica.
(5) E teve este homem, Mica, uma casa de deuses; e fez um éfode e terafins, e consagrou um de seus filhos, para que lhe fosse por sacerdote.
(6) Naqueles dias não havia rei em Israel; cada um fazia o que parecia bem aos seus olhos.
Aqui a mãe de Mica mandou fazer duas imagens – uma imagem de escultura e uma de fundição. Mas como o texto deixa claro, sua intenção era fazer duas imagens do SENHOR. “Inteiramente tenho dedicado este dinheiro da minha mão ao SENHOR…” (v. 3). As duas imagens foram colocadas na casa Mica (v. 4). Em seguida, é dito que “teve este homem, Mica, uma casa de deuses“, não porque havia mais de uma divindade sendo adorada, mas porque havia duas imagens do SENHOR. É por isso que ele “fez um éfode… e consagrou um de seus filhos, para que lhe fosse por sacerdote”. O éfode fazia parte das vestes sacerdotais dos sacerdotes levitas no culto ao SENHOR (Êxodo 28:4). Como sua intenção era adorar ao SENHOR (através da imagem), ele queria que seus sacerdotes tivessem alguma semelhança com os sacerdotes do santuário do SENHOR que ficava em Siló. Posteriormente, ele chegou a contratar um levita:
JUÍZES 17
(7) E havia um moço de Belém de Judá, da tribo de Judá, que era levita, e peregrinava ali.
(8) E este homem partiu da cidade de Belém de Judá para peregrinar onde quer que achasse conveniente. Chegando ele, pois, à montanha de Efraim, até à casa de Mica, seguindo o seu caminho,
(9) Disse-lhe Mica: Donde vens? E ele lhe disse: Sou levita de Belém de Judá, e vou peregrinar onde quer que achar conveniente.
(10) Então lhe disse Mica: Fica comigo, e sê-me por pai e sacerdote; e cada ano te darei dez moedas de prata, e vestuário, e o sustento. E o levita entrou.
(11) E consentiu o levita em ficar com aquele homem; e o moço lhe foi como um de seus filhos.
(12) E Mica consagrou o levita, e aquele moço lhe foi por sacerdote; e esteve em casa de Mica.
(13) Então disse Mica: Agora sei que o SENHOR me fará bem; porquanto tenho um levita por sacerdote.
No verso 13, ele reafirma que sua intenção era adorar ao SENHOR, não a um falso deus. Por isso, ele fica feliz por ter um sacerdote levita. Posteriormente, homens de Dã tomaram esses “deuses” (imagens) que ficavam na casa de Mica e estabeleceram um centro de falsa adoração ao SENHOR na tribo de Dã:
JUÍZES 18
(26) Assim seguiram o seu caminho os filhos de Dã; e Mica, vendo que eram mais fortes do que ele, virou-se, e voltou à sua casa.
(27) Eles, pois, tomaram o que Mica tinha feito, e o sacerdote que tivera, e chegaram a Laís, a um povo quieto e confiado, e os feriram ao fio da espada, e queimaram a cidade a fogo.
(28) E ninguém houve que os livrasse, porquanto estavam longe de Sidom, e não tinham relações com ninguém, e a cidade estava no vale que está junto de Bete-Reobe; depois reedificaram a cidade e habitaram nela.
(29) E chamaram-lhe Dã, conforme ao nome de Dã, seu pai, que nascera a Israel; era, porém, antes o nome desta cidade Laís.
(30) E os filhos de Dã levantaram para si aquela imagem de escultura; e Jônatas, filho de Gérson, o filho de Manassés, ele e seus filhos foram sacerdotes da tribo dos danitas, até ao dia do cativeiro da terra.
(31) Assim, pois, estabeleceram para si a imagem de escultura, que fizera Mica, por todos os dias em que a casa de Deus esteve em Siló.
A casa de Deus que estava em Siló era o santuário que Deus revelou a Moisés no monte (Josué 18:31), onde Deus era representado por um espaço vazio e era adorado sem imagens. Por outro lado, esse centro de adoração em Dã era como a adoração do bezerro de ouro de Arão. Era uma forma de adoração ao SENHOR através de imagens, não baseada na revelação dele, mas na imaginação humana. Enquanto o SENHOR dizia, “Tudo o que eu te ordeno, observarás para fazer; nada lhe acrescentarás nem diminuirás“, Arão, Mica e os homens de Dã “faziam o que parecia bem aos seus olhos” (Juízes 17:6).
Depois que o santuário de Moisés em Siló (cidade da tribo de Efraim) foi destruído, Deus mandou que um novo santuário fosse construído por Salomão em Jerusalém (cidade que ficava na tribo de Judá):
SALMO 78
(55) E expulsou os gentios de diante deles, e lhes dividiu uma herança por linha, e fez habitar em suas tendas as tribos de Israel.
(56) Contudo tentaram e provocaram o Deus Altíssimo, e não guardaram os seus testemunhos.
(57) Mas retiraram-se para trás, e portaram-se infielmente como seus pais; viraram-se como um arco enganoso.
(58) Pois o provocaram à ira com os seus altos, e moveram o seu zelo com as suas imagens de escultura.
(59) Deus ouviu isto e se indignou; e aborreceu a Israel sobremodo.
(60) Por isso desamparou o tabernáculo em Siló, a tenda que estabeleceu entre os homens.
(61) E deu a sua força ao cativeiro, e a sua glória à mão do inimigo.
(62) E entregou o seu povo à espada, e se enfureceu contra a sua herança.
(63) O fogo consumiu os seus jovens, e as suas moças não foram dadas em casamento.
(64) Os seus sacerdotes caíram à espada, e as suas viúvas não fizeram lamentação.
(65) Então o Senhor despertou, como quem acaba de dormir, como um valente que se alegra com o vinho.
(66) E feriu os seus adversários por detrás, e pô-los em perpétuo desprezo.
(67) Além disto, recusou o tabernáculo de José, e não elegeu a tribo de Efraim.
(68) Antes elegeu a tribo de Judá; o monte Sião, que ele amava.
(69) E edificou o seu santuário como altos palácios, como a terra, que fundou para sempre.
Assim como o santuário de Siló, para que fosse válido, teve que ser revelado pelo SENHOR a Moisés (Êxodo 25-31), o novo santuário de Jerusalém também teve que ser revelado pelo SENHOR:
1 CRÔNICAS 28
(9) E tu, meu filho Salomão, conhece o Deus de teu pai, e serve-o com um coração perfeito e com uma alma voluntária; porque esquadrinha o SENHOR todos os corações, e entende todas as imaginações dos pensamentos; se o buscares, será achado de ti; porém, se o deixares, rejeitar-te-á para sempre.
(10) Olha, pois, agora, porque o SENHOR te escolheu para edificares uma casa para o santuário; esforça-te, e faze a obra.
(11) E deu Davi a Salomão, seu filho, a planta do alpendre com as suas casas, e as suas tesourarias, e os seus cenáculos, e as suas recâmaras interiores, como também da casa do propiciatório.
(12) E também a planta de tudo quanto tinha em mente, a saber: dos átrios da casa do SENHOR, e de todas as câmaras ao redor, para os tesouros da casa de Deus, e para os tesouros das coisas sagradas;
(13) E para as turmas dos sacerdotes, e para os levitas, e para toda a obra do ministério da casa do SENHOR, e para todos os utensílios do ministério da casa do SENHOR.
(14) E deu ouro, segundo o peso do ouro, para todos os utensílios de cada ministério; também a prata, por peso, para todos os utensílios de prata, para todos os utensílios de cada ministério.
(15) E o peso para os castiçais de ouro, e suas candeias de ouro segundo o peso de cada castiçal e as suas candeias; também para os castiçais de prata, segundo o peso do castiçal e as suas candeias, segundo o uso de cada castiçal.
(16) Também deu o ouro por peso para as mesas da proposição, para cada mesa; como também a prata para as mesas de prata.
(17) E ouro puro para os garfos, e para as bacias, e para os jarros, e para as taças de ouro, para cada taça seu peso; como também para as taças de prata, para cada taça seu peso.
(18) E para o altar do incenso, ouro purificado, por seu peso; como também o ouro para o modelo do carro, a saber, dos querubins, que haviam de estender as asas, e cobrir a arca da aliança do SENHOR.
(19) Tudo isto, disse Davi, fez-me entender o SENHOR, por escrito da sua mão, a saber, todas as obras desta planta.
Aqui vemos que Salomão não poderia construir o santuário com base na própria imaginação. Ele deveria seguir o modelo revelado por Deus a Davi. Além disso, vemos que, no santuário de Salomão em Jerusalém, como já acontecia no santuário de Moisés em Siló, o SENHOR seria representado por um espaço vazio e seria adorado sem imagens (v. 18). E assim como Arão e Mica estabeleceram um falso culto ao SENHOR através de imagens como uma alternativa para a forma de adoração revelada a Moisés, o rei Jeroboão, depois da morte de Salomão, também estabeleceu um falso culto ao SENHOR através de imagens como uma alternativa para a forma de adoração revelada a Davi e Salomão:
1 REIS 12
(25) E Jeroboão edificou a Siquém, no monte de Efraim, e habitou ali; e saiu dali, e edificou a Penuel.
(26) E disse Jeroboão no seu coração: Agora tornará o reino à casa de Davi.
(27) Se este povo subir para fazer sacrifícios na casa do SENHOR, em Jerusalém, o coração deste povo se tornará a seu senhor, a Roboão, rei de Judá; e me matarão, e tornarão a Roboão, rei de Judá.
(28) Assim o rei tomou conselho, e fez dois bezerros de ouro; e lhes disse: Muito trabalho vos será o subir a Jerusalém; vês aqui teus deuses, ó Israel, que te fizeram subir da terra do Egito.
(29) E pôs um em Betel, e colocou o outro em Dã.
(30) E este feito se tornou em pecado; pois que o povo ia até Dã para adorar o bezerro.
(31) Também fez casa nos altos; e constituiu sacerdotes dos mais baixos do povo, que não eram dos filhos de Levi.
(32) E fez Jeroboão uma festa no oitavo mês, no dia décimo quinto do mês, como a festa que se fazia em Judá, e sacrificou no altar; semelhantemente fez em Betel, sacrificando aos bezerros que fizera; também em Betel estabeleceu sacerdotes dos altos que fizera.
(33) E sacrificou no altar que fizera em Betel, no dia décimo quinto do oitavo mês, que ele tinha imaginado no seu coração; assim fez a festa aos filhos de Israel, e sacrificou no altar, queimando incenso.
Como em Êxodo 32 e em Juízes 17, a palavra “deuses” (v. 28) não significa que havia mais de uma divindade sendo adorada. O texto diz “deuses” porque havia uma imagem em Betel e outra em Dã. Contudo, era o SENHOR que era adorado através dessas imagens. O desejo de Jeroboão não era mudar o Deus. Era mudar a forma de adoração. Ele não queria que os israelitas adorassem no templo de Jerusalém. Mas enquanto a forma de adoração no templo de Jerusalém havia sido revelada por Deus, não eram invenções de Davi ou Salomão (1 Crônicas 28:19), a forma de culto em Betel e em Dã era uma invenção de Jeroboão. Os bezerros eram inventados, os sacerdotes eram inventados e até os dias de festa eram inventados, “que ele tinha imaginado no seu coração” (v. 33).
Por que ele escolheu colocar as imagens especificamente em Dã e em Betel? Certamente, para dar uma certa aparência de legitimidade ao que ele estava fazendo. No caso de Dã, adorar ao SENHOR através de imagens já era uma prática tradicional. Como já demonstramos, existia há vários séculos, desde o tempo dos juízes. No caso de Betel, a aparência de legitimidade poderia existir com base na história de Jacó, pois ele teve uma visão com o SENHOR em Betel (Gênesis 28:19): “E Jacó fez um voto, dizendo: Se Deus for comigo, e me guardar nesta viagem que faço, e me der pão para comer, e vestes para vestir; e eu em paz tornar à casa de meu pai, o SENHOR me será por Deus; e esta pedra que tenho posto por coluna será casa de Deus; e de tudo quanto me deres, certamente te darei o dízimo” (Gênesis 28:20). Ou seja, embora o culto de Jeroboão não fosse realmente baseado na Palavra do Senhor, ele queria fazer parecer legítimo. Aliás, a própria imagem de um bezerro (e não outro tipo de imagem) poderia ser utilizada para dar uma aparência de legitmidade. O bezerro tinha sido originalmente esculpido por Arão (Êxodo 32:4). Se Arão, o braço direito de Moisés tinha adorado o SENHOR assim, quem poderia dizer que estava errado? Somente quem lesse a Bíblia (Deuteronômio 30:10; 31:26). Mas quem disse que a história correta era como estava na Bíblia, nos livros de Moisés? E se a tribo de Dã, por exemplo, tivesse outra história para contar? Por que não seguir o exemplo e a tradição de Dã, uma tradição bem estabelecida há vários séculos? Por que se prender à letra da lei? Por que insistir tanto no que estava escrito? Alguém poderia dizer: “O que está escrito na Bíblia de Moisés está ultrapassado! Os tempos agora são outros!”
Quando entendemos que Arão e Jeroboão fizeram bezerros de ouro para que fossem imagens do SENHOR, a história do rei Jeú, por exemplo, faz muito mais sentido:
2 REIS 10
(18) E ajuntou Jeú a todo o povo, e disse-lhe: Pouco serviu Acabe a Baal; Jeú, porém, muito o servirá.
(19) Por isso chamai-me agora todos os profetas de Baal, todos os seus servos e todos os seus sacerdotes; não falte nenhum, porque tenho um grande sacrifício a Baal; todo aquele que faltar não viverá. Porém Jeú fazia isto com astúcia, para destruir os servos de Baal.
(20) Disse mais Jeú: Consagrai a Baal uma assembléia solene. E a apregoaram.
(21) Também Jeú enviou por todo o Israel; e vieram todos os servos de Baal, e nenhum homem deles ficou que não viesse; e entraram na casa de Baal, e encheu-se a casa de Baal, de um lado ao outro.
(22) Então disse ao que tinha cargo das vestimentas: Tira as vestimentas para todos os servos de Baal. E ele lhes tirou para fora as vestimentas.
(23) E entrou Jeú com Jonadabe, filho de Recabe, na casa de Baal, e disse aos servos de Baal: Examinai, e vede bem, que porventura nenhum dos servos do SENHOR aqui haja convosco, senão somente os servos de Baal.
(24) E, entrando eles a fazerem sacrifícios e holocaustos, Jeú preparou da parte de fora oitenta homens, e disse-lhes: Se escapar algum dos homens que eu entregar em vossas mãos, a vossa vida será pela vida dele.
(25) E sucedeu que, acabando de fazer o holocausto, disse Jeú aos da sua guarda e aos capitães: Entrai, feri-os, não escape nenhum. E os feriram ao fio da espada; e os da guarda e os capitães os lançaram fora, e entraram no mais interior da casa de Baal.
(26) E tiraram as estátuas da casa de Baal, e as queimaram.
(27) Também quebraram a estátua de Baal; e derrubaram a casa de Baal, e fizeram dela latrinas, até ao dia de hoje.
(28) E assim Jeú destruiu a Baal de Israel.
(29) Porém não se apartou Jeú de seguir os pecados de Jeroboão, filho de Nebate, com que fez pecar a Israel, a saber: dos bezerros de ouro, que estavam em Betel e em Dã.
Por que Jeú se esforçou tanto para que Baal não fosse adorado em Israel, por que ele fez questão de garantir que nenhum servo do SENHOR morresse junto com os sacerdotes e profetas de Baal, se, no fim das contas, ele também era um idólatra? Porque, no entendimento dele, ao adorar os bezerros de ouro, ele estava adorando o SENHOR, não um falso deus. É por isso que é dito em seguida: “Jeú não teve cuidado de andar com todo o seu coração na lei do SENHOR Deus de Israel…” (v. 30). Andar na lei do SENHOR Deus de Israel era andar em conformidade com o que estava escrito na Bíblia de Moisés:
DEUTERONÔMIO 17
(14) Quando entrares na terra que te dá o SENHOR teu Deus, e a possuíres, e nela habitares, e disseres: Porei sobre mim um rei, assim como têm todas as nações que estão em redor de mim;
(18) Será também que, quando se assentar sobre o trono do seu reino, então escreverá para si num livro, um traslado desta lei, do original que está diante dos sacerdotes levitas.
(19) E o terá consigo, e nele lerá todos os dias da sua vida, para que aprenda a temer ao SENHOR seu Deus, para guardar todas as palavras desta lei, e estes estatutos, para cumpri-los.
O rei Jeú queria servir ao SENHOR, mas não com base no que estava escrito. Ele queria servir ao SENHOR através de imagens e invenções humanas. Esse foi um problema que existiu por muitos séculos, durante a maior parte da história de Israel no Velho Testamento. O apóstolo Paulo disse:
1 CORÍNTIOS 10
(11) Estas coisas lhes sobrevieram como exemplos e foram escritas para advertência nossa, de nós outros sobre quem os fins dos séculos têm chegado.
Fica a reflexão:
Será que, ao longo da história da Igreja do Novo Testamento, o pecado de Arão, Mica, Jerobão e Jeú se repetiu? Ou será que essa advertência não se aplica a nós?