Introdução aos Dias de Festa do Velho Testamento

“Disse o SENHOR a Moisés: Fala aos filhos de Israel e dize-lhes: As festas fixas do SENHOR, que proclamareis, serão santas convocações; são estas as minhas festas”. (Levítico 23:1-2)

No capítulo 23 do livro de Levítico, há uma lista com todas as solenidades que deveriam ser guardados pelo povo de Deus no Velho Testamento:

Páscoa (Levítico 23:5)
Pães Ázimos (Levítico 23:6-8)
Festa das Semanas (Levítico 23:21), também chamada de Pentecostes (Atos 2:1)
Dia da Expiação (Levítico 23:27-32)
Festa dos Tabernáculos (Levítico 23:34)

Cada festa tinha um tema central, uma duração e determinadas cerimônias que deveriam ser observadas. Além disso, alguns dias de festa eram também dias de culto público, chamados de santa convocação ou assembleia solene. E todo dia de culto público era também um dia de descanso. Para entender melhor, vamos começar analisando a Festa dos Pães Ázimos:

“E aos quinze dias deste mês é a Festa dos Pães Asmos do SENHOR; sete dias comereis pães asmos. No primeiro dia, tereis santa convocação; nenhuma obra servil fareis; mas sete dias oferecereis oferta queimada ao SENHOR; ao sétimo dia, haverá santa convocação; nenhuma obra servil fareis“. (Levítico 23:6-8)

Aqui vemos que a Festa dos Pães Ázimos durava sete dias. Começava no dia 15 e terminava no dia 21 do primeiro mês, que era o mês de Abibe (Êxodo 23:15). O livro de Êxodo explica qual era o objetivo da festa:

“E este dia vos será por memória, e celebra-lo-eis por festa ao SENHOR; nas vossas gerações o celebrareis por estatuto perpétuo. Sete dias comereis pães ázimos; ao primeiro dia tirareis o fermento das vossas casas; porque qualquer que comer pão levedado, desde o primeiro até ao sétimo dia, aquela alma será cortada de Israel. E ao primeiro dia haverá santa convocação; também ao sétimo dia tereis santa convocação; nenhuma obra se fará neles, senão o que cada alma houver de comer; isso somente aprontareis para vós. Guardai pois a festa dos pães ázimos, porque naquele mesmo dia tirei vossos exércitos da terra do Egito; pelo que guardareis a este dia nas vossas gerações por estatuto perpétuo… E aconteceu que, passados os quatrocentos e trinta anos, naquele mesmo dia, todos os exércitos do SENHOR saíram da terra do Egito. Esta noite se guardará ao SENHOR, porque nela os tirou da terra do Egito; esta é a noite do SENHOR, que devem guardar todos os filhos de Israel nas suas gerações… E Moisés disse ao povo: Lembrai-vos deste mesmo dia, em que saístes do Egito, da casa da servidão; pois com mão forte o SENHOR vos tirou daqui; portanto não comereis pão levedado. Hoje, no mês de Abibe, vós saís. E acontecerá que, quando o SENHOR te houver introduzido na terra dos cananeus, e dos heteus, e dos amorreus, e dos heveus, e dos jebuseus, a qual jurou a teus pais que te daria, terra que mana leite e mel, guardarás este culto neste mês. Sete dias comerás pães ázimos, e ao sétimo dia haverá festa ao SENHOR. Sete dias se comerá pães ázimos, e o levedado não se verá contigo, nem ainda fermento será visto em todos os teus termos. E naquele mesmo dia farás saber a teu filho, dizendo: Isto é pelo que o SENHOR me tem feito, quando eu saí do Egito. E te será por sinal sobre tua mão e por lembrança entre teus olhos, para que a lei do SENHOR esteja em tua boca; porquanto com mão forte o SENHOR te tirou do Egito. Portanto tu guardarás este estatuto a seu tempo, de ano em ano“. (Êxodo 12:14-17, 41-42; 13:3-10)

Aqui aprendemos que a festa era um instrumento de santificação. Um dos principais pecados contra o primeiro mandamento é o pecado do esquecimento:

“Guardai-vos e não vos esqueçais da aliança do SENHOR vosso Deus, que tem feito convosco”. (Deuteronômio 4:23)

“Guarda-te, que não te esqueças do SENHOR, que te tirou da terra do Egito, da casa da servidão”. (Deuteronômio 6:12)

“Guarda-te que não te esqueças do SENHOR teu Deus, deixando de guardar os seus mandamentos, e os seus juízos, e os seus estatutos que hoje te ordeno”. (Deuteronômio 8:11)

“Será, porém, que, se de qualquer modo te esqueceres do SENHOR teu Deus, e se ouvires outros deuses, e os servires, e te inclinares perante eles, hoje eu testifico contra vós que certamente perecereis”. (Deuteronômio 8:19)

“Os ímpios serão lançados no inferno, e todas as nações que se esquecem de Deus“. (Salmo 9:17)

Essas passagens mostram que o esquecimento de Deus não é simplesmente mais um pecado, mas é a raiz de todos os outros pecados, pois quem se esquece do SENHOR passa a seguir os falsos deuses (Deuteronômio 8:19) e deixa de guardar os mandamentos do único Deus verdadeiro (Deuteronômio 8:11). Por causa de nossa natureza pecaminosa, temos a tendência natural de esquecer (Números 15:39). Como a passagem de Êxodo explica, a Festa de Pães Ázimos era um instrumento de Deus para santificá-los do pecado do esquecimento, pois o objetivo da festa era fazê-los lembrar do SENHOR, da aliança com o SENHOR e dos mandamentos do SENHOR.

Para ser espiritualmente beneficiado pela festa, o crente deveria guardar a festa da maneira que Deus ordenou, não introduzindo suas próprias invenções, mas fazendo tudo “como o SENHOR ordenara a Moisés e a Arão” (Êxodo 12:28). O que significava guardar uma festa? Em primeiro lugar, significava se esforçar para que, durante os sete dias da festa, os pensamentos estivessem primariamente voltados para o assunto da festa. Se o objetivo da Festa de Pães Ázimos era fazê-los lembrar da aliança que o SENHOR firmou ao libertá-los do Egito, seria pecado participar da festa sem meditar na importância daqueles eventos históricos. Guardar uma festa significava, em primeiro lugar, voltar os pensamentos para o assunto da festa. “E Moisés disse ao povo: Lembrai-vos…” (Êxodo 13:3) Além disso, é importante considerar que, se o SENHOR instituiu a festa como instrumento para santificá-los do esquecimento, os dias de festa seriam os momentos do ano em que o Senhor ordinariamente operaria com mais eficácia para produzir arrependimento em seus corações, fazendo-os lembrar do SENHOR, da sua aliança e dos seus mandamentos.

Para ajudá-los a lembrar, o SENHOR instituiu, no caso da Festa de Pães Ázimos, dois dias de santa convocação: “E aos quinze dias deste mês é a Festa dos Pães Asmos do SENHOR; sete dias comereis pães asmos. No primeiro dia, tereis santa convocação; nenhuma obra servil fareis… ao sétimo dia, haverá santa convocação; nenhuma obra servil fareis“. (Levítico 23:6-8) A santa convocação era a “reunião solene” (Levítico 23:36, ARA) que costumamos chamar de “culto público”. Em Números, é dito que Deus mandou fazer duas trombetas para convocar o povo para a reunião:

“Falou mais o SENHOR a Moisés, dizendo: Faze-te duas trombetas de prata; de obra batida as farás, e elas te servirão para a convocação da congregação, e para a partida dos arraiais. E, quando as tocarem, então toda a congregação se reunirá a ti à porta da tenda da congregação“. (Números 10:1-3)

Como lemos também no profeta Joel:

Tocai a trombeta em Sião, santificai um jejum, convocai uma assembléia solene. Congregai o povo, santificai a congregação, ajuntai os anciãos, congregai as crianças, e os que mamam; saia o noivo da sua recámara, e a noiva do seu aposento”. (Joel 2:15-16)

Se o objetivo da Festa de Pães Ázimos era fazê-los lembrar da libertação do Egito, as santas convocações foram instituídas por Deus para que eles ouvissem sermões e fizessem orações voltados para o tema da festa. Os sermões seriam exposições do livro de Êxodo, enfatizando os capítulos que narram como a libertação do Egito aconteceu, e as orações também deveriam enfatizar o tema da festa – orações agradecendo pela libertação, orações pedindo forças para guardar a aliança, pedindo sabedoria para entender melhor os mandamentos, etc. E no tempo do rei Davi, Deus inspirou cânticos para que o povo cantasse sobre os acontecimentos da festa (cf. Salmo 105 e 106). Se o objetivo da Festa de Pães Ázimos era celebrar a libertação do Egito, as santas convocações eram o ápice da celebração.

Embora a Festa de Pães Ázimos durasse sete dias – do dia 15 ao dia 21 – o povo só se reunia para adorar a Deus como uma congregação no primeiro e no último dia da festa. E era somente nesses dois dias de culto público que eles eram probidos de trabalhar. Ou seja, durante a festa de Pães Ázimos, as pessoas poderiam trabalhar nos cinco dias em que não havia culto público – do dia 16 ao dia 20 – mas eles não deveriam trabalhar nos dias em que havia santa convocação. “No primeiro dia, tereis santa convocação; nenhuma obra servil fareis… ao sétimo dia, haverá santa convocação; nenhuma obra servil fareis” (Levítico 23:7-8). O mesmo padrão se repete em todas as festas. Sempre que houvesse um dia de santa convocação, aquele seria também um dia de descanso, um dia em que o trabalho era proibido: “Santa convocação; nenhum trabalho fareis” (Levítico 23:3, 7,8,21,35,36; Números 28:18,25,26; 29:1,7,12). Claramente, há uma relação entre culto e descanso.

Há duas razões para que dias de culto sejam também dias de descanso. Primeiro, simplesmente não dá para fazer com que as pessoas se reúnam com regularidade quando elas têm muitos outros compromissos. Ao proibir o trabalho no dia de santa convocação, a intenção de Deus era garantir que o trabalho não impediria as pessoas de estarem presentes no culto público. Além disso, quando considerarmos a natureza espiritual da adoração e dos elementos da adoração (João 4:24), torna-se evidente que não é suficiente que uma pessoa esteja fisicamente presente na assembleia. Quando nos apresentamos diante de Deus para adorá-lo – para buscar sua face, para ouvir suas palavras, para invocar o seu nome – precisamos nos achegar ao Senhor com um coração preparado (1 Samuel 16:7; Salmo 51:17; Isaías 57:15). É necessário algum período de tempo para preparar os nossos corações para receber de Deus no culto. Além disso, depois do culto, é necessário meditar nas verdades que foram ditas e ouvidas, é necessário tomar as medidas necessárias para que o desenvolvimento da semente não seja impedido por Satanás e pelos cuidados desta vida (Marcos 4:15, 19). Ou seja, para adequadamente participar dos benefícios espirituais do culto, nós precisamos de período de tempo livre além do tempo necessário para estar fisicamente presente no culto. Isso explica porque, na Bíblia, todo dia de culto público é também um dia de descanso.

Para ajudar o povo a manter seus pensamentos voltados para o assunto da festa, Deus instituiu duas cerimônias principais. A primeira era a obrigação de comer pães ázimos todos os dias. Por que pães ázimos? “…porquanto apressadamente saíste da terra do Egito), para que te lembres do dia da tua saída da terra do Egito, todos os dias da tua vida”(Deuteronômio 16:3). Quando Israel foi liberto do Egito, o povo não teve tempo para esperar o pão fermentar. Os pães ázimos, então, não deveriam ser ingeridos como alimento comum, mas como pães sagrados, como um instrumento de Deus para edificar o espírito ao fazer o povo lembrar da bênção da redenção. A segunda cerimônia eram as “ofertas queimadas ao SENHOR” (Levítico 23:8). O livro de Números dá mais detalhes sobre isso:

“Aos quinze dias do mesmo mês, haverá festa; sete dias se comerão pães asmos. No primeiro dia, haverá santa convocação; nenhuma obra servil fareis; mas apresentareis oferta queimada em holocausto ao SENHOR, dois novilhos, um carneiro e sete cordeiros de um ano; ser-vos-ão eles sem defeito. A sua oferta de manjares será flor de farinha, amassada com azeite; oferecereis três décimas para um novilho e duas décimas para um carneiro. Para cada um dos sete cordeiros oferecereis uma décima; e um bode, para oferta pelo pecado, para fazer expiação por vós. Estas coisas oferecereis, além do holocausto da manhã, que é o holocausto contínuo“. (Números 28:17-25)

Então, quando lemos em Levítico 23:8, “sete dias oferecereis oferta queimada ao SENHOR”, não devemos entender que eles podiam oferecer o que quisessem. A oferta era determinada pelo próprio Deus em Números 28:17-25. Em cada um dos sete dias de festa (v. 24), eles deveriam oferecer dois novilhos, um carneiro, sete cordeiros em holocausto ao SENHOR (v. 19). Um holocausto era o tipo de sacrifício em que o animal era completamente consumido pelo fogo (Levítico 1:9, 13). As ofertas de manjares (alimentos), e as ofertas pelo pecado deveriam acompanhar as ofertas queimadas. A oferta de alimento deveria ser “flor de farinha, amassada com azeite” (v. 20) e a oferta pelo pecado deveria ser “um bode” (v. 22). As mesmas ofertas tinham que ser oferecidas todos os dias durante a festa.

As principais características que vimos até aqui sobre a Festa dos Pães Ázimos são as principais características das festas de forma geral. Cada festa tinha um tema central, uma duração e determinadas cerimônias que deveriam ser observadas. Além disso, alguns dias de festa eram também dias de culto público, chamados de santa convocação ou assembleia solene. E todo dia de culto público era também um dia de descanso.

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