“Mas importa que o evangelho seja primeiramente pregado entre todas as nações.” (Marcos 13:10)
Em outra postagem, demonstramos que, no sermão profético, quando Jesus fala sobre os falsos messias (Marcos 13:5-6), sobre as guerras e rumores de guerra (v. 7-8), sobre as fomes (v. 8), sobre as perseguições (v. 9, 11-13) e sobre a pregação do evangelho entre todas as nações (v. 10), ele está falando sobre a ocorrência dessas coisas no contexto do primeiro século, antes da primeira guerra judaico-romana, como sinais que precederiam aquela guerra.
Mas se isso é verdade, em que sentido nós podemos dizer que, antes da guerra de 66-73 AD, o evangelho foi pregado entre todas as nações? Marcos 13:10 deixa claro que isso deveria acontecer antes da guerra: “Mas importa que o evangelho seja primeiramente pregado entre todas as nações” (Marcos 13:10). “Primeiramente” em relação ao quê? Em relação à destruição do templo de Jerusalém, que foi o assunto da pergunta dos apóstolos:
MARCOS 13
(1) E, saindo ele do templo, disse-lhe um dos seus discípulos: Mestre, olha que pedras, e que edifícios!
(2) E, respondendo Jesus, disse-lhe: Vês estes grandes edifícios? Não ficará pedra sobre pedra que não seja derrubada.
(3) E, assentando-se ele no Monte das Oliveiras, defronte do templo, Pedro, e Tiago, e João e André lhe perguntaram em particular:
(4) Dize-nos, quando serão essas coisas, e que sinal haverá quando todas elas estiverem para se cumprir.
(10) Mas importa que o evangelho seja primeiramente pregado entre todas as nações.
Já no início de Atos dos Apóstolos, vemos o princípio do cumprimento dessa profecia:
ATOS 2
(1) E, cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos concordemente no mesmo lugar;
(2) E de repente veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados.
(3) E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles.
(4) E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem.
(5) E em Jerusalém estavam habitando judeus, homens religiosos, de todas as nações que estão debaixo do céu.
(6) E, quando aquele som ocorreu, ajuntou-se uma multidão, e estava confusa, porque cada um os ouvia falar na sua própria língua.
(7) E todos pasmavam e se maravilhavam, dizendo uns aos outros: Pois quê! não são galileus todos esses homens que estão falando?
(8) Como, pois, os ouvimos, cada um, na nossa própria língua em que somos nascidos?
(9) Partos e medos, elamitas e os que habitam na Mesopotâmia, Judeia, Capadócia, Ponto e Ásia,
(10) E Frígia e Panfília, Egito e partes da Líbia, junto a Cirene, e forasteiros romanos, tanto judeus como prosélitos,
(11) Cretenses e árabes, todos nós temos ouvido em nossas próprias línguas falar das grandezas de Deus.
A maioria das pessoas que estavam em Jerusalém para o dia de Pentecostes eram judeus, não gentios. Contudo, como eles eram judeus que moravam em muitos lugares diferentes do mundo, devemos entender que aqueles que se converteram através da pregação de Pedro se tornaram os primeiros cristãos de todos esses lugares (Atos 2:41). Sendo assim, Atos 2 marca o início da Igreja neotestamentária em “todas as nações que estão debaixo do céu” (Atos 2:5). No resto do livro de Atos, vemos a continuidade e o crescimento do que acontece em Atos 2. Depois daquele dia de Pentecostes, a Igreja continuou a crescer e a se desenvolver` à medida que o evangelho era pregado “tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria, e até aos confins da terra” (Atos 1:8). Atos dos Apóstolos termina com o evangelho sendo pregado em Roma – a capital de todo o Império:
ATOS 28
(16) E, logo que chegamos a Roma, o centurião entregou os presos ao capitão da guarda; mas a Paulo se lhe permitiu morar por sua conta à parte, com o soldado que o guardava.
(17) E aconteceu que, três dias depois, Paulo convocou os principais dos judeus e, juntos eles, lhes disse: Homens irmãos, não havendo eu feito nada contra o povo, ou contra os ritos paternos, vim contudo preso desde Jerusalém, entregue nas mãos dos romanos;
(18) Os quais, havendo-me examinado, queriam soltar-me, por não haver em mim crime algum de morte.
(19) Mas, opondo-se os judeus, foi-me forçoso apelar para César, não tendo, contudo, de que acusar a minha nação.
(20) Por esta causa vos chamei, para vos ver e falar; porque pela esperança de Israel estou com esta cadeia.
(21) Então eles lhe disseram: Nós não recebemos acerca de ti carta alguma da Judeia, nem veio aqui algum dos irmãos, que nos anunciasse ou dissesse de ti mal algum.
(22) No entanto bem quiséramos ouvir de ti o que sentes; porque, quanto a esta seita, notório nos é que em toda a parte se fala contra ela.
(23) E, havendo-lhe eles assinalado um dia, muitos foram ter com ele à pousada, aos quais declarava com bom testemunho o reino de Deus, e procurava persuadi-los à fé em Jesus, tanto pela lei de Moisés como pelos profetas, desde a manhã até à tarde.
(24) E alguns criam no que se dizia; mas outros não criam.
(25) E, como ficaram entre si discordes, despediram-se, dizendo Paulo esta palavra: Bem falou o Espírito Santo a nossos pais pelo profeta Isaías,
(26) Dizendo: Vai a este povo, e dize: De ouvido ouvireis, e de maneira nenhuma entendereis; E, vendo vereis, e de maneira nenhuma percebereis.
(27) Porquanto o coração deste povo está endurecido, e com os ouvidos ouviram pesadamente, e fecharam os olhos, para que nunca com os olhos vejam, nem com os ouvidos ouçam, nem do coração entendam, e se convertam, e eu os cure.
(28) Seja-vos, pois, notório que esta salvação de Deus é enviada aos gentios, e eles a ouvirão.
(29) E, havendo ele dito estas palavras, partiram os judeus, tendo entre si grande contenda.
(30) E Paulo ficou dois anos inteiros na sua própria habitação que alugara, e recebia todos quantos vinham vê-lo;
(31) Pregando o reino de Deus, e ensinando com toda a liberdade as coisas pertencentes ao Senhor Jesus Cristo, sem impedimento algum.
O Senhor Jesus já tinha revelado a Paulo que ele pregaria o evangelho em Roma:
ATOS 23
(11) E na noite seguinte, apresentando-se-lhe o Senhor, disse: Paulo, tem ânimo; porque, como de mim testificaste em Jerusalém, assim importa que testifiques também em Roma.
O evangelho se difundiu tanto ao redor do mundo que, nessa época, até mesmo alguns familiares do Imperador já eram cristãos:
FILIPENSES 4
(21) Saudai a todos os santos em Cristo Jesus. Os irmãos que estão comigo vos saúdam.
(22) Todos os santos vos saúdam, mas principalmente os que são da casa de César.
(23) A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja com vós todos. Amém.
Durante sua prisão doméstica em Roma, Paulo escreveu quatro epístolas que se encontram no Novo Testamento – Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemon. Em sua epístola aos Colossenses, ele falou sobre o quanto o evangelho já tinha sido proclamado entre as nações:
COLOSSENSES 1
(21) A vós também, que noutro tempo éreis estranhos, e inimigos no entendimento pelas vossas obras más, agora contudo vos reconciliou
(22) No corpo da sua carne, pela morte, para perante ele vos apresentar santos, e irrepreensíveis, e inculpáveis,
(23) Se, na verdade, permanecerdes fundados e firmes na fé, e não vos moverdes da esperança do evangelho que tendes ouvido, o qual foi pregado a toda criatura que há debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, estou feito ministro.
Aqui Paulo diz que o evangelho já tinha sido “pregado a toda criatura que há debaixo do céu” (v. 21). “Toda criatura que há debaixo do céu” não inclui as árvores ou os pássaros. Essa é uma forma hiperbólica de dizer que a profecia de Jesus no sermão profético já tinha se cumprido: “Mas importa que o evangelho seja primeiramente pregado entre todas as nações” (Marcos 13:10). Quando Jesus, no sermão profético, fala sobre “todas as nações“, a intenção era falar sobre todas as nações do mundo conhecido daquela época, que incluía primariamente os habitantes do Império Romano. É nesse sentido que Lucas diz que “em Jerusalém estavam habitando judeus, homens religiosos, de todas as nações que estão debaixo do céu” (Atos 2:5). Devemos interpretar essas expressões à luz do contexto em que elas aparecem na Bíblia, não com base no sentido que daríamos para essas expressões hoje. É nesse sentido que o evangelho foi pregado entre todas as nações antes da guerra judaico-romana de 66-70 AD. Quando Paulo escreveu sua epístola aos Colossenses, faltavam poucos anos para a guerra começar e o evangelho verdadeiramente já tinha sido pregado em todas as nações do mundo conhecido e do Império Romano. É nesse sentido que também devemos interpretar as palavras da versão do sermão profético que encontramos no Evangelho de Mateus:
MATEUS 24
(14) E este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações, e então virá o fim.
(15) Quando, pois, virdes que a abominação da desolação, de que falou o profeta Daniel, está no lugar santo; quem lê, atenda;
(16) Então, os que estiverem na Judeia, fujam para os montes;
(17) E quem estiver sobre o telhado não desça a tirar alguma coisa de sua casa;
(18) E quem estiver no campo não volte atrás a buscar as suas vestes.
(19) Mas ai das grávidas e das que amamentarem naqueles dias!
(20) E orai para que a vossa fuga não aconteça no inverno nem no sábado.
Quando Jesus diz, “então virá o fim”, ele não está falando do fim deste mundo. Ele está falando do fim de Jerusalém e do templo que seriam destruídos naquela guerra. Por isso, nos versos seguintes, ele fala sobre a importância de fugir da região da Judeia. A palavra “fim” está sendo utilizada com o mesmo sentido no livro de Ezequiel:
EZEQUIEL 7
(1) Depois veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo:
(2) E tu, ó filho do homem, assim diz o Senhor DEUS acerca da terra de Israel: Vem o fim, o fim vem sobre os quatro cantos da terra.
(3) Agora vem o fim sobre ti, e enviarei sobre ti a minha ira, e te julgarei conforme os teus caminhos, e trarei sobre ti todas as tuas abominações.
(4) E não te poupará o meu olho, nem terei piedade de ti, mas porei sobre ti os teus caminhos, e as tuas abominações estarão no meio de ti; e sabereis que eu sou o SENHOR.
(5) Assim diz o Senhor DEUS: Um mal, eis que um só mal vem.
(6) Vem o fim, o fim vem, despertou-se contra ti; eis que vem.
(7) A manhã vem para ti, ó habitante da terra. Vem o tempo; chegado é o dia da turbação, e não mais o sonido de alegria dos montes.
(8) Agora depressa derramarei o meu furor sobre ti, e cumprirei a minha ira contra ti, e te julgarei conforme os teus caminhos, e porei sobre ti todas as tuas abominações.
Aqui o profeta Ezequiel não estava profetizando o fim deste mundo, mas a destruição da nação de Israel (v. 2) pelos exércitos do Império Babilônico no sexto século antes de Cristo (2 Crônicas 36:11-21). Da mesma forma, no primeiro século, depois que “o evangelho do reino” foi “pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações“, veio o “fim” (Mateus 24:14), não o fim deste mundo, mas, como em Ezequiel 7, o fim de Jerusalém e do templo.
A DIFERENÇA ENTRE TESTEMUNHAR E DISCIPULAR
É importante entender que há uma diferença entre pregar o evangelho em testemunho a todas as nações (Mateus 24:14) e “fazer discípulos de todas as nações… ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado” (Mateus 28:20). A pregação do evangelho em testemunho a todas as nações (Mateus 24:14) é meramente a apresentação do evangelho de Cristo aos perdidos, independentemente de aceitarem ou não. Por outro lado, fazer discípulos não é somente uma apresentação da mensagem da salvação aos perdidos, mas é efetivamente torná-los obedientes a Jesus. Ou seja, em Mateus 24:14, é dito que, antes da guerra judaico-romana, todo o povo do Império Romano teria ouvido o evangelho sendo pregado, mas isso não significa que eles aceitariam a pregação que eles ouviriam. Por outro lado, a ordem de Mateus 28:28 é a ordem de fazer com que as nações fossem verdadeiramente obedientes a Jesus, instruindo as nações a guardar todas as coisas que Jesus mandou. A Igreja precisa fazer as duas coisas. A Igreja precisa continuar a testemunhar e discipular as nações, isto é, tornar as nações obedientes a Jesus.