Na primeira parte do nosso estudo, respondemos aos argumentos de um vídeo do canal “Dois Dedos de Teologia” sobre a doutrina da eterna geração do Filho. Nesta segunda parte, queremos responder à pergunta: “Quando Jesus foi gerado?”
DEUS, O TEMPO E O ESPAÇO
A essência da idolatria é confundir o Criador com a criatura (Romanos 1:23-25). De forma geral, os cristãos conseguem identificar formas mais explícitas de idolatria, como quando alguém trata o sol, a lua, as estrelas ou os animais como se fossem deuses (cf. Deuteronômio 4:17-19). Mas há formas mais sutis e sofisticadas de idolatria.
Por exemplo, a Bíblia ensina que Deus criou o tempo (Gênesis 1:1,5,8,13,19,23,31). O tempo, portanto, é uma criatura de Deus, e o próprio Deus não é temporal, mas “habita na eternidade” (Isaías 57:15). Ou seja, para Deus não existe antes ou depois. Não existe ontem e amanhã. A eternidade em que Deus habita não é uma sucessão infinita de tempo. Não é uma quantidade muito grande de tempo que vai passando e passando e passando por muitos dias, meses, anos, séculos e milênios. É a ausência completa de tempo. Deus não é alguém que existe há muitos séculos. “Muitos séculos” é uma criatura de Deus. Ele transcende toda e qualquer noção de tempo. E se o tempo é uma criatura de Deus, então crer em um Deus que é temporal é confundir o Criador com a criatura. Um Deus temporal, portanto, é um ídolo. É uma forma mais sutil de idolatria do que atribuir divindade a uma vaca, mas não deixa de ser idolatria. O Deus verdadeiro é atemporal.
Uma das implicações de crer que Deus é atemporal, é crer que não há, em sua mente, um processo de pensamento. O pensamento de Deus é eternamente fixo, sem qualquer mudança ou variação, pois mudança ou variação pressupõe tempo. É por isso que a Bíblia reconhece a existência da predestinação. Deus não toma decisões com o passar do tempo porque ele não vai pensando e raciocinando com o passar do tempo. Todas as decisões de Deus são eternas, pois ele habita na eternidade, seu pensamento é eternamente fixo, não há uma coisa que ele pensou antes e outra que ele pensou depois. É um eterno “hoje” e “agora“.
Deus também transcende a dimensão do espaço. Deus não está contido em um lugar específico do universo, nem mesmo em um lugar específico do Céu:
“Mas, na verdade, habitaria Deus na terra? Eis que os céus, e até o céu dos céus, não te poderiam conter, quanto menos esta casa que eu tenho edificado.” (1 Reis 8:27)
“Porventura sou eu Deus de perto, diz o SENHOR, e não também Deus de longe? Esconder-se-ia alguém em esconderijos, de modo que eu não o veja? diz o SENHOR. Porventura não encho eu os céus e a terra? diz o SENHOR.” (Jeremias 23:23-24)
Algumas pessoas imaginam que Deus não está localizado na terra porque pensam que ele está localizado em algum lugar específicoo do Céu. Esse pensamento está errado, pois é confundir o Criador com a criatura. Deus não é uma criatura para estar contido em um lugar e não em outro. Ele transcende a dimensão do espaço, “até o céu dos céus, não te poderiam conter” (1 Reis 8:27). Como ele não está contido em nenhum lugar específico, ele está perto e, ao mesmo tempo, está longe, ele está no Céu e, ao mesmo tempo, está na terra, ele preenche todas as coisas:
“Para onde me irei do teu Espírito, ou para onde fugirei da tua face? Se subir ao céu, lá tu estás; se fizer no inferno a minha cama, eis que tu ali estás também. Se tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades do mar, ainda lá me haverá de guiar a tua mão, e a tua destra me susterá.” (Salmo 139:7-9)
A Bíblia ensina que Deus transcende a dimensão do espaço (onipresença) e que o Céu é o lugar da manifestação de sua bendita glória de forma mais clara e especial, não que o Céu é o lugar em que ele está contido como se fosse uma criatura limitada. De fato, Deus pode manifestar sua glória com mais clareza em lugares específicos do universo, mas isso não significa que ele está sujeito à dimensão do espaço, estando contido naquele lugar em que ele se manifesta de forma especial. Crer que Deus é corpóreo ou contido no espaço é heresia.
A DIFERENÇA ENTRE CRIAR E GERAR
Se uma pessoa fizer um bolo, ela pode dizer que criou aquele bolo, mas não dirá que o bolo é o seu filho. Por que não? Porque o bolo é feito de um material que não é da própria pessoa. A pessoa fez o bolo, mas foi a partir de um material que não é da própria pessoa. Por outro lado, quando uma pessoa tem um filho, esse filho é formado a partir da própria pessoa, a partir do seu próprio corpo, ou seja, ele é gerado da pessoa. Isso significa que, diferente do bolo, que é de uma substância diferente da pessoa que faz o bolo, um filho é gerado do próprio pai (e da própria mãe). Isso é o que diferencia um filho de uma criatura. É por isso que, por natureza, não somos filhos de Deus (Romanos 8:15; Efésios 1:5). Por natureza, somos meras criaturas de Deus. A razão é que não somos feitos da essência de Deus. Somos criados de uma substância que não é ele (Gênesis 2:7).
OS FILHOS ADOTADOS E O FILHO GERADO
Quando a Bíblia ensina que somos filhos de Deus por adoção (Romanos 8:15; Efésios 1:5), o objetivo é enfatizar que não somos filhos de Deus por natureza. Não somos filhos por natureza porque não somos consubstanciais (da mesma substância) ao Pai. Por outro lado, a Bíblia nunca diz que Jesus Cristo é Filho de Deus por adoção. Na verdade, o objetivo de dizer que somos filhos de Deus por adoção é exatamente para nos diferenciar de Jesus, que é o Filho de Deus por natureza:
JOÃO 1
(11) Veio para o que era seu, e os seus não o receberam.
(12) Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome;
(14) E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade.
Aqui há um contraste entre aqueles que foram feitos filhos de Deus (o que significa que antes não eram) e aquele que é o unigênito (único gerado) do Pai. Porque Jesus é gerado do Pai, ele é Filho por natureza e, portanto, é Filho em um sentido diferente de nós, que somos filhos por adoção.
O FILHO DE DEUS É DEUS
Jesus é verdadeiramente homem (João 1:14). Por isso, ele é chamado de “Filho do homem” (Mateus 8:20; 9:6). O filhote de um cachorro é, por natureza, um cachorro. O filhote de um gato é, por natureza, um gato. O filho de um homem (ser humano) é, por natureza, um homem. E o Filho de Deus é, por natureza, Deus. Os judeus do primeiro século entendiam isso bem:
JOÃO 10
(22) E em Jerusalém havia a festa da dedicação, e era inverno.
(23) E Jesus andava passeando no templo, no alpendre de Salomão.
(24) Rodearam-no, pois, os judeus, e disseram-lhe: Até quando terás a nossa alma suspensa? Se tu és o Cristo, dize-no-lo abertamente.
(25) Respondeu-lhes Jesus: Já vo-lo tenho dito, e não o credes. As obras que eu faço, em nome de meu Pai, essas testificam de mim.
(26) Mas vós não credes porque não sois das minhas ovelhas, como já vo-lo tenho dito.
(27) As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem;
(28) E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão.
(29) Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai.
(30) Eu e o Pai somos um.
(31) Os judeus pegaram então outra vez em pedras para o apedrejar.
(32) Respondeu-lhes Jesus: Tenho-vos mostrado muitas obras boas procedentes de meu Pai; por qual destas obras me apedrejais?
(33) Os judeus responderam, dizendo-lhe: Não te apedrejamos por alguma obra boa, mas pela blasfêmia; porque, sendo tu homem, te fazes Deus a ti mesmo.
(34) Respondeu-lhes Jesus: Não está escrito na vossa lei: Eu disse: Sois deuses?
(35) Pois, se a lei chamou deuses àqueles a quem a palavra de Deus foi dirigida (e a Escritura não pode ser anulada),
(36) Àquele a quem o Pai santificou, e enviou ao mundo, vós dizeis: Blasfemas, porque disse: Sou Filho de Deus?
Como já explicamos no último artigo, aqui os judeus queriam apedrejar Jesus. Por quê? Segundo eles, “porque, sendo tu homem, te fazes Deus a ti mesmo”. Mas o que Jesus disse que os levou a concluir que Jesus estava dizendo que ele era Deus? Jesus não disse aqui explicitamente: “Eu sou Deus”. Por que, então, eles acusaram Jesus de se fazer de Deus? O próprio Jesus explica em sua resposta: “Vós dizeis: Blasfemas, porque disse: Sou Filho de Deus.” Ou seja, os judeus entendiam que “Filho de Deus” era um título divino e, portanto, entendiam que dizer-se Filho de Deus era equivalente a dizer-se Deus. Evidentemente, eles sabiam que o Velho Testamento às vezes chamava os israelitas de filhos de Deus. Mas eles entendiam que quando os homens eram chamados de filhos de Deus, o sentido era o de adoção, não de geração. “Que são israelitas, dos quais é a adoção de filhos, e a glória, e as alianças, e a lei, e o culto, e as promessas” (Romanos 9:4). Ou seja, eles corretamente entendiam a diferença entre ser filho por adoção e ser filho por geração, e entendiam que quando Jesus dizia que era o Filho de Deus, ele não estava dizendo que era um filho de Deus no mesmo sentido que qualquer israelita era (com base na adoção da aliança abraâmica). Eles entendiam que ele estava dizendo que era gerado do Pai e, portanto, que ele estava dizendo que era Deus.
JESUS NÃO TEM PRINCÍPIO PORQUE ELE É GERADO, NÃO CRIADO
Como o tempo é uma criatura de Deus e a essência divina é atemporal, a geração do Filho não pode ser temporal, mas é eterna. Aliás, como a essência divina é eterna, Deus não pode gerar senão eternamente. Se a geração não fosse eterna, não seria da mesma essência. O filho de um homem é gerado da mesma essência que o homem. Por isso, o filho de um homem é temporal. É porque a natureza humana é temporal. Semelhantemente, porque a essência divina é eterna, não tendo princípio, o Filho é eternamente gerado. A eternidade de Deus não é uma sucessão infinita de tempo. Não é uma quantidade muito grande de tempo que vai passando e passando e passando por muitos dias, meses, anos, séculos e milênios. É a ausência completa de tempo. Deus não é alguém que existe há muitos séculos. “Muitos séculos” é uma criatura de Deus. Ele transcende toda e qualquer noção de tempo. E se o tempo é uma criatura de Deus, a geração do Filho não pode ser um evento temporal. É como o que já foi dito sobre os pensamentos de Deus. Deus não começou a pensar e não há um processo de pensamento na mente de Deus. O pensamento de Deus é eternamente fixo, não há uma coisa que ele pensou antes e outra que ele pensou depois. Deus só pode pensar eternamente. Da mesma forma, como a geração é da mesma essência daquele que gera, Deus só pode gerar eternamente. Por isso, Jesus é o eterno Filho de Deus. Nunca existiu um momento em que o Filho não existiu ou que ele não fosse o Filho.
QUEM DIZ QUE O FILHO TEVE UM PRINCÍPIO NÃO PODE AFIRMAR QUE O FILHO É GERADO
Alguns pensam que dizer que o Filho é gerado do Pai é o mesmo que dizer que o Filho teve um princípio. Pelo contrário, quem diz que o Filho teve um princípio necessariamente precisa negar que o Filho é gerado do Pai. Como já demostramos, o que caracteriza a geração e diferencia a geração da criação é exatamente que aquele que é gerado é da mesma natureza daquele que gera, e a criação é de uma substância diferente. Se a essência divina é eterna, se Deus habita na eternidade, se Deus não tem princípio, então o Filho, sendo gerado do Pai, não pode ter princípio. Se ele tivesse um princípio, a geração não seria da mesma essência que o Pai e, portanto, ele não seria gerado, mas criado! Jesus é o Deus eterno exatamente porque ele é gerado do Pai, não o contrário. Quem nega a eternidade do Filho necessariamente precisa negar sua geração, pois a geração, para que seja geração, precisa ser da mesma essência, que é eterna.
A SIMPLICIDADE E A UNIDADE DE DEUS
O que é um ser humano? Um ser humano é composto por diferentes partes. Ele tem uma alma e ele tem um corpo (Gênesis 2:7). Seu corpo tem uma cabeça, duas mãos, duas pernas, dois pés, dois olhos, milhões de células, etc. Deus não é assim. Deus não é composto. Deus é simples. Essa é a doutrina bíblica da simplicidade de Deus. Como diz o primeiro artigo da Confissão Belga: “Todos nós cremos com o coração e confessamos com a boca que há um só Deus, um único e simples ser espiritual”. Quando dizemos que Deus é simples, o sentido não é que é fácil entender como Deus é. O sentido é que Deus não é composto. Ou seja, a essência divina não é dividida em diferentes partes.
Crer na simplicidade de Deus significa crer que Deus é a realidade última. Não há nada no universo que esteja acima ou que seja anterior a Deus. Por isso, ele é simples, não composto. Se aquele que chamamos de Deus tivesse diferentes partes que juntas formam quem Deus é, então essas partes mais básicas seriam a realidade última, e a parte mais básica de todas é que seria o verdadeiro Deus. Mas não é assim. Deus não é composto por diferentes partes, diferentes atributos, diferentes características. Por isso, o que chamamos de “atributos de Deus” não existem, na verdade, como diferentes atributos. Há uma única essência divina simples e o que chamamos de “atributos” é uma maneira humana e limitada de descrever essa essência única e simples. A onisciência, a onipotência e a onipresença de Deus, por exemplo, não existem como coisas diferentes. Existem como “uma coisa só“, que é a realidade última, aquele que chamamos de Deus.
Quando as pessoas creem que Deus tem diferentes atributos que, juntos, formam quem Deus é, as pessoas erroneamente exaltam um atributo acima dos outros. Por exemplo, algumas pessoas creem que Deus tem um atributo que é amor e outro atributo que é justiça, e que o amor é mais básico e fundamental para definir quem Deus é do que a justiça. Isso é uma forma de idolatria, pois se Deus é dividido em partes e se a parte mais importante é o amor, então o amor é a realidade última, o verdadeiro Deus. Isso é um falso deus. O verdadeiro Deus não tem diferentes atributos. O verdadeiro Deus é uma essência divina simples e, nele, o amor é o mesmo que a santidade, não são coisas diferentes e separadas.
Como Deus é único, simples (não composto) e, portanto, indivisível, a geração do Filho significa que o Filho é o mesmo Deus que o Pai. Quando um homem gera um homem, ele gera outro homem. Por quê? Porque o homem é composto, não simples. O homem é divisível. Por outro lado, a eterna geração do Filho não pode produzir outro deus porque a essência divina é simples e, portanto, indivisível. Portanto, quem afirma que Jesus é outro deus também precisa negar a geração do Filho. Se Jesus fosse outro deus, então ele não seria da mesma essência que o Pai e, portanto, não seria gerado, mas criado! A natureza do Pai, sendo simples e indivisível, não pode gerar, senão aquele que é o mesmo Deus. Jesus e o Pai são o mesmo Deus porque Jesus é eternamente gerado do Pai.
Por isso, a Trindade não significa que Deus está dividido em três partes. Deus não é o Pai + o Filho + o Espírito Santo. Deus não é a soma dos três. Isso é heresia. A divindade única, simples e indivisível subsiste plenamente em cada uma das três pessoas. A pessoa do Pai é plenamente Deus. A pessoa do Filho é plenamente Deus. A pessoa do Espírito Santo é plenamente Deus. Deus não é uma criatura para ser dividido em três partes. Deus é a realidade última. Deus é um único ser simples e indivisível. Por isso, Deus não pode gerar outro Deus.
Tendo isso entendido, podemos entender que a doutrina da geração eterna protege a Igreja do arianismo de quatro maneiras principais. Primeiro, se Jesus gerado do Pai, ele não pode ser criado (pois a essência do Pai não é uma criatura). Segundo, se ele é gerado do Pai, ele não pode ter princípio (pois a essência de Deus é eterna). Terceiro, se Jesus é gerado do Pai, então ele é Deus (pois aquele que é gerado é da mesma natureza daquele que gera). Quarto, se Jesus é gerado do Pai, ele não pode ser um deus diferente, mas é o mesmo Deus (pois a essência divina é simples). Ou seja, nenhum ariano pode verdadeiramente confessar que Jesus é gerado do Pai. A essência da heresia ariana é confundir “geração” com “criação”.
TU ÉS MEU FILHO, EU HOJE TE GEREI
Como mostramos na primeira parte desse estudo, o pastor Yago Martins argumenta que “Filho de Deus” era primariamente um título real especial e que Jesus é chamado de Filho de Deus por ter sido entronizado como Rei em sua ressurreição. Contudo, não há evidência bíblica que possa sustentar essa posição. Em diversas passagens, Jesus é identificado como o Filho de Deus antes de vir ao mundo:
MATEUS 21
(36) Depois enviou outros servos, em maior número do que os primeiros; e eles fizeram-lhes o mesmo.
(37) E, por último, enviou-lhes seu filho, dizendo: Terão respeito a meu filho.
JOÃO 3
(16) Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
(17) Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.
Como essas duas passagens deixam claro, Jesus já era o Filho de Deus antes de ser enviado ao mundo. Se ele era o Filho de Deus antes de entrar no mundo temporal, então ele é o Filho de Deus eternamente. E segundo João 3:16, ele é o Filho de Deus porque ele é o único gerado (“unigênito”) do Pai.
Uma das passagens que o Pr. Yago cita para negar que o Filho é gerado eternamente do Pai encontra-se no Livro dos Salmos:
SALMO 2
(1) Por que se amotinam os gentios, e os povos imaginam coisas vãs?
(2) Os reis da terra se levantam e os governos consultam juntamente contra o SENHOR e contra o seu Ungido [Cristo], dizendo:
(3) Rompamos as suas ataduras, e sacudamos de nós as suas cordas.
(4) Aquele que habita nos céus se rirá; o Senhor zombará deles.
(5) Então lhes falará na sua ira, e no seu furor os turbará.
(6) Eu, porém, ungi o meu Rei sobre o meu santo monte de Sião.
(7) Proclamarei o decreto: o SENHOR me disse: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei.
(8) Pede-me, e eu te darei os gentios por herança, e os fins da terra por tua possessão.
(9) Tu os esmigalharás com uma vara de ferro; tu os despedaçarás como a um vaso de oleiro.
(10) Agora, pois, ó reis, sede prudentes; deixai-vos instruir, juízes da terra.
(11) Servi ao SENHOR com temor, e alegrai-vos com tremor.
(12) Beijai o Filho, para que se não ire, e pereçais no caminho, quando em breve se acender a sua ira; bem-aventurados todos aqueles que nele confiam.
Segundo o Pr. Yago, quando o verso 7 diz, “Tu és meu Filho, eu hoje te gerei“, ele está se referindo especificamente ao que aconteceu na ressurreição de Jesus, ele está dizendo que em sua ressurreição Jesus foi entronizado como Rei e que esse é o significado de dizer que ele foi “gerado”. Mas não é isso o que o Salmo diz. É verdade que o verso 6 está falando sobre o tempo em que Cristo foi entronizado como Rei. Também é verdade que Cristo foi entronizado como Rei mediante a ressurreição. O que não é verdade é que a geração do verso 7 ocorreu na ocasião da ressurreição. Onde Cristo diz, “Proclamarei o decreto: o SENHOR me disse: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei”, ele não está falando do que o SENHOR disse na ocasião da ressurreição e da entronização. Ele está, na ocasião da entronização, proclamando o que o SENHOR disse na eternidade. Exemplo: “Quando o presidente foi empossado, ele leu a carta que dizia…” A carta não foi enviada naquele momento. Ele vai ler a carta naquele momento, mas a carta foi enviada antes daquele momento. Da mesma forma, o que foi proclamadoo na ressurreição não é o mesmo que aconteceu na ressurreição. Esse é o sentido das palavras de Paulo:
ROMANOS 1
(1) Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para apóstolo, separado para o evangelho de Deus.
(2) O qual antes prometeu pelos seus profetas nas santas escrituras,
(3) Acerca de seu Filho, que nasceu da descendência de Davi segundo a carne,
(4) Declarado Filho de Deus em poder, segundo o Espírito de santificação, pela ressurreição dos mortos, Jesus Cristo, nosso Senhor.
Se Jesus Cristo foi declarado o Filho de Deus pela ressurreição, isso significa que ele já era o Filho de Deus antes de ressuscitar. Aquilo que ele já era, a ressurreição declarou que ele era. Aliás, a ressurreição não foi a primeira vez em que ele foi declarado Filho de Deus:
MATEUS 3
(16) E, sendo Jesus batizado, saiu logo da água, e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba e vindo sobre ele.
(17) E eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo.
Se Jesus já era o Filho de Deus antes de ressuscitar, como ele pode ter sido gerado somente na ocasião da ressurreição? Quando Cristo proclamou: “o SENHOR me disse: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei”, ele está proclamando o que o Pai lhe disse na eternidade. O “hoje” não é o dia da entronização de Cristo, mas é a eternidade. Ao ser entronizado, ele declarou o que o Pai tinha lhe dito na eternidade. Como Deus é eterno, não há para ele um “ontem” ou um “amanhã“. Tudo é um eterno “hoje”. Tudo é um eterno “agora”. As palavras dos versos 7-9 são as palavras do Pai ao Filho na eternidade, o que na teologia é conhecido como o pacto da redenção:
“Proclamarei o decreto: o SENHOR me disse: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei. Pede-me, e eu te darei os gentios por herança, e os fins da terra por tua possessão. Tu os esmigalharás com uma vara de ferro; tu os despedaçarás como a um vaso de oleiro.” (Salmo 2:7-9)
O Filho não pediu as nações ao Pai depois de ser entronizado. É exatamente o contrário. Esse pedido aconteceu na eternidade, no “hoje” em que ele é gerado. A entronização de Jesus é a resposta do Pai ao pedido do Filho. Ou seja, quando Jesus ressuscitou e foi entronizado como Rei, isso foi o cumprimento da promessa que o Pai fez ao Filho na eternidade, de lhe dar os gentios por herança e os fins da terra por possessão (v. 8), e é por isso que a ressurreição proclama que Jesus é verdadeiramente o Filho de Deus, eternamente gerado do Pai. Como está escrito também:
“E tu, Belém Efrata, posto que pequena entre os milhares de Judá, de ti me sairá o que governará Israel, e cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade.” (Miqueias 5:2)
Aqui, como no Salmo 2, há uma relação entre o reino do Messias e a sua geração. Mas a relação não é que a sua entronização é a sua geração. A relação, como no Salmo 2, é que ele é entronizado como rei de Israel (e dos gentios) porque ele é o eterno Filho de Deus, gerado eternamente do Pai.
A DOUTRINA DA ETERNA GERAÇÃO DO FILHO DE DEUS NÃO É SECUNDÁRIA
O Cristianismo fundamenta-se na confissão de que Jesus de Nazaré é o Filho de Deus (Mateus 16:16). Por isso, sob a perspectiva do Cristianismo histórico, negar a geração eterna do Filho não pode ser considerado uma questão secundária. É negar o que significa dizer que Jesus é o Filho de Deus. Sob a perspectiva do Cristianismo histórico, esse é o significado de confessar que ele é o Filho de Deus. É confessar que ele é eternamente gerado do Pai.