A Advertência de Paulo Contra a Falsa Tradição Apostólica

Em outra postagem, demonstramos que quando Paulo mandou que os tessaloniscenses obedecessem ao que ele ensinava oralmente (2 Tessaloniscenses 2:15), ele não estava se referindo a uma tradição independente da Escritura. Ele estava se referindo ao que ele tinha ensinado oralmente com base na Escritura (Atos 17:1-3,10-11). Agora vamos demonstrar que, no mesmo capítulo, ele avisou aos tessaloniscenses que eles deveriam tomar cuidado com a falsa tradição apostólica:

2 TESSALONISCENSES 2
(1) Ora, irmãos, rogamo-vos, pela vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, e pela nossa reunião com ele,
(2) Que não vos movais facilmente do vosso entendimento, nem vos perturbeis, quer por espírito, quer por palavra, quer por epístola, como de nós, como se o dia de Cristo estivesse já perto.
(3) Ninguém de maneira alguma vos engane; porque não será assim sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição.

Quando Paulo diz, “quer por espírito” (v. 2), ele está falando de revelações proféticas. Essa é a mesma linguagem que encontramos na carta de João:

1 JOÃO 4
(1) Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo.
(2) Nisto conhecereis o Espírito de Deus: Todo o espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus.

Quando ele diz, “quer por epístola” (2 Tessaloniscenses 2:2), ele estava falando das cartas. Quando ele diz, “quer por palavra“, ele está falando, como no verso 15, sobre o ensino oral. E quando ele diz, “como de nós“, ele estava dizendo que havia falsos mestres que estavam fazendo uso de falsas revelações proféticas, escrevendo falsas epístolas e inventando uma falsa tradição oral e atribuindo tudo aos apóstolos.

Essas falsas epístolas são o que hoje chamamos de “livros apócrifos” (CFW 1:3). Eram livros que falsos mestres escreviam para defender suas heresias e depois, como meio de fazer parecer que suas heresias eram ensinadas pelos próprios apóstolos, eles atribuíam a autoria da carta a Paulo, Pedro, João, Tiago, etc.

A falsa tradição oral era criada quando esses falsos mestres diziam que o que eles estavam ensinando tinha sido ensinado oralmente pelos apóstolos. Por exemplo, se um falso mestre chamado Fileto quisesse ensinar que a ressurreição é somente espiritual e que não existia uma ressurreição física (2 Timóteo 2:17), ele poderia atribuir esse ensino ao apóstolo Paulo ou ao apóstolo Pedro, dizendo que eles tinham ensinado isso oralmente. Assim, esses falsos mestres ganhavam mais credibilidade e suas heresias eram mais bem aceitas.

Então, nas igrejas do primeiro século – as igrejas que os apóstolos fundaram – não era somente a verdadeira doutrina de Cristo que estava sendo ensinada ao povo. Além da verdadeira doutrina de Cristo, transmitida pelos apóstolos, havia as falsas doutrinas sendo ensinadas pelos falsos mestres através de falsas revelações proféticas, epístolas apócrifcas e falsas tradições orais.

Diante dessa situação, o que os tessaloniscenses poderiam fazer? Imediatamente depois de corrigir os erros desses falsos mestres, apresentando a doutrina verdadeira (2 Tessaloniscenses 2:3-14), o apóstolo explicou o que eles deveriam fazer para que não fossem enganados:

2 TESSALONISCENSES 2
(15) Então, irmãos, estai firmes e retende as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa.

Quando ele diz, “seja por epístola nossa”, ele está falando especificamente da primeira epístola aos Tessaloniscenses, que se encontra em nossas Bíblias. E quando ele diz, “seja por palavra”, ele está se referindo ao que ele tinha ensinado oralmente aos tessaloniscenses quando ele esteve pessoalmente na Tessalônica:

ATOS 17
(1) E passando por Anfípolis e Apolônia, chegaram a Tessalônica, onde havia uma sinagoga de judeus.
(2) E Paulo, como tinha por costume, foi ter com eles; e por três sábados disputou com eles sobre as Escrituras,
(3) Expondo e demonstrando que convinha que o Cristo padecesse e ressuscitasse dentre os mortos. E este Jesus, que vos anuncio, dizia ele, é o Cristo.
(4) E alguns deles creram, e ajuntaram-se com Paulo e Silas; e também uma grande multidão de gregos religiosos, e não poucas mulheres principais.
(5) Mas os judeus desobedientes, movidos de inveja, tomaram consigo alguns homens perversos, dentre os vadios e, ajuntando o povo, alvoroçaram a cidade, e assaltando a casa de Jasom, procuravam trazê-los para junto do povo.
(6) E, não os achando, trouxeram Jasom e alguns irmãos à presença dos magistrados da cidade, clamando: Estes que têm alvoroçado o mundo, chegaram também aqui;
(7) Os quais Jasom recolheu; e todos estes procedem contra os decretos de César, dizendo que há outro rei, Jesus.
(8) E alvoroçaram a multidão e os principais da cidade, que ouviram estas coisas.
(9) Tendo, porém, recebido satisfação de Jasom e dos demais, os soltaram.
(10) E logo os irmãos enviaram de noite Paulo e Silas a Beréia; e eles, chegando lá, foram à sinagoga dos judeus.
(11) Ora, estes foram mais nobres do que os que estavam em Tessalônica, porque de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim.
(12) De sorte que creram muitos deles, e também mulheres gregas da classe nobre, e não poucos homens.

Quando Paulo pregou aos tessaloniscenses e também aos bereianos, ele pregou com base nas Escrituras. Tudo o que ele ensinava oralmente, os ouvintes poderiam examinar nas Escrituras para comprovar se o que ele dizia realmente deveria ser crido. Sendo assim, quando Paulo diz, “estai firmes e retende as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa” (2 Tessaloniscenses 2:15), ele está mostrando que a maneira de discernir entre a verdade e a mentira, entre a verdadeira sã doutrina e a falsa tradição apostólica, é fazendo o que ele tinha pessoalmente ensinado a fazer (“por palavra”) quando ele estava na Tessalônica: examinando a Escritura. Ou seja, a diferença entre a verdadeira doutrina apostólica que Paulo ensinou na Tessalônica e a falsa tradição apostólica oral é que a verdadeira doutrina apostólica podia ser comprovada através da Escritura. Heresias não podem ser provadas biblicamente, mas toda a verdadeira doutrina apostólica está contida na Escritura.

O que Paulo ensina em 2 Tessaloniscenses 2, a Confissão de Fé de Westminster explica muito bem:

“Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a glória dele e para a salvação, fé e vida do homem, ou é expressamente declarado na Escritura ou pode ser lógica e claramente deduzido dela. À Escritura nada se acrescentará em tempo algum, nem por novas revelações do Espírito, nem por tradições dos homens… Os livros geralmente chamados apócrifos, não sendo de inspiração divina, não fazem parte do cânon da Escritura.” (Confissão de Fé de Westminster, 1:6,3)

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