Sinais da Destruição de Jerusalém e do Templo, Não do Fim Deste Mundo

Em relação ao sermão profético de Cristo (Mateus 24-25; Marcos 13; Lucas 21), o que muitos acreditam ser sinais da segunda vinda de Cristo no fim da história são, na verdade, sinais da destruição de Jerusalém e do templo na guerra judaico-romana que aconteceu entre os anos de 66-73 AD do primeiro século. Não são sinais de que este mundo está prestes a acabar. Marcos e Lucas deixam isso especialmente claro:

MARCOS 13
(1) E, saindo ele do templo, disse-lhe um dos seus discípulos: Mestre, olha que pedras, e que edifícios!
(2) E, respondendo Jesus, disse-lhe: Vês estes grandes edifícios? Não ficará pedra sobre pedra que não seja derrubada.
(3) E, assentando-se ele no Monte das Oliveiras, defronte do templo, Pedro, e Tiago, e João e André lhe perguntaram em particular:
(4) Dize-nos, quando serão essas coisas, e que sinal haverá quando todas elas estiverem para se cumprir.

Segundo Mateus, esse sermão foi proferido depois de um duro confronto entre Cristo e os escribas e fariseus (Mateus 23). Perante uma grande multidão (Mateus 23:1), Cristo fez duras críticas contra os escribas (v. 2), chamando-os de “hipócritas” (v. 13-15, 23, 27, 29), de “condutores cegos” (v. 16, 24), de “insensatos e cegos” (v. 17, 19, 26), de “serpentes, raça de víboras” (v. 33) e de assassinos (v. 30-31, 34). Em seguida, ele anunciou que, como castigo por suas maldades, a “casa” de Jerusalém ficaria “deserta” (v. 37-38) e que Jerusalém não o veria mais até que dissesse: “Bendito o que vem em nome do Senhor” (v. 39). Aparentemente, esse confronto aconteceu no templo de Jerusalém, pois o verso seguinte diz: “E, quando Jesus ia saindo do templo, aproximaram-se dele os seus discípulos para lhe mostrarem a estrutura do templo” (Mateus 24:1).

Os discípulos estavam elogiando a beleza do templo (cf.  Marcos 13:1-2; Lucas 21:5). A resposta de Jesus foi uma confirmação do que ele tinha acabado de avisar aos escribas e fariseus: “E, respondendo Jesus, disse-lhe: Vês estes grandes edifícios? Não ficará pedra sobre pedra que não seja derrubada.” (Marcos 13:2). Ou seja, a resposta de Jesus aos discípulos foi equivalente ao que ele tinha acabado de avisar no confronto contra escribas e fariseus: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste! Eis que a vossa casa vai ficar-vos deserta” (Mateus 23:37-38). Os discípulos de Jesus ficaram perplexos com o que Jesus disse sobre a destruição do templo. Por isso, “assentando-se ele no Monte das Oliveiras, defronte do templo, Pedro, e Tiago, e João e André lhe perguntaram em particular: Dize-nos, quando serão essas coisas, e que sinal haverá quando todas elas estiverem para se cumprir” (Marcos 13:3-4). O sermão profético foi a resposta de Jesus a esse questionamento dos discípulos.

É importante observar que Jesus não profetizou sobre a destruição de algum templo que seria construído no futuro. Ele profetizou sobre a destruição daquele templo, que existia em Jerusalém na época dele, que era o templo que os discípulos estavam vendo e elogiando naquele momento. Portanto, a resposta de Jesus nos versos seguintes precisa ser entendida como uma resposta sobre os sinais que precederiam a destruição do templo.

MARCOS 13
(4) Dize-nos, quando serão essas coisas, e que sinal haverá quando todas elas estiverem para se cumprir.
(5) E Jesus, respondendo-lhes, começou a dizer: Olhai que ninguém vos engane;
(6) Porque muitos virão em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo; e enganarão a muitos.
(7) E, quando ouvirdes de guerras e de rumores de guerras, não vos perturbeis; porque assim deve acontecer; mas ainda não será o fim.
(8) Porque se levantará nação contra nação, e reino contra reino, e haverá terremotos em diversos lugares, e haverá fomes e tribulações. Estas coisas são os princípios das dores.
(9) Mas olhai por vós mesmos, porque vos entregarão aos concílios e às sinagogas; e sereis açoitados, e sereis apresentados perante presidentes e reis, por amor de mim, para lhes servir de testemunho.
(10) Mas importa que o evangelho seja primeiramente pregado entre todas as nações.
(11) Quando, pois, vos conduzirem e vos entregarem, não estejais solícitos de antemão pelo que haveis de dizer, nem premediteis; mas, o que vos for dado naquela hora, isso falai, porque não sois vós os que falais, mas o Espírito Santo.
(12) E o irmão entregará à morte o irmão, e o pai ao filho; e levantar-se-ão os filhos contra os pais, e os farão morrer.
(13) E sereis odiados por todos por amor do meu nome; mas quem perseverar até ao fim, esse será salvo.
(14) Ora, quando vós virdes a abominação do assolamento, que foi predito por Daniel o profeta, estar onde não deve estar (quem lê, entenda), então os que estiverem na Judeia fujam para os montes.
(15) E o que estiver sobre o telhado não desça para casa, nem entre a tomar coisa alguma de sua casa;
(16) E o que estiver no campo não volte atrás, para tomar as suas vestes.
(17) Mas ai das grávidas, e das que criarem naqueles dias!
(18) Orai, pois, para que a vossa fuga não suceda no inverno.

Nos versos 14 e 18, Jesus ordenou que os discípulos fugissem da região da Judeia. Por que eles deveriam fugir da Judeia? Porque o contexto é a guerra judaico-romana de 66-73 AD do primeiro século, que é quando Jerusalém e o templo de Deus em Jerusalém foram destruídos. No verso 14, Jesus diz que o que ele estava profetizando era o mesmo que Daniel já tinha profetizado. Quando lemos as palavras do próprio Daniel, confirmamos que Jesus estava falando dessa guerra entre o Império Romano e Israel:

DANIEL 9
(26) E depois das sessenta e duas semanas será cortado o Messias, mas não para si mesmo; e o povo do príncipe, que há de vir, destruirá a cidade e o santuário, e o seu fim será com uma inundação; e até ao fim haverá guerra; estão determinadas as assolações.
(27) E ele firmará aliança com muitos por uma semana; e na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oblação; e sobre a asa das abominações virá o assolador, e isso até à consumação; e o que está determinado será derramado sobre o assolador.

Aqui Daniel deixa claro que, em algum momento depois da morte do Messias, que é Jesus, a cidade e o templo seriam destruídos. Isso aconteceu no ano de 70 AD do primeiro século, no meio da guerra judaico-romana, que durou sete anos. Por isso, em Marcos 13:14-18, a ordem de fuga foi para fugir da Judeia. É porque ele estava falando da guerra de Roma contra Israel.  A versão do sermão profético que se encontra no Evangelho de Lucas traz algumas informações adicionais que deixam isso ainda mais claro:

LUCAS 21
(20) Mas, quando virdes Jerusalém cercada de exércitos, sabei então que é chegada a sua desolação.
(21) Então, os que estiverem na Judeia, fujam para os montes; os que estiverem no meio da cidade, saiam; e os que nos campos não entrem nela.
(22) Porque dias de vingança são estes, para que se cumpram todas as coisas que estão escritas.
(23) Mas ai das grávidas, e das que criarem naqueles dias! porque haverá grande aperto na terra, e ira sobre este povo.
(24) E cairão ao fio da espada, e para todas as nações serão levados cativos; e Jerusalém será pisada pelos gentios, até que os tempos dos gentios se completem.

Se Marcos 13:14-18 está falando sobre a fuga que deveria existir no contexto da guerra judaico-romana de 66-73 AD e se a pergunta dos discípulos era sobre os sinais que precederiam a destruição do templo que aconteceria nessa guerra, isso significa que todos os sinais mencionados por Cristo nos versos anteriores, em Marcos 13:5-13, se cumpriram antes da guerra começar. Ou seja, quando Jesus fala sobre os falsos messias (Marcos 13:5-6), sobre as guerras e rumores de guerra (v. 7-8),  sobre as fomes (v. 8), sobre as perseguições (v. 9, 11-13) e sobre a pregação do evangelho entre as nações (v. 10), ele está falando sobre a ocorrência dessas coisas no contexto do primeiro século, antes da primeira guerra judaico-romana, como sinais que precederiam aquela guerra. Isso não significa que essas coisas não podem acontecer em outros momentos da história. No século 21, por exemplo, há muita perseguição contra os cristãos. Contudo, no sermão profético, Jesus não estava falando da perseguição do século 21. Ele estava falando especificamente perseguição que aconteceria antes da destruição do templo de Jerusalém em 70 AD. Portanto, os sinais de Marcos 13:5-13 não são sinais de que este mundo está prestes acabar. Eram sinais de que o templo de Deus em Jerusalém estava prestes a ser destruído. O Evangelho de Lucas também deixa isso perfeitamente claro:

LUCAS 21
(5) E, dizendo alguns a respeito do templo, que estava ornado de formosas pedras e dádivas, disse:
(6) Quanto a estas coisas que vedes, dias virão em que não se deixará pedra sobre pedra, que não seja derrubada.
(7) E perguntaram-lhe, dizendo: Mestre, quando serão, pois, estas coisas? E que sinal haverá quando isto estiver para acontecer?
(8) Disse então ele: Vede não vos enganem, porque virão muitos em meu nome, dizendo: Sou eu, e o tempo está próximo. Não vades, portanto, após eles.
(9) E, quando ouvirdes de guerras e sedições, não vos assusteis. Porque é necessário que isto aconteça primeiro, mas o fim não será logo.
(10) Então lhes disse: Levantar-se-á nação contra nação, e reino contra reino;
(11) E haverá em vários lugares grandes terremotos, e fomes e pestilências; haverá também coisas espantosas, e grandes sinais do céu.
(12) Mas antes de todas estas coisas lançarão mão de vós, e vos perseguirão, entregando-vos às sinagogas e às prisões, e conduzindo-vos à presença de reis e presidentes, por amor do meu nome.
(13) E vos acontecerá isto para testemunho.
(14) Proponde, pois, em vossos corações não premeditar como haveis de responder;
(15) Porque eu vos darei boca e sabedoria a que não poderão resistir nem contradizer todos quantos se vos opuserem.
(16) E até pelos pais, e irmãos, e parentes, e amigos sereis entregues; e matarão alguns de vós.
(17) E de todos sereis odiados por causa do meu nome.
(18) Mas não perecerá um único cabelo da vossa cabeça.
(19) Na vossa paciência possuí as vossas almas.
(20) Mas, quando virdes Jerusalém cercada de exércitos, sabei então que é chegada a sua desolação.
(21) Então, os que estiverem na Judeia, fujam para os montes; os que estiverem no meio da cidade, saiam; e os que nos campos não entrem nela.
(22) Porque dias de vingança são estes, para que se cumpram todas as coisas que estão escritas.
(23) Mas ai das grávidas, e das que criarem naqueles dias! porque haverá grande aperto na terra, e ira sobre este povo.
(24) E cairão ao fio da espada, e para todas as nações serão levados cativos; e Jerusalém será pisada pelos gentios, até que os tempos dos gentios se completem.

Como em Marcos 13, as coisas mencionadas em Lucas 21:8-19 são uma resposta ao que os discípulos perguntaram no verso 7 sobre a destruição do templo. Os versos 20-24 falam sobre a guerra em que o templo foi destruído. Portanto, os sinais dos versos 8-19 não são sinais de que este mundo está prestes acabar. Eram sinais de que o templo estava prestes a ser destruído.

Considerando que esses textos são tão claros, por que há pessoas que ainda creem que esses sinais são sinais do fim deste mundo? Essa confusão existe por causa da má interpretação de alguns detalhes que só encontramos na versão do sermão profético do Evangelho de Mateus. Vamos falar mais sobre isso nas próximas partes deste estudo.

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