Na primeira parte desta série de estudos sobre os Dez Mandamentos, vimos que o Senhor Jesus defendia que os mandamentos podem ser obedecidos ou violados com o coração e com a boca, não somente através de ações externas. Vimos também que isso já tinha sido ensinado por Moisés desde os primeiros capítulos do Gênesis, mas era algo que os fariseus ignoravam. Agora vamos ver que, no Sermão do Monte, Jesus aplicou a mesma linha de raciocínio para defender e explicar o sétimo mandamento:
MATEUS 5
(27) Ouvistes que foi dito aos antigos: Não cometerás adultério.
(28) Eu, porém, vos digo, que qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela.
No verso 27, Jesus citou o sétimo mandamento: “Não adulterarás” (Êxodo 20:14). No verso 28, quando ele diz, “Eu, porém, vos digo“, ele não estava dando um mandamento novo e também não estava anulando ou alterando o significado do sétimo mandamento. O que ele estava fazendo era explicar e defender o verdadeiro significado do sétimo mandamento em contraste com o falso ensino dos escribas e fariseus – um significado que o mandamento sempre teve. Sabemos disso por dois motivos principais:
1. Como demonstramos na parte 1 desta série de estudos, nos versos 17-19, ele disse que, até o fim do mundo, os mandamentos da lei continuariam tendo que ser obedecidos. Se ele tinha acabado de dizer que os mandamentos da lei continuariam tendo que ser obedecidos até o fim do mundo, qual é o sentido de dizer que ele estava, logo em seguida, anulando o sétimo mandamento do decálogo para dar uma nova lei?
2. O que Jesus diz no verso 28 já era ensinado no Velho Testamento. Se o que Jesus já era ensinado no Velho Testamento, qual é o sentido de dizer que ele estava dando uma lei nova ou que ele estava alterando o sentido da lei que existia? Se ele estivesse dando uma lei nova – uma lei que não existia antes – não seríamos capazes de encontrar a mesma lei no Velho Testamento. Se encontramos a mesma lei no Velho Testamento é porque Jesus estava ensinando o mesmo mandamento que já existia no Velho Testamento.
Portanto, Jesus não estava anulando ou alterando mandamentos antigos, mas estava explicando-os e defendendo-os contra a falsa doutrina dos escribas e fariseus. Em Mateus 5:28, Jesus não cita o sétimo mandamento para alterá-lo, mas para explicar seu verdadeiro sentido, que é o sentido que encontramos na lei e nos profetas.
O QUE MOISÉS DIZIA?
Claramente, o Velho Testamento já ensinava o mesmo que Jesus disse em Mateus 5:28, que “qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela”. Isso pode ser facilmente provado a partir dos argumentos seguintes:
1. Moisés ensinou, desde os primeiros capítulos de Gênesis, que os mandamentos de Deus são violados com o coração, não somente nas ações externas (Gênesis 2:16-17; 3:6; 4:5; 6:5; 8:21). Se os mandamentos de Deus são violados com o coração, não somente através de ações externas, isso já é suficiente para provar que “qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela”.
2. Sobre o decálogo, o que inclui o sétimo mandamento (Êxodo 20:14; Deuteronômio 5:18), Moisés ensinou explicitamente que cada um dos dez mandamentos deveria ser obedecido com o coração (Deuteronômio 5:1 até 6:9).
3. O livro de Provérbios também ensina explicitamente que “qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar, já em seu coração” violou o sétimo mandamento do decálogo:
PROVÉRBIOS 6
(20) Filho meu, guarda o mandamento de teu pai, e não deixes a lei da tua mãe;
(21) Ata-os perpetuamente ao teu coração, e pendura-os ao teu pescoço.
(22) Quando caminhares, te guiará; quando te deitares, te guardará; quando acordares, falará contigo.
(23) Porque o mandamento é lâmpada, e a lei é luz; e as repreensões da correção são o caminho da vida,
(24) Para te guardarem da mulher vil, e das lisonjas da estranha.
(25) Não cobices no teu coração a sua formosura, nem te prendas aos seus olhos.
(26) Porque por causa duma prostituta se chega a pedir um bocado de pão; e a adúltera anda à caça da alma preciosa.
(27) Porventura tomará alguém fogo no seu seio, sem que suas vestes se queimem?
(28) Ou andará alguém sobre brasas, sem que se queimem os seus pés?
(29) Assim ficará o que entrar à mulher do seu próximo; não será inocente todo aquele que a tocar.
(30) Não se injuria o ladrão, quando furta para saciar-se, tendo fome;
(31) E se for achado pagará o tanto sete vezes; terá de dar todos os bens da sua casa.
(32) Assim, o que adultera com uma mulher é falto de entendimento; aquele que faz isso destrói a sua alma.
(33) Achará castigo e vilipêndio, e o seu opróbrio nunca se apagará.
(34) Porque os ciúmes enfurecerão o marido; de maneira nenhuma perdoará no dia da vingança.
(35) Não aceitará nenhum resgate, nem se conformará por mais que aumentes os presentes.
Não tem nada que Salomão diz aqui que já não tivesse sido dito por Moisés em Deuteronômio 5:1-6:6. Quando Salomão diz, “guarda o mandamento de teu pai, e não deixes a lei da tua mãe“, ele não está falando de mandamentos que tem origem no pai ou na mãe. Ele está falando das leis de Deus, que deveriam ser transmitidos pelo pai e pela mãe aos filhos, como Moisés tinha ordenado:
DEUTERONÔMIO 6
(6) E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração;
(7) E as ensinarás a teus filhos e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te e levantando-te.
Quando ele diz, “estas palavras, que hoje te ordeno” (v. 6), ele está falando primariamente dos Dez Mandamentos que ele tinha acabado de repetir em Deuteronômio 5:6-21. Quando Salomão fala sobre “o mandamento de teu pai” e sobre “a lei da tua mãe” (Provérbios 6:20), ele está se referindo ao que está escrito em Deuteronômio 6:7: “E as ensinarás a teus filhos“. Quando Salomão diz, “ata-os perpetuamente ao teu coração” (Provérbios 6:21), ele está reafirmando Deuteronômio 6:6: “E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração“. E quando Salomão diz, “Quando caminhares, te guiará; quando te deitares, te guardará; quando acordares, falará contigo” (Provérbios 6:22), ele está repetindo a ideia de Deuteronômio 6:7, “assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te e levantando-te“. Em Provérbios 6:24-35, o que Salomão descreve é a quebra do sétimo mandamento, que Moisés tinha citado em Deuteronômio 5:18: “Não adulterarás”. É por isso que, assim como Moisés, ele ensina que o sétimo mandamento poderia ser quebrado no coração: “Não cobices no teu coração a sua formosura, nem te prendas aos seus olhos“. Isso é o mesmo que Jesus ensinou no Sermão do Monte: “Eu, porém, vos digo, que qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela” (Mateus 5:28). Isso prova que Jesus não estava dando uma lei nova. Moisés, Salomão e Jesus ensinaram o mesmo que Jesus sobre o sétimo mandamento.
ANTES DE MOISÉS NASCER
O que Moisés, Salomão e Jesus ensinaram sobre o sétimo mandamento era verdade desde a criação do mundo. Podemos provar isso de duas maneiras principais:
1. Jesus ensinou que a lei do casamento (Gênesis 2:21-24), que é a lei do sétimo mandamento do decálogo (Êxodo 20:14; Deuteronômio 5:18), vigorava desde a criação do mundo (Mateus 19:4-6). Aliás, Jesus fez questão de enfatizar que nem mesmo quando Moisés deu a lei civil sobre o divórcio, o sétimo mandamento deixou de vigorar da maneira que já vigorava desde a criação do mundo (Mateus 19:8). O que Jesus ensinou sobre isso é o mesmo que o profeta Malaquias também já tinha ensinado (Malaquias 2:14-16).
2. No livro de Jó, também lemos que o adultério é pecado, incluindo o adultério no coração:
JÓ 31
(1) Fiz aliança com os meus olhos; como, pois, os fixaria numa virgem?
(2) Que porção teria eu do Deus lá de cima, ou que herança do Todo-Poderoso desde as alturas?
(3) Porventura não é a perdição para o perverso, o desastre para os que praticam iniqüidade?
(4) Ou não vê ele os meus caminhos, e não conta todos os meus passos?
(5) Se andei com falsidade, e se o meu pé se apressou para o engano
(6) (Pese-me em balanças fiéis, e saberá Deus a minha sinceridade),
(7) Se os meus passos se desviaram do caminho, e se o meu coração segue os meus olhos, e se às minhas mãos se apegou qualquer coisa,
(8) Então semeie eu e outro coma, e seja a minha descendência arrancada até à raiz.
(9) Se o meu coração se deixou seduzir por uma mulher, ou se eu armei traições à porta do meu próximo,
(10) Então moa minha mulher para outro, e outros se encurvem sobre ela,
(11) Porque é uma infâmia, e é delito pertencente aos juízes.
Nessa passagem, Jó está defendendo sua inocência diante das acusações de seus amigos. No verso 1, a ideia é que, sendo um homem casado (Jó 2:9), ele não poderia cobiçar mulheres solteiras. Nos versos 9-11, ele fala sobre o adultério com a mulher do próximo. Ao falar sobre o adultério com a mulher do próximo, ele diz que esse pecado incluia o adultério do coração: “Se o meu coração se deixou seduzir por uma mulher…” Isso prova que Jó cria no mesmo que Jesus ensinou no Sermão do Monte: “Eu, porém, vos digo, que qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela” (Mateus 5:28). Como Jó viveu antes de Moisés, isso também prova que esse princípio já existia antes Moisés.
Em seguida, Jó defende a ideia de que o adultério, quando consumado, deveria ser tratado como crime pelos juízes (versos 9-11). Isso também foi posteriormente ensinado por Moisés (Levítico 20:10).
O que Jesus ensinou em Mateus 5:28, então, não foi uma nova lei. O que Jesus ensinou, Jó, Moisés e Salomão já tinham ensinado. Se os fariseus não sabiam disso, isso mostra o quanto eles estavam longe da Escritura que eles diziam ensinar.