O Quarto Mandamento na Nova Aliança (Parte 2)

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O objetivo deste estudo é ensinar que o quarto mandamento continua a vigorar em nossos dias e que, sob a Nova Aliança, desde que Cristo ressuscitou dos mortos, o domingo é o novo sábado – o sábado do Novo Testamento e da Nova Criação. O estudo será publicado em dez partes. Esta é a parte 2.

3. O DESCANSO DE DEUS

“Em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que neles há” (Êx 20:11). Até o sexto dia, o universo ainda estava sendo construído. Até o sexto dia, a criação ainda estava incompleta. Quando o sexto dia de Gênesis 1 chegou ao fim, Deus finalmente havia concluído a sua obra de criação. Isso significa que o dia seguinte ao sexto dia da criação foi o primeiro dia do universo criado, isto é, o primeiro dia depois que a obra da criação chegou ao fim. Esse é o significado de dizer que Deus descansou:

“Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom. Houve tarde e manhã, o sexto dia. Assim, pois, foram acabados os céus e a terra e todo o seu exército. E, havendo Deus terminado no dia sétimo a sua obra, que fizera, descansou nesse dia de toda a sua obra que tinha feito. E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou; porque nele descansou de toda a obra que, como Criador, fizera.” (Gênesis 1:31; 2:1-3)

Esse descanso de Deus não é um descanso absoluto, em todos os sentidos, como se Deus precisasse dormir. Esse descanso de Deus é especificamente em relação à obra da criação. Moisés não diz meramente que Deus descansou, mas que ele descansou “de toda a obra que, como Criador, fizera” (v. 3). Sendo assim, o sentido desse descanso é que, naquele dia, ele havia concluído a sua obra como Criador. Esse descanso é em relação à obra da criação, mas não em relação a outras obras. Por isso, “Jesus lhes respondeu: Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também” (João 5:17).

Quando Deus descansou da obra da criação, ele continuou a trabalhar na obra da providência. “As obras da providência de Deus são a sua maneira muito santa, sábia e poderosa de preservar e governar todas as suas criaturas, e todas as ações delas” (Breve Catecismo de Westminster, P. 11). Ou seja, o mundo, tendo sido criado por Deus, precisa continuar a funcionar da maneira que ele foi criado para funcionar. Por exemplo, no quinto dia da criação, Deus criou as aves (Gn 1:22-23). Essa foi uma obra da criação, que Deus não continua mais a realizar. Contudo, Deus continua a trabalhar para preservar e governar as aves para que elas continuem a existir. “Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta” (Mt 6:26; cf. Sl 104:12,17). Essa é uma obra da providência, que Deus continua a realizar até hoje. As obras da providência são as obras de manutenção das coisas que Deus criou. No primeiro dia do universo criado, Deus descansou das obras da criação, não das obras da providência. 

Deus descansou nesse dia, mas ele não descansou somente nesse dia. Ou seja, não devemos crer que o descanso de Deus durou somente até o final daquele dia. Se o descanso de Deus foi em relação à obra da criação, então, nesse sentido, Deus nunca deixou de descansar. Por que não? Porque ele nunca mais voltou a criar no mesmo sentido em que ele criou o universo em Gênesis 1. Portanto, reconhecer esse descanso de Deus significa reconhecer que a criação é uma obra consumada no passado. Não é uma obra que Deus continua a realizar até os dias de hoje. Por isso, esse descanso de Deus é perpétuo e sem fim.

4. O DESCANSO DO HOMEM

Ao descansar de sua obra criativa, Deus abençoou e santificou o dia em que ele descansou (Gn 2:3). O dia em que Deus descansou foi o sétimo em relação ao dia em que a obra da criação começou (Gn 1:1-5), mas foi o primeiro depois que o universo terminou de ser criado. Por isso, tendo cessado a obra da criação, Deus declarou que o primeiro dia do universo criado seria um dia santificado a ele. Ou seja, ele consagrou as primícias do tempo para si. Por isso, esse dia é chamado de sábado (Êx 20:8-11). A palavra “sábado” significa “descanso”, “repouso”, “cessação”. 

O descanso de Deus e a santificação do dia não são a mesma coisa. A santificação do dia é uma consequência do descanso de Deus, mas não é o mesmo que o descanso de Deus. O descanso de Deus é o que o próprio Deus fez. Ele descansou de suas obras criativas. Tendo descansado, ele santificou o dia em que ele descansou, o que significa que ele ordenou que, naquele dia, o homem também descansasse. Ao santificar o dia, Deus não estabeleceu uma lei para si mesmo. Ele estabeleceu uma lei para o homem. Ele mandou o homem descansar como ele descansou. Contudo, o descanso do homem não é exatamente como o descanso de Deus. O descanso de Deus, tendo iniciado naquele dia, é um descanso perpétuo e sem fim. O descanso de Deus é perpétuo e sem fim porque, tendo descansado nesse dia, Deus não voltou a criar no dia seguinte. O descanso do homem é um descanso que começa e termina no dia específico que Deus santificou porque o homem deve voltar a trabalhar no dia seguinte.  Sendo assim, devemos entender que o dia de sábado foi dado por Deus ao homem para que o descanso do homem fosse semelhante ao descanso de Deus, mas não para que fosse idêntico.

5. O TEMPO E O HOMEM

Assim como há uma semelhança entre o descanso de Deus e o descanso do homem, há uma semelhança entre o trabalho de Deus e o trabalho do homem. As palavras do quarto mandamento do Decálogo claramente estabelecem essa semelhança: 

“Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus; não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teu estrangeiro, que está dentro das tuas portas. Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou; portanto abençoou o Senhor o dia do sábado, e o santificou” (Êxodo 20:9-11)

Aqui somos ensinados que Deus deu ao homem seis dias para trabalhar porque ele criou o universo em seis dias. Ao trabalhar, o homem imita o trabalho de Deus. Depois do sexto dia, o homem deve descansar. Ao descansar, o homem imita o descanso de Deus

Além do dia de descanso a cada sete dias, a Bíblia fala sobre um período de descanso diário. Como já explicamos, durante os seis dias da criação, Deus somente criava durante o período claro (Gn 1:5,8,13,19,23,31). Isso significa que, quando o período claro chegava ao fim (“tarde”), ele parava de criar e só voltava a criar no dia seguinte. Ou seja, durante todo o período da noite, ele descansava de sua obra criativa. O Salmo 104, que celebra as obras da criação e da providência de Deus, ensina que a natureza humana foi criada para seguir esse exemplo de Deus:

SALMO 104

(19) Designou a lua para as estações; o sol conhece o seu ocaso.

(20) Ordenas a escuridão, e faz-se noite, na qual saem todos os animais da selva.

(21) Os leõezinhos bramam pela presa, e de Deus buscam o seu sustento.

(22) Nasce o sol e logo se acolhem, e se deitam nos seus covis.

(23) Então sai o homem à sua obra e ao seu trabalho, até à tarde.

(24) Ó Senhor, quão variadas são as tuas obras! Todas as coisas fizeste com sabedoria; cheia está a terra das tuas riquezas.

Aqui somos ensinados que o período normal de trabalho humano é o período claro do dia. Como já explicamos, “à tarde” é o período de transição entre a parte clara e a parte escura do dia. O período normal de trabalho humano (v. 23) é entre o momento em que o sol nasce (v. 22) e o momento em que o sol se põe (v. 23). A noite, então, é o período normal do descanso. Sendo assim, há uma semelhança entre o descanso diário de Deus na criação e o descanso diário do homem.  O que tudo isso mostra é que o quarto mandamento leva o homem a organizar a sua vida de acordo com a estrutura temporal que Deus criou e, assim, ele imita a Deus. O homem deve organizar a sua vida de acordo com a estrutura temporal de Gênesis 1-2. Ao planejar suas atividades, o homem deve diferenciar entre dia e noite (Gn 1:5), entre um dia e outro (Gn 1:5,8,13,19,23,31), entre os dias de trabalho e o dia de sábado (Gn 2:1-3), entre um mês e outro, entre uma estação e outra, entre um ano e outro (Gn 1:14), etc. Nos três primeiros dias da criação, Deus criou os céus, a terra e o mar (Gn 1:1-13). Nos três últimos dias, ele criou as criaturas que deveriam existir nesses três ambientes (Gn 1:14-31). “Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que neles há” (Êx 20:11). Isso mostra que Deus foi ordeiro em seu trabalho. Havia objetivos menores, que deveriam ser concluídos em um único dia, mas que, ao longo de vários dias, cooperavam para alcançar objetivos maiores. Por exemplo, Deus criou os mares no terceiro dia (Gn 1:10). Ele conclui esse trabalho em um só dia. Contudo, a criação dos mares fazia parte de um objetivo maior, que incluía a criação das “grandes baleias” (Gn 1:21) nesses mares. Ou seja, não devemos enxergar o trabalho de cada dia como sendo desconexo do trabalho do dia anterior ou do dia posterior. Cada dia de trabalho era uma continuação do dia anterior e uma preparação para o dia posterior.  Por isso, o homem também deve ser ordeiro, lógico e organizado em seu trabalho, cuidadosamente se planejando para que, a cada dia, haja progresso, crescimento e desenvolvimento. Se queremos imitar a Deus em seu trabalho, devemos traçar objetivos menores para cada dia e objetivos maiores para períodos maiores de tempo. O homem deve trabalhar como Deus trabalhou.

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