A Igreja Como o Santuário de Deus nas Profecias de Jeremias

Em outra passagem, explicamos que a ideia de que Igreja é o corpo de Cristo não tem origem no Novo Testamento. No Velho Testamento, o povo de Deus já era o corpo do Senhor. Nesta postagem, demonstraremos que o que Paulo ensina sobre a Igreja ser o santuário de Deus também não tem origem no Novo Testamento, mas é o cumprimento de uma profecia de Jeremias:

JEREMIAS 2
(1) E veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo:
(2) Vai, e clama aos ouvidos de Jerusalém, dizendo: Assim diz o SENHOR: Lembro-me de ti, da piedade da tua mocidade, e do amor do teu noivado, quando me seguias no deserto, numa terra que não se semeava.

No capítulo 1, o livro fala sobre como Jeremias se tornou um profeta e aqui, no capítulo 2, temos o registro de seu primeiro oráculo. Neste oráculo, que começa em Jeremias 2:1 e só termina em Jeremias 3:4, não devemos entender que Jerusalém é a cidade física. “Jerusalém” é uma forma de se referir ao povo pactual de Deus. Deus não manda Jeremias clamar aos ouvidos das pedras da cidade. Ele manda clamar aos ouvidos do povo. Além disso, a cidade física de Jerusalém não seguia o Senhor no deserto. Quem seguia o Senhor no deserto era o povo. É o povo que está sendo chamado de “Jerusalém”. O povo de Deus era a noiva do Senhor (v. 2).

A partir de Jeremias 3:5, há o que parece ser o início de um segundo oráculo: “Disse mais o SENHOR nos dias do rei Josias: Viste o que fez a rebelde Israel? Ela foi a todo o monte alto, e debaixo de toda a árvore verde, e ali andou prostituindo-se” (Jeremias 3:5). Aqui “Israel” também não é o território físico, mas é o povo, e, assim como no primeiro oráculo (Jeremias 2:1-3:5), o povo é comparado a uma mulher promíscua. Nesse segundo oráculo, Jeremias faz uma predição envolvendo a arca da aliança:

JEREMIAS 3
(15) E sucederá que, quando vos multiplicardes e frutificardes na terra, naqueles dias, diz o SENHOR, nunca mais se dirá: A arca da aliança do SENHOR, nem lhes virá ao coração; nem dela se lembrarão, nem a visitarão; nem se fará outra.

O que era a arca da aliança do Senhor? Lemos sobre ela pela primeira vez em Êxodo:

ÊXODO 25
(1) Então falou o SENHOR a Moisés, dizendo:
(2) Fala aos filhos de Israel, que me tragam uma oferta alçada; de todo o homem cujo coração se mover voluntariamente, dele tomareis a minha oferta alçada.
(3) E esta é a oferta alçada que recebereis deles: ouro, e prata, e cobre,
(4) E azul, e púrpura, e carmesim, e linho fino, e pêlos de cabras,
(5) E peles de carneiros tintas de vermelho, e peles de texugos, e madeira de acácia,
(6) Azeite para a luz, especiarias para o óleo da unção, e especiarias para o incenso,
(7) Pedras de ónix, e pedras de engaste para o éfode e para o peitoral.
(8) E me farão um santuário, e habitarei no meio deles.
(9) Conforme a tudo o que eu te mostrar para modelo do tabernáculo, e para modelo de todos os seus pertences, assim mesmo o fareis.
(10) Também farão uma arca de madeira de acácia; o seu comprimento será de dois côvados e meio, e a sua largura de um côvado e meio, e de um côvado e meio a sua altura.
(11) E cobri-la-á de ouro puro; por dentro e por fora a cobrirás; e farás sobre ela uma coroa de ouro ao redor;
(12) E fundirás para ela quatro argolas de ouro, e as porás nos quatro cantos dela, duas argolas num lado dela, e duas argolas noutro lado.
(13) E farás varas de madeira de acácia, e as cobrirás com ouro.
(14) E colocarás as varas nas argolas, aos lados da arca, para se levar com elas a arca.
(15) As varas estarão nas argolas da arca, não se tirarão dela.
(16) Depois porás na arca o testemunho, que eu te darei.
(17) Também farás um propiciatório de ouro puro; o seu comprimento será de dois côvados e meio, e a sua largura de um côvado e meio.
(18) Farás também dois querubins de ouro; de ouro batido os farás, nas duas extremidades do propiciatório.
(19) Farás um querubim na extremidade de uma parte, e o outro querubim na extremidade da outra parte; de uma só peça com o propiciatório, fareis os querubins nas duas extremidades dele.
(20) Os querubins estenderão as suas asas por cima, cobrindo com elas o propiciatório; as faces deles uma defronte da outra; as faces dos querubins estarão voltadas para o propiciatório.
(21) E porás o propiciatório em cima da arca, depois que houveres posto na arca o testemunho que eu te darei.
(22) E ali virei a ti, e falarei contigo de cima do propiciatório, do meio dos dois querubins (que estão sobre a arca do testemunho), tudo o que eu te ordenar para os filhos de Israel.

Aqui Deus mandou que Israel construísse um santuário. Essa santuário seria o lugar da habitação especial de Deus: “E me farão um santuário, e habitarei no meio deles” (Êxodo 25:8). E o lugar específico do santuário em que o SENHOR habitaria seria no lugar sobre a arca, no meio dos querubins, como muitas outras passagens deixam claro:

1 SAMUEL 4
(4) Enviou, pois, o povo a Siló, e trouxeram de lá a arca da aliança do SENHOR dos Exércitos, que habita entre os querubins; e os dois filhos de Eli, Hofni e Finéias, estavam ali com a arca da aliança de Deus.

2 SAMUEL 6
(2) E levantou-se Davi, e partiu, com todo o povo que tinha consigo, para Baalim de Judá, para levarem dali para cima a arca de Deus, sobre a qual se invoca o nome, o nome do SENHOR dos Exércitos, que se assenta entre os querubins.

2 REIS 19
(15) E orou Ezequias perante o SENHOR e disse: O SENHOR Deus de Israel, que habitas entre os querubins, tu mesmo, só tu és Deus de todos os reinos da terra; tu fizeste os céus e a terra.

SALMO 80
(1) «Para o músico-mor. Sobre Shoshanim Edute. Salmo de Asafe» Tu, que és pastor de Israel, dá ouvidos; tu, que guias a José como a um rebanho; tu, que te assentas entre os querubins, resplandece.

SALMO 99
(1) O SENHOR reina; tremam os povos. Ele está assentado entre os querubins; comova-se a terra.

Como essas passagens deixam claro, a arca representava o trono de Deus. O próprio SENHOR era representado pelo espaço vazio que existia entre as duas estátuas de querubins que ficavam nas duas extremidades da arca. Os querubins ficavam em posição de adoração, virados para esse espaço vazio: “Farás um querubim na extremidade de uma parte, e o outro querubim na extremidade da outra parte… as faces deles uma defronte da outra; as faces dos querubins estarão voltadas para o propiciatório” (Êxodo 25:19-20), isto é, viradas para baixo, em posição de reverência, na direção do espaço vazio. Ou seja, diferente dos falsos deuses dos gentios que eram representados por imagens, o Deus de Israel era representado sem imagens, literalmente por um espaço vazio. O simbolismo era que o santuário era o palácio de Deus e, dentro desse palácio, havia a arca, que era o trono do Deus invisível, que estava assentado sobre o trono como o Rei de Israel e de toda a terra. A arca da aliança era, então, o lugar da habitação especial do SENHOR. Tendo isso entendido, podemos entender a profecia de Jeremias:

JEREMIAS 3
(15) E sucederá que, quando vos multiplicardes e frutificardes na terra, naqueles dias, diz o SENHOR, nunca mais se dirá: A arca da aliança do SENHOR, nem lhes virá ao coração; nem dela se lembrarão, nem a visitarão; nem se fará outra.

Aqui Jeremias fala sobre um tempo futuro em que a arca da aliança deixaria de existir. Ela ainda existia no tempo de Jeremias, mas, em algum momento do futuro, não existiria mais. Mas a profecia de Jeremias não é simplesmente que a arca da aliança deixaria de existir, mas é que, tendo deixado de existir, ela seria reconhecida pelo próprio povo como desnecessária, “nem lhes virá ao coração; nem dela se lembrarão, nem a visitarão; nem se fará outra“. Os leitores originais do livro de Jeremias e o povo que ouviu Jeremias profetizar isso pela primeira vez sabiam muito bem o que a arca da aliança representava. Eles sabiam que a arca era o trono do Senhor, o lugar da sua habitação especial. Sendo assim, a profecia de Jeremias naturalmente suscitaria a seguinte pergunta: “Se a arca da aliança não será mais necessária, de que maneira, então, Deus passaria a habitar com o seu povo?” Jeremias responde no verso seguinte:

JEREMIAS 3
(16) Naquele tempo chamarão a Jerusalém o trono do SENHOR, e todas as nações se ajuntarão a ela, em nome do SENHOR, a Jerusalém; e nunca mais andarão segundo o propósito do seu coração maligno.

“Jerusalém” aqui também não é a cidade física. É o povo pactual de Deus. A profecia, então, é que Deus deixaria de habitar com o povo através da arca da aliança (v. 15) porque ele habitaria no próprio povo (v. 16). Jerusalém é chamada de “o trono do SENHOR” porque a arca era o trono do SENHOR e agora Deus habitaria no próprio povo em vez de habitar na arca. E quando ele diz “todas as nações se ajuntarão a ela, em nome do SENHOR, a Jerusalém”, o sentido é que o povo de Deus não seria mais formado somente por judeus, mas também por gentios. Ou seja, Jeremias estava profetizando sobre o tempo em que o santuário de Deus, isto é, o lugar da sua habitação especial, não seria mais um santuário físico; o santuário de Deus seria o próprio povo, e o povo de Deus seria formado tanto por judeus quanto por gentios. Foi exatamente sobre isso que o apóstolo Paulo escreveu:

EFÉSIOS 2
(11) Portanto, lembrai-vos de que vós noutro tempo éreis gentios na carne, e chamados incircuncisão pelos que na carne se chamam circuncisão feita pela mão dos homens;
(12) Que naquele tempo estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo.
(13) Mas agora em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes perto.
(14) Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, derrubando a parede de separação que estava no meio,
(15) Na sua carne desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças, para criar em si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz,
(16) E pela cruz reconciliar ambos com Deus em um corpo, matando com ela as inimizades.
(17) E, vindo, ele evangelizou a paz, a vós que estáveis longe, e aos que estavam perto;
(18) Porque por ele ambos temos acesso ao Pai em um mesmo Espírito.
(19) Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos, e da família de Deus;
(20) Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina;
(21) No qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor.
(22) No qual também vós juntamente sois edificados para morada de Deus em Espírito.

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